Os resultados de uma pesquisa do Ibope em parceria com o Instituto Unibanco mostraram recentemente que os estudantes do ensino médio público brasileiro perdem até 40% das oportunidades de aprendizagem na Escola, ou dias letivos.
O estudo aponta motivos circunstanciais e estruturais, mas tanto para professores quanto para alunos o que falta é interesse em uma prática educativa que não proporciona, como diz o educador Paulo Freire, nem boniteza nem alegria. Ensinar e aprender, registrou o mestre, não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.
O Brasil busca melhorias em Educação, é fato, mas boniteza e alegria nesse terreno ainda estão próximos da ironia ou da promessa de políticos e governantes em campanha eleitoral.
Mas há bons exemplos para inspirar professores e estudantes a ensinar e a aprender, como o de uma Escola de ensino básico de Hong-Kong, a St Paul's Convent School, que encontra jeitos muito especiais de envolver seus mestres e alunos com o conhecimento.
Um deles é ler poesias ao contrário, prática por trás da qual há aprendizados para toda uma vida: os professores ensinam e os jovens estudam com humor, aprendem a receber uma informação de forma ativa, agindo sobre ela, e também exercitam o pensamento flexível, essencial para a criatividade.
A Escola foi visitada por uma consultora da organização sem fins lucrativos FutureLab, com sede em Londres (Inglaterra), que apoia educadores com a pesquisa de práticas e ferramentas para melhorar o ensino. A motivação da especialista era saber por que a instituição mantém uma liderança de 10 anos em avaliações educacionais locais e internacionais.
A prática do poema reverso foi um dos pontos que chamou atenção. Ela é aplicada com o intuito de opor uma visão negativa a uma positiva, como neste exemplo, criado pelos estudantes:
Estou vivendo uma vida miserável/ E é tolice acreditar que / A vida é um fluxo interminável de esperança e chances; A vida é um fluxo interminável de esperança e chances/ E é tolice acreditar que/ Estou vivendo uma vida miserável.
A ideia embutida na lição é superar uma aprendizagem tradicional, passiva, colocando no lugar algo mais ativo e apropriado ao mundo atual. A Escola é dirigida há 19 anos pela mesma gestora, altamente carismática nas palavras da consultora da FutureLab e sempre disposta a adotar métodos inovadores em Educação.
O currículo reforça a prática da reflexão e de valores como alegria, simplicidade, trabalho duro e excelência. O foco do ensino, em qualquer conteúdo, é o treino de habilidades essenciais ao aprendizado, tais como persistência, controle da impulsividade, pensar de forma interdependente, questionar e colocar problemas.
Um tipo de lema é transmitido aos alunos: o de que tudo é possível e, por isso, eles devem ter aspirações elevadas. E para que tenham, o programa educativo oferece de tudo de discussões culturais e filosóficas a experiências na cozinha ou na tecnológica sala de aula do futuro.
A estratégia é mostrar aos aprendizes que todo mundo é bom em alguma coisa, todos podem encontrar algo de interesse especial ou desenvolver múltiplos talentos e ampliar suas experiências.
Lélia Chacon, in: Brasil Econômico (SP)
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