quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Escolas da América Latina precisam avançar no uso de novas tecnologias

 

Há cinco ou dez anos, era comum que os sistemas educacionais se preocupassem mais com o conteúdo de seus programas acadêmicos do que com a forma de transmiti-los aos alunos. No entanto, o boom tecnológico dos últimos anos, com a democratização dos computadores e a invasão dos smart-phones e tablets, causou um salto na rotina de inúmeras casas e terminou com o script tradicional da relação entre lares e escolas.
Essa realidade traduz o problema que se colocou na maioria das escolas públicas e, em alguns casos, privadas. Como os alunos fora do horário de aula mantêm, às vezes, um vínculo patológico com a tecnologia, as salas de aula tradicionais transformaram-se em espaços próprios do tempo das cavernas.
Levantamento feito em conjunto pelos 11 jornais do Grupo de Diários América (GDA), do qual O GLOBO faz parte, revela que, apesar de cada país estar num estágio diferente na corrida tecnológica, há problemas comuns em quase toda a região. Entre eles destacam-se o ainda baixo acesso a computadores e à internet nas escolas e a falta de capacitação dos professores para usar ferramentas tecnológicas.
No caso do México, por exemplo, de um total de 198.896 escolas públicas no nível básico — elementar médio e superior ou primário e secundário —, 84.157 têm computadores, de acordo com estatísticas do governo.
— No entanto, apenas duas de dez escolas estão conectadas à internet — afirmou Nurit Carballo Martinez, do jornal “El Universal”.
As mesmas estatísticas mostram que, até junho de 2011, havia um computador para cada 25 usuários no México.
Na Colômbia, o programa governamental “Computadores para a educação” — iniciativa responsável por proporcionar equipamentos, conexão, softwares educacionais e formação de professores em relação ao uso da tecnologia e da internet para o ensino — tem sido capaz de beneficiar mais de sete milhões de crianças em todo o país, em 28 mil escolas públicas. Porém, ainda existem oito mil escolas que sequer têm um computador.
Na Argentina, o quadro não é mais animador. Os últimos dados disponíveis no Ministério da Educação daquele país indicam que, em média, existem 40 alunos para cada computador nas escolas argentinas, e somente 29% têm acesso à internet. Enquanto isso, no Brasil a estimativa é de que a média seja de 23 computadores por escola e que, destes, 18 estejam em funcionamento para atender 800 alunos.
No Peru, onde a população escolar ronda os nove milhões, só 19,8% dos estudantes de educação primária usam a internet. O mais alarmante é o lugar de acesso: apenas 8,3% das pessoas a partir dos 6 anos o faz na escola. Outros 56,1% acessam a internet em cabines públicas e mais 36%, em casa. No Chile, 9.680 escolas recebem subvenção estatal para usar tecnologia. Ainda assim, só 22 mil dos 140 mil docentes do sistema público estão capacitados para tal.
O Brasil ilustra bem o problema da capacitação docente para usar a tecnologia. Pesquisa com mais de 1.500 professores, divulgada em 2011 e feita pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), revelou que, para 64%, os alunos têm mais conhecimento que eles sobre o uso de novas tecnologias de informação, e 28% ainda preferem os métodos tradicionais de ensino. A NIC.br é uma entidade civil que implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Um avanço considerado único na região foi o Plano Ceibal, desenvolvido pelo governo do Uruguai entre 2005 e 2010, que entregou um laptop a cada aluno das escolas públicas, maioria naquele país. Depois do projeto, quatro em cada dez lares com computador têm um do Plano Ceibal, o que significa 70% de penetração em nível nacional.
Segundo a consultoria Radar, entre 2001 e 2010 a inserção de PCs nas casas cresceu 85% em Montevidéu e 215% no resto do país. O acesso a um PC e à internet, no entanto, não está distribuído de maneira equitativa: em lares de nível socioeconômico mais alto, chega a 98%, e, nos de nível mais baixo, a 49%.
Fonte: O Globo (RJ)

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