quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Segredos do ensino exemplar

 

Das 20 Escolas do Ensino fundamental (anos iniciais e finais) mais bem posicionadas no Ideb, divulgado na terça-feira, 15 delas localizam-se em municípios de colonização alemã e italiana.
Ainfluência da colonização europeia pode auxiliar a compreender o desempenho das Escolas com melhores índices no Desenvolvimento da Educação básica (Ideb).
Das 20 Escolas do Ensino fundamental (anos iniciais e finais) mais bem posicionadas, 15 estão sediadas em municípios colonizados por italianos e alemães.
Outra coincidência é o tamanho das cidades. Com exceção de um colégio em Porto Alegre, outro em Santa Maria e duas Escolas em Bento Gonçalves, as outras 16 instituições funcionam em municípios com população inferior a 70 mil habitantes.
Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maria Carmem Barbosa salienta que uma análise mais profunda dependeria de mais informações acerca do funcionamento de cada Escola, mas destaca o papel dos colonizadores.
– Ao longo da história, alemães e italianos sempre deram importância para a Educação. A primeira coisa que as duas etnias fizeram quando chegaram ao Estado foi construir Escolas e igrejas – opina Maria Carmem.
Para a Professora, a pujança da rede federal, com Professores de alta qualificação, especializados e mais bem pagos, explica o destaque recebido pelas Escolas militares na Capital e em Santa Maria.
Com relação à população, Maria Carmem acredita que o convívio próximo entre as comunidades reduz as chances de abandono.
– É provável que haja menos evasão e repetência e mais colaboração entre as famílias – complementa.
Pesquisador e também Professor na Faculdade de Educação da UFRGS, Juca Gil salienta a importância étnica, mas relativiza o tamanho das cidades na interpretação do fenômeno. Gil sustenta que nem sempre as notas das Escolas em municípios pequenos ou médios coincidem com as avaliações de toda a rede.
– Provavelmente, as Escolas em destaque sejam históricas, mais centrais, enfim, Escolas de elite dentro dos próprios municípios. É preciso estudar melhor os casos – interpreta Gil.

Situação é de alerta no Rio Grande do Sul
Os dados do Ideb, divulgados na terça-feira pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), explicitam um quadro sombrio. Nos anos iniciais do Ensino fundamental, quase todos os Estados e o Distrito Federal superaram as metas. As exceções foram Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que apenas igualaram a meta – de 5,1. Nos anos finais do Ensino fundamental, o desempenho do Estado foi tímido. Além de não atingir o Ideb buscado, que era de 4,3, o resultado obtido, 4,1, iguala o registrado em 2009.

Professor valorizado e atividades extraclasse
O Colégio Militar de Santa Maria (CMSM) tem nota e estrutura de dar inveja a muitas Escolas e um currículo que privilegia atividades extracurriculares. Os Alunos têm aulas durante a manhã com as disciplinas curriculares. À tarde, funcionam os clubes, com orientação pedagógica para a prática de xadrez, além de estudos da astronomia, meteorologia, robótica e relações internacionais – de um total de 18 opções oferecidas a Alunos com bom desempenho Escolar. Os grêmios preparam os estudantes para ingresso em carreiras militares.
– Um dos caminhos é a qualificação dos Professores – explica o Coronel Antonio Eleazar de Moraes, diretor de Ensino do colégio.
A qualificação influencia na valorização dos Professores desde o salário inicial, com base na hierarquia para os Professores militares e no piso de carreira fixado pelo Ministério da Defesa para os Professores civis de cerca de R$ 5 mil. Em torno de 3,4% dos Docentes têm doutorado e 40,6%, mestrado. Simulados ajudaram na preparação para a prova do Ideb e na conquista da nota 6,8.

Profissionais, pais e alunos empenhados
Três pilares sustentam o resultado da Escola Municipal de Ensino fundamental Santa Cruz no Ideb. São eles: Professores qualificados, Alunos empenhados e participação dos pais e da comunidade de Nova Milano.
A Escola de Farroupilha, fundada em 1924 no berço da imigração italiana do Estado, mantém métodos de Ensino tradicionais. Tem uma boa e conservada estrutura física, apesar de funcionar em um prédio com mais de 50 anos. A receita do desempenho que alcançou média 6,8 não tem ingrediente especial:
– Fazemos o arroz com feijão, mas bem feito. O que faz a diferença é o conjunto: poder público apoiando, Professores engajados e o trabalho da comunidade – ensina a diretora Luciana Zanfeliz, Professora há 23 anos na Escola.
Quem prepara um feijão bem feito, além de polenta com molho, é Catia Simone Macedo, 38 anos. Sorte da filha Victória Macedo, 11 anos, aluna do 6º ano, que tem a comida da mamãe também na Escola. A merendeira estudou no colégio e, mesmo não morando mais em Nova Milano, fez questão de matricular as filhas na instituição e procurar emprego na comunidade. A estimativa é de que cerca de 20% dos Alunos venham de outras regiões da cidade. A Escola é disputada por conta da qualidade do Ensino. A filha de Catia dá mostras do engajamento:
– É como se a Escola fosse uma família, porque a gente sempre se ajuda. Eu quero fazer isso também quando crescer, porque a Escola vai continuar fazendo parte da nossa vida.
Para responder à prova do Ideb, os Alunos da Santa Cruz não tiveram preparo especial. Mas um currículo diferenciado desde o início da formação pode ter sido fundamental para os Alunos da 8ª série se saírem bem.
– Privilegiamos o português e a matemática em nossa grade. Somos uma Escola tradicional, mas modernizada, com informática, laboratório e outros recursos – revela a diretora.
“Nossa escola é a melhor do RS”
A alegria se espalhou no início da tarde de ontem pelos rincões de uma cidadezinha encravada nas montanhas entre Guaporé e Nova Prata, do noroeste gaúcho. Eram crianças que chegavam em casa depois da aula, aos gritos de “nossa Escola é a melhor do Rio Grande do Sul”: havia se espalhado a notícia de que Vista Alegre do Prata entrara no mapa do Ensino fundamental mais gabaritado do país.
Os sorrisos também ficaram escancarados nos funcionários da Escola Municipal Giuseppe Tonus. Mas havia um certo sarcasmo naquelas bocas entreabertas. Eles pareciam saber que isso um dia aconteceria.
Doze anos atrás, a construção da Escola havia abalado as comunidades rurais. Cada uma delas contava com pequenos estabelecimentos de Ensino, com um só Professor, responsável também pela limpeza e pelos serviços burocráticos. Eram liceus deficitários, mas amados pelos moradores. A prefeitura sentiu a amargura que se abateu sobre essa população. Assim mesmo, tocou adiante o projeto de centralizar a Educação em uma só Escola. Batizou-a com o nome de um dos pioneiros de Vista Alegre do Prata e tomou para si a missão de transformar a Educação em um orgulho da cidade.
O desafio era descomunal para um município de 1.596 habitantes, com poucas indústrias, basicamente rural. Ainda assim, a secretária municipal de Educação, Rosa Rigo Treviso, insiste que não houve mágica. Ano após ano, a prefeitura aplica mais do que os obrigatórios 25% do orçamento em Educação. Em 2009, foram 29%. Em 2011, quando os Alunos do quinto ano fizeram a Prova Brasil (que forma o Ideb), R$ 1.326.454,54 irrigaram o setor. Não parece fácil.
Apesar de a secretária de Educação insistir que não há mágica, existem, sim, alguns segredos. Além do investimento na área educacional, a secretaria não decide nada sozinha. Tudo passa pela comunidade Escolar. Outro trunfo é a continuidade dos programas educacionais. A base se mantém. Com isso, a Escola obtém evasão zero. Tem repetência zero. Tem nota 8,2 no Ideb do Ensino fundamental (nos iniciais), a melhor do Estado.
– É só colocar todo o dinheiro que é da Educação na Educação. Porque o que muda o mundo é a Educação – afirma a secretária Rosa.
Fonte: Zero Hora (RS)

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