quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Escolha de escola é prova difícil para os pais


Escolher a Escola ideal para matricular o filho exige, segundo especialistas em Educação, que os pais tenham um olhar atento para o dia a dia da família, conheçam suas expectativas em relação ao colégio e se informem se os valores familiares estão de acordo com os do espaço.

- Não adianta matricular em Escola tradicional e religiosa, com excelentes alunos, se em casa religião não tem peso e os pais são contra esse tipo de aula. E não ajuda pôr em Escola disciplinada, se em casa a criança não tem hora de dormir ou comer. A mensagem da Escola e a da família têm de ser a mesma - diz João Batista, presidente do Instituto Alfa e Beto.

- Antes de se decidir, os pais devem consultar famílias de alunos que já se formaram na Escola. E também as de estudantes matriculados. Conversar com a direção é válido, mas ouvir outras opiniões contribui para tirar dúvidas. E é preciso conhecer o projeto pedagógico, para comparar seus valores com os da Escola. Assim, a chance de acertar é maior - explica Ocimar Alavarsi, professor da USP.

Prestes a matricular a filha Joana, de 2 anos, numa pré-escola, o médico Ricardo Igreja e a mulher Mariana visitaram várias Escolas perto de casa, no Jardim Botânico, no Rio.

- Queríamos uma Escola ampla, na qual ela pudesse brincar, algo essencial nessa fase, e que nos permitisse continuar levando a Joana ao Jardim Botânico de manhã. Algumas pessoas se preocupam desde essa idade em escolher Escolas disputadas, mas para a gente é hora de a Joana ir para a Escola brincar.

CUSTO

Escolher a Escola correta passa também, de acordo com os especialistas, pela questão financeira. "É preciso ter recursos para pagar a Escola. Para isso, os pais têm que saber o custo total e não só da mensalidade. Matricular e comprometer boa parte da renda da família não é o melhor", diz Ocimar Alavarsi, da USP.

"Antes da matrícula, os pais precisam saber, por exemplo, se o colégio oferece viagens e passeios, que elevam o custo. E também quanto vão gastar com o material Escolar. Além de se os estudantes matriculados têm a mesma condição social, se o filho conseguirá participar dos programas, se vai ficar à vontade para levar os amigos em casa e se não se sentirá excluído", diz Quézia Bombonato.

PRÉ-ESCOLA

"Na pré-escola é bom se certificar se a criança terá espaço para brincar, para dormir, desenvolver a coordenação motora e ouvir histórias", diz Quézia Bombonato. professora da Faculdade de Educação da PUC-SP, Neide de Aquino Noffs alerta para a importância de poucos alunos em sala:

"Numa turma com crianças de 3 anos, o ideal é ter no máximo 15alunos. Isso garante o relacionamento aluno-professor e dá a oportunidade de umaEducação mais individualizada." Outro aspecto, segundo João Batista, precisa ser levado em conta: "Os pais devem conhecer crianças que passaram pelo colégio em que desejam matricular seus filhos e conversar com os responsáveis. Isso é importante para descobrir como foi a transição delas para o ensino fundamental".

FUNDAMENTAL I e II

"É importante saber se a Escola alfabetiza no primeiro ano do ensino fundamental, que é a série em que o professor é mais bem preparado para ensinar a ler e a escrever", diz João Batista, do Alfa e Beto. No entanto, nessa fase, os pais já devem se certificar se a Escola tem ou não uma filosofia compatível com a da família, dizem os especialistas.

"Crianças no 2º, 3º e 4º anos ainda dependem muito dos pais na hora de fazer a lição de casa. Então, se eles reclamam de ter que parar para ajudar, se acham desagradável deixar de sair por conta dessa tarefa, isso vai virar um atrito. As medidas disciplinares da Escola precisam ser levadas em conta, além da maneira como são resolvidos os conflitos entre os alunos.

Não adianta escolher um colégio que não é coerente com o que a família acredita", explica Quézia Bombonato. "Tem pai que matricula na Escola em que ele gostaria de estar. Mas vale lembrar que criança feliz se abre para o aprendizado", diz Sonia Wanderley, coordenadora do CAP-Uerj.

ENSINO MÉDIO

Professor da Faculdade de Educação da USP, Ocimar Alavarsi diz que os responsáveis devem se perguntar o que esperam do colégio: "A ideia é preparar para o vestibular? Então, vale consultar o desempenho da Escola no Enem. Ou é melhor que seja uma Escola que preza o bem-estar do aluno, que valoriza atividades artísticas? O colégio tem um alto índice de reprovação? Alguns pais odeiam isso e outros acham interessante.

É importante ter boas informações antes de decidir". Segundo Quézia, vale ficar de olho no perfil dos alunos já matriculados: "É uma fase em que agradar ao grupo de amigos é mais importante do que agradar aos pais. Então, vale saber com quem o filho vai passar a maior parte do tempo".

OPINIÃO DO ALUNO

Reprovado em Matemática, Química, Biologia e Filosofia, Daniel Teixeira Koisnam, de 16 anos, aluno do 2º ano do ensino médio do Centro Educacional Anísio Teixeira (Ceat), no Rio, convenceu os pais a tirá-lo da Escola. "Eu já havia sido reprovado na 7ª série e não tive escolha.

Mas, dessa vez, conversei com eles, expliquei que quero acabar logo o ensino médioe que seria melhor ir para um colégio com dependência, que me permitisse ainda me matricular na Escola de Música Villa-Lobos, já que quero ser músico, me aprofundar no estudo de violão e aprender piano. Estamos visitando alguns colégios, chegamos a pensar em supletivo, mas isso foi descartado. Para mim, foi bom ter sido ouvido, foi bom terem levado em consideração o que quero desta vez, já que estou mais maduro."

OPINIÃO DE MÃE

"Leonardo, meu filho de 10 anos, conclui o 5º ano do ensino fundamental este ano e terá que deixar a Escola montessoriana, onde está desde bebê. Ele nunca foi avaliado por provas e até hoje teve aula com um único professor. Mas, como vai para o 6º ano, achamos que era hora de matriculá-lo numa Escola tradicional. Procuramos uma que fosse perto de casa, que tivesse um olhar social, oferecesse atividades como teatro, música e dança e fosse espaçosa.

Achamos que não era a hora de colocá-lo numa espécie de vestibulinho para tentar vaga em colégios concorridos, e levamos em consideração a ida de quatro amiguinhos para a mesma Escola. Vai ser um período de adaptação para a gente, mas foi uma decisão bem pensada", conta Maria Helena Teixeira, professora de Matemática e moradora do Rio.

O Globo (RJ)

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