A teoria construtivista, que predomina na Educação brasileira, não é comprovada pelos estudos científicos feitos em diversos países ao longo dos últimos vinte anos.
As pesquisas, ao contrário, mostram que para uma alfabetização rápida e eficaz é essencial o desenvolvimento da capacidade de relacionar as letras aos sons correspondentes, o que ocorre mais facilmente quando as crianças recebem orientações claras sobre isso.
O tema é mais que oportuno num país onde metade das crianças chega ao 5º ano sem saber ler e escrever frases simples, segundo resultados da Prova Brasil. A situação é pior no Rio Grande do Norte, onde o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do 5º ano é de 3,4, bem abaixo dos 4,4 da média nacional.
"Não podemos continuar negando as evidências cientificas e acreditar que 50% das crianças brasileiras são incapazes de aprender a ler por serem pobres, que não haja nada de errado com nossos métodos", diz João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto (IAB), organizador do seminário.
"Os estudos mostram que pobreza não atrapalha alfabetização, mas estratégias equivocadas, sim. Não há razão para a escola pública não ensinar a ler aos 6 anos, como a privada. Não fazê-lo prejudica todo o desempenho escolar posterior, num mecanismo perverso de reprodução da pobreza".
Nos últimos 15 anos, governos de vários países (EUA, França, Inglaterra, Brasil e Portugal) criaram grupos de cientistas para estudar as melhores estratégias de alfabetização.
Professor da Universidade Livre da Bélgica e palestrante do seminário, José Morais integrou três desses grupos, inclusive do brasileiro.
Ele é categórico em afirmar que toda a pesquisa e experiência prática internacional mostram que compreender a relação entre fonema (som) e grafema (letra) é o primeiro passo para a alfabetização e indicam que essa aprendizagem depende de orientações e exercícios explícitos.
A outra palestrante, Tatiana Pollo, pesquisadora brasileira com doutorado premiado na Universidade de Washington, testou as fases da alfabetização previstas pelo construtivismo e constatou que não se verificam.
Seus estudos confirmaram, entretanto, a importância dos conhecimentos implícitos, ou seja, aqueles que as crianças adquirem pelo contato com a língua escrita já antes de saberem ler: "O contato com textos facilita a alfabetização, embora não substitua as orientações sobre os sons das letras", diz Pollo.
Por isso, os especialistas sugerem que se promova, desde a pré-escola, a leitura em voz alta para as crianças e a exposição visual delas a textos, além de exercícios lúdicos com rimas e divisão de palavras, para desenvolver a consciência dos sons da língua.
Na fase de alfabetização, a recomendação é intercalar exercícios de leitura e decodificação de textos simples com leitura em voz alta e contato visual com textos mais complexos.
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