sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Resistências ao novo ensino

Compreende-se que os professores estaduais se mobilizem pelo piso nacional, que é um direito da categoria. Mas é difícil acolher os argumentos que sustentam a reação à anunciada reforma do ensino médio, transformada pelo magistério em um dos motivos determinantes da atual greve.
A reforma definida pelo governo procura conectar o ensino com as novas realidades, levando em conta a dispersão de conteúdos e, o que é mais importante, a exaustão do atual modelo.
Mesmo que a proposta necessite de aperfeiçoamentos e melhor divulgação, e que alguns pontos ainda sejam considerados controversos, a mudança estrutural dos currículos deve ser bem recebida pelo que representa, em seu conjunto, como inovação e adequação da Escola às demandas dos próprios estudantes e da sociedade.
É simplificador e enganoso argumentar, como tem repetido o Cpers, que o Estado estaria patrocinando um plano maquiavélico de adaptar o ensino médio às exigências do capital e do mercado.
Por esse raciocínio, a Educação formal perderia sentido como espaço da reflexão e do estímulo ao senso crítico e transformaria as Escolas públicas em meras formadoras de mão de obra.
Não há no projeto nada que justifique tal conclusão. A reforma indica, sim, que os currículos e as atividades Escolares, algumas desenvolvidas fora de aula, estarão mais próximos da realidade. Não há como ser contrário a iniciativas que estreitem a relação dos estudantes com o mundo real que enfrentarão depois de formados.
Por isso, é igualmente simplório suspeitar que tal conexão, via pesquisas e estágios, retire do estudante a possibilidade de vir a aspirar mais tarde a uma vaga na universidade.
O certo é que o ensino médio perdeu a capacidade de ensinar e de formar. Se não fosse assim, a evasão no primeiro ano não chegaria a assustadores 13%, e a reprovação média, em todo o ensino médio, a 21%.
A sala de aula deixou há muito de corresponder às expectativas e aos interesses dos próprios alunos, o que ajuda a explicar o abandono e o fracasso no aprendizado.
Mesmo assim, é preciso que o governo transmita com maior clareza o que pretende fazer. Que, ao defender a estrutura básica da reforma, não despreze as contribuições do próprio magistério e de especialistas em Educação. E que prepare o magistério para o novo ensino.

Zero Hora (RS)

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