sábado, 24 de setembro de 2011

Treinar para o ENEM pode não ajudar na formação integral

Os resultados do Enem 2010 (Exame Nacional do Ensino Médio) acabam de sair e mostram que o nível do estudante do ensino médio melhorou. Em um ano, a nota média subiu de 501,58 para 511,21. Inclusive, houve um aumento na participação deles. Em 2009, 45,8% dos alunos fizeram a prova; o percentual subiu para 56,4% em 2010.
O Exame parece estar trazendo resultados positivos, ao menos entre as escolas de ensino privado. Para variar, elas continuam sendo as melhores: considerando as escolas com maior número de alunos participantes, das cem melhores, 87 são particulares; entre as mil, 926 também o são. A maior parte concentra-se na região sudeste.
Sem novidades. A melhor educação formal está onde se faz investimentos, principalmente financeiros. E tem trazido grande preocupação às instituições privadas. Muitas delas, por terem rebaixado de posição de um ano para outro, por exemplo, perderam alunos e receberam severas críticas dos pais. Então, passaram a tomar atitudes para melhorarem... a nota do Enem.
Algumas se atrapalharam muito e a conduta foi a de apertar o cerco aos estudantes. Não usaram a nota para repensar sua prática. No entanto, não sei se ela é de grande valia para isso. Não acredito que uma prova realizada no final do ensino médio possa avaliar toda uma escola.
Mas algo é certo. As escolas estão preparando melhor seus alunos para fazerem essa prova, que tem características próprias. Agora, além de prepararem obsessivamente o aluno para o vestibular, preparam-no para o Enem. Não sei que benefício o estudante tem tido com isso. Ou o que representa para sua formação integral. Agora, eles são moldados para as duas situações.
Como criticar as escolas se é justamente isso o que os pais querem? Afinal, ingresso no vestibular e boa classificação nesse exame servem de propaganda para futuros alunos. É o que muitos pais procuram. Como se só isso bastasse.
Muitos pais têm usado o Enem como fator para escolher a escola dos filhos. Esse ano, porém, ele trouxe uma classificação diferente – informou o percentual de alunos participantes de cada instituição, são quatro categorias: de 75% a 100% dos alunos; de 50% a 74,9% ; de 25% a 49,9%; e de 2% a 24,9%.
Esse é um critério importante. Embora não seja obrigatório, participar do exame com seriedade revela não só a segurança daquela escola em relação ao desempenho de seus alunos, mas também a capacidade de envolvê-los numa situação que exige responsabilidade. Dão a cara para bater, enfrentam.
Mal ou bem, as escolas privadas estão se movimentando para conseguirem uma classificação melhor. Mas, e as escolas públicas? O que elas têm feito com esse resultado? Mesmo com o otimismo do ministro da educação, Fernando Hadadd, que considera que não há como o ensino público não ter melhorado, não parece ser essa a realidade delas, de acordo com os resultados.
Ser otimista é importante, mas a educação precisa de medidas práticas e eficientes, por vezes simples, para melhorar. A maior parte dos alunos do nosso país estuda em escolas públicas, não dá para viverem de migalhas.
Talvez a principal medida para melhorarem o ensino seja o de valorizarem o professor. Pagando-lhe salários adequados e exigindo deles um trabalho de qualidade, como as escolas privadas fazem. Os baixos salários acabam possibilitando outras coisas, como licenças ou faltas remuneradas, que o professor se sente no direito de usar, prejudicando o trabalho com os alunos.
Como disse, ser otimista é importante, mas em exagero pode cegar e impedir que se veja o óbvio. No caso, é que as escolas da rede pública andam de mal a pior.
G1

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