Desafios educacionais

Os problemas educacionais no Brasil são de tal gravidade que demandam inédita mobilização da sociedade a fim de melhorar o drama em sala de aula. Nos últimos dias, as dificuldades do ensino nacional ganharam destaque na imprensa.

Os diferentes graus de complexidade desses obstáculos merecem uma reflexão sobre o que realmente é mais importante para nossas crianças e adolescentes em idade Escolar.

No Distrito Federal, o Jardim de Infância da 404 Norte viu-se em meio a feroz polêmica em virtude de uma oração de agradecimento, realizada sem autorização ou conhecimento dos pais. Famílias indignadas protestaram contra a atividade, considerada nociva para a formação do caráter das crianças.

A poucos quilômetros dali, na região de Itapoã, uma das mais pobres e violentas do DF, os professores lidam com situações bem mais perigosas do que um agradecimento a Deus. Uma jovem de 13 anos foi apreendida com um revólver calibre 38 e sete munições na mochila, nas dependências da instituição de ensino.

“É uma Escola que tem dois anos e não conta com um telefone, não tem iluminação externa e o policiamento chegou há um mês. Estou estressada. Virou profissão de risco ser educador. Os professores choraram, ficaram com medo”, relatou uma professora do Centro de ensino fundamental Zilda Arns.

Outros indicadores são menos lancinantes do que a violência na Escola, mas demonstram de forma profunda a situação crítica do nosso ensino. Os dados divulgados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) expõem a fragilidade do futuro do país.

Praticamente 60% das crianças que cursam o terceiro ano fundamental não têm domínio de operações matemáticas simples, como soma ou subtração. No quesito leitura, 44% dos brasileiros em idade de alfabetização apresentam rendimento insuficiente.

Há diversas justificativas para resultados tão desalentadores: a formação deficiente de professores; a omissão dos pais; que pouco incentivam os filhos a estudarem e relegam esse papel à Escola; as profundas desigualdades sociais que dificultam um avanço educacional consistente.

A orientação espiritual das crianças é assunto da maior importância. Mas pode ser tratada dentro da premissa de que o Brasil constitui um Estado laico, com tradição católica e diversidade religiosa.

Seguramente é possível chegar a um consenso em relação aos limites da formação religiosa em sala de aula. O real desafio consiste em executar políticas públicas que levem o ensino brasileiro a metas relevantes, necessárias para as ambições nacionais.

Correio Braziliense (DF)