O aumento da jornada escolar, um dos investimentos mais caros que existem na Educação, não garante, por si só, a melhoria no aprendizado.
Com uma carga de 4 horas diárias e 200 dias letivos, o Brasil oferece, em tese, mais tempo em sala de aula para seus alunos do que a média de 793 horas por ano para alunos de 9 a 11 anos da rede pública dos países desenvolvidos.
Depois dessa idade, os países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ultrapassam o Brasil, com uma jornada média de 902 horas por ano no ensino médio.
Em seu relatório anual de Educação, "Education at a Glance", divulgado ontem, a OCDE não aponta uma relação direta entre o aprendizado e a jornada na rede pública, que varia de 748 horas por ano na China até 1.080 horas por ano na Itália, no ensino médio.
No ensino fundamental, aos 7 e 8 anos, a carga anual varia de 493 horas, na Rússia, até 972 horas na Austrália. Para a entidade, a jornada escolar depende muito da realidade de cada país.
- Só ampliar jornada não basta. Não adianta a gente aumentar o tamanho do prato se a porção for a mesma. O aumento da jornada, sem outras mudanças, pode ser contraproducente porque implica custos muito maiores, sem garantia de melhor qualidade - disse o especialista Cesar Callegari, integrante do Conselho Nacional de Educação.
O relatório da OCDE também traz análises comparativas entre as características do ensino em 34 países, inclusive o Brasil, e o desempenho dos alunos na prova do Pisa. Em Ciências, ficou claro que as melhores notas estão diretamente associadas ao ensino do conteúdo dentro da sala de aula.
No caso do Brasil, a pior nota média no conjunto analisado, apenas metade das 4,7 horas semanais gastas estudando essa matéria transcorreu em sala de aula. Na Finlândia, que teve a nota mais alta, o tempo de estudo é quase igual, mas 70% dele ocorre na classe. Com isso, o estudo aponta para a relativa ineficácia de "aulas complementares"
Em outra análise, o relatório concluiu que, entre os países desenvolvidos, não há relação direta entre o investimento cumulativo por aluno dos 6 aos 15 anos e o desempenho posterior do estudante na prova do Pisa de leitura.
No grupo de 34 países, o Brasil está em último lugar na nota média e tem nível de investimento semelhante aos demais lanterninhas: Rússia, Chile e México. Porém, entre os desenvolvidos, a variação é enorme.
A Coréia, com o melhor resultado no Pisa de leitura em 2009, investiu abaixo da média da OCDE. E Luxemburgo, em 29º lugar, investiu mais do que dobro da média.
"Isso não surpreende. Países diferentes podem investir os mesmos recursos na Educação, mas não nas mesmas práticas e políticas públicas. Isso explica o motivo de não existir uma relação direta entre o total gasto na Educação e o nível de desempenho dos alunos", diz o relatório.
O Globo (RJ)
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