sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Parada Poética - 04

(Dia 02 de setembro - Dia do Repórter Fotográfico)

UM OLHAR INESQUECÍVEL

Aos jornalistas fotográficos

Vi a morte e não fiz nada!
Vi a vida entre os meus dedos
num trabalho jornalístico.
De que adianta um prêmio
por uma ação que não fiz?
Salvar uma vida ou...
fotografar uma morte?
Que fiz eu? Dever cumprido?
Falou mais alto o trabalho.
Perdi minha humanidade.

Sentada a espera do prêmio,
ante o olhar da plateia
que, sofregamente, aplaudia
as minhas fotografias
em cima do sofrimento,
de uma terrível agonia
da menina indefesa,
numa seqüência de horror.

Não consegui caminhar
para o prêmio receber.
Prêmio de um gesto covarde
como se fora heroína
de uma cena de cinema.
Fugi. Chorei copiosamente.
Senti vergonha de mim.

Se eu pudesse arrancar
da minha mente os cliques,
registrando, passo a passo,
o susto, o medo e a dor
de um ser tão frágil, tão doce...
Eu não a defendi.
Fotografei para sempre
um corpo caído ao chão,
um olhar inesquecível
de um pedido de socorro
que por ele nada fiz.

Heloisa Crespo
abril/2011

Participação no XIX CONCURSO DE POESIA E PROSA DA ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA, na categoria Poesia, em junho de 2011.

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