Após a divulgação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as análises começaram a aparecer. De forma quase automática, os holofotes se dirigiram para as escolas campeãs, e as sombras para outras tantas rebaixadas à segunda ou terceira divisão do campeonato.
Analisados, os dados divulgados podem responder perguntas. Então, que perguntas fazer? A primeira, que todos fazem, dado o movimento dos holofotes, é: o que as campeãs têm em comum?
De uma forma bem simplória, queremos ver o que fazem, fazer igual e, seguindo a receita, conquistar um resultado melhor. Podemos ter escolas só com rapazes. Que tal uma jornada de estudo que vai das 7h30 às 16h30, inclusive aos sábados pela manhã, sem que haja reclamação por parte dos alunos?
Também acatar a proibição do uso de adornos como piercings? Cumprir tudo isso garante alguma coisa? A receita é longa. Não faz parte da solução a importação de modelos.
Alguns imputam toda a conta às diferenças socioeconômicas. É verdade, mas essa é uma parte ou o início da história que vem sendo contada desde meados da década de 1960, quando James S. Coleman e seus colegas apresentaram os resultados de uma das maiores pesquisas já realizada nos Estados Unidos sobre oportunidades educacionais.
As relações encontradas não eram as que se esperavam. As variações entre as escolas quanto a seu financiamento, equipamentos e currículos também não pareciam explicar a variação no desempenho dos alunos, mas as diferenças socioeconômicas eram as responsáveis pelas diferenças no desempenho deles.
Essa conclusão parecia explicar tudo, mas o relatório Coleman foi o prenúncio de uma série de pesquisas que vieram desde então esmiuçando esse universo complexo, composto de diversas variáveis. Não existe um único fator que dê conta de explicar bons resultados. Não se trata, como o senso comum insiste em pensar, de: “Eu pago e volto no final para buscar o produto”.
Um fator que iguala e nos chama a atenção é a alta seletividade das escolas campeãs. Morei no interior de Minas e recebia o leite integral vindo direto da fazenda. Com a nata eu fazia manteiga. Algumas vezes não dava o ponto: se não coava direito e caía leite, a receita desandava, como se dizia no interior.
Dessa forma, não adiantava bater. Guardadas as devidas proporções, é mais ou menos isso o que acontece no Brasil. Há muitas escolas que só trabalham com a nata e tantas outras somente com leite, e todas precisam dar conta de fazer manteiga.
Ora, quando se tem a seu favor um alunado previamente selecionado (crème de la crème, a elite escolar); uma elite socioeconômica; estudantes com capital cultural herdado da família; um ambiente familiar rico em informações, livros; pais que valorizam os estudos; professores capacitados e bem remunerados; alunos com acesso aos bens culturais, entre outros diferenciais, me pergunto se não é injusto tributar à escola todo o mérito.
E aquelas escolas e seus professores que lidam com alunos carentes de grande parte desses diferenciais e ainda amargam as sombras da segunda e terceira divisão?
Acredito que, por tudo isso, cada escola, cada família e cada aluno, deve olhar realisticamente para suas possibilidades e limitações antes de atirar a primeira pedra.
Não temos como mensurar e lançar em um ranking aquilo que muitas escolas agregam aos alunos em termos de formação humana ampla. Enfim, estamos falando de uma Educação vista em complexidade, que foge de uma análise meramente quantitativa.
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