Um estudo da consultoria Heidrick & Struggles – uma das maiores do mundo em contratação de executivos – mostra que essa fase dos estudos pode ser um problema para a formação de talentos brasileiros para o mercado internacional.
O Global Index Talent 2011 (Índice Global de Talentos, em inglês), elaborado pela consultoria, coloca a qualidade do ensino fundamental brasileiro na 35.ª posição num ranking de formação de futuros executivos que envolve 60 países.
Nesse ranking, o Brasil fica atrás de qualquer país desenvolvido e mesmo de outros emergentes, como Rússia (27.ª), Argentina (30.ª) e Coreia do Sul (33.ª).
Para especialistas, os números revelam um entrave para um país que avança em seu papel no mercado global. Na pontuação geral, o Brasil é o 42.º, atrás de Venezuela, Colômbia e Arábia Saudita. Experiência passada de mãe para filhos
Formada pela Florida International University, nos Estados Unidos, Lucia Koch está oferecendo aos três filhos a oportunidade que teve quando jovem: estudar no exterior. Casada com um alemão, ela diz que teve a opção de criar os filhos no Brasil, onde a família viveu entre 2004 e 2009, ou na Alemanha. A opção acabou sendo pela Europa.
Melhores particulares perdem para a média de Coreia do Sul e China
O economista Gustavo Ioschpe alerta que a deficiência de ensino não é uma exclusividade das escolas públicas. Para ele, os pais precisam abrir os olhos para a formação de seus filhos em colégios particulares.
Ioschpe explica que, na última prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), alunos das escolas particulares do Rio tiraram nota média de 55,5 pontos numa escala até cem. Isso significa que aprenderam metade das habilidades que poderiam.
“Os pais se enganam ao pensar que matricular seus filhos em colégios particulares garante a eles uma boa qualificação para o mercado global”, diz Ioschpe. Dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), elaborado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) com alunos de 15 anos, comprovam isso.
A nota em leitura dos estudantes dos melhores colégios particulares do Brasil – representados pelos 10% mais ricos – é inferior à de estudantes de renda média na Coreia do Sul, Hong Kong e Xangai (China).
Segundo a professora Maria Helena Guimarães de Castro, especialista em Educação e professora aposentada da Unicamp, vários fatores explicam a baixa qualidade do ensino particular.
Entre eles, formação ruim de professores, poucas horas de estudo, baixa cobrança de pais sobre os colégios, acomodação dos pedagogos das escolas e métodos pouco estimulantes de ensino.
Sócio das operações brasileiras da Heidrick & Struggles, Dárcio Crespi, um dos principais caçadores de executivos do país, explica que a qualidade do ensino básico deixa profissionais para trás na competição global. “Um ensino fundamental fraco se transforma em um ensino médio pobre e um ensino superior sofrível. É como uma bola de neve”, afirma Crespi.
Contraste
O advogado Maurício dos Santos, sócio de um escritório no Rio, percebeu essa diferença quando fez uma pós-graduação em Abu Dhabi e teve colegas de classe sul-coreanos.
“Os colégios asiáticos são exigentes e cobram muito seus alunos. Eles são diligentes, estudam a fundo. E existe também uma cobrança muito grande dos alunos e pais sobre a qualidade do que é ensinado. Não vejo isso aqui no Brasil”, avalia Santos.
Ele recentemente colocou as duas filhas para estudar em um colégio na Alemanha no período em que foi visitar a família de sua mulher, que é alemã. Ele se disse chocado com a diferença no nível de ensino. “Fiquei impressionado com o que um colégio alemão espera que uma criança de oito anos seja capaz de saber e responder. As escolas particulares de primeira classe no Rio não ficam acima de uma escola média na Alemanha.”
Na pesquisa da consultoria Heidrick & Struggles, o Brasil está melhor que China (39.ª) e Índia (50.ª) no ranking de qualidade do ensino obrigatório. Na verdade, China e Índia formam mais executivos de talento global que o Brasil. Mas como suas populações são muito grandes, esse desempenho acaba diluído.
O sociólogo Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, ex-presidente do IBGE, diz que nossa tradição escolar não é boa. “Existem exceções entre os colégios, mas a média das instituições está mais preocupada em preparar os alunos para a prova do vestibular.”
Gazeta do Povo (PR)
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