Com cadernos e lápis nas mãos, alunos do Centro Educacional 03 de Planaltina (CED 03) anotam dicas sobre como ingressar no ensino superior. Um grupo de ex-alunos que passou no vestibular no último ano voltou ao colégio para dar aos novos o exemplo de que é possível ter sucesso e perseguir um futuro melhor.
Eles visitaram a escola ontem pela manhã para mostrar que o sonho de conquistar uma vaga na universidade não precisa ser exclusivo de quem estuda em escolas particulares.
Márcio da Silva Alves, 20 anos, aluno de ciências sociais na Universidade de Brasília (UnB), acredita estar cumprindo um dever com a sociedade, que paga impostos caros para garantir o acesso de poucos ao ensino superior público. “Eu tenho a obrigação de retribuir. É o mínimo que posso fazer”, afirma.
Só este ano, Márcio foi ao colégio três vezes para conversar com os alunos sobre as formas de ingressar em instituições de ensino superior. Uma das intenções da visita é passar a noção de que, apesar da desigualdade com relação a quem estuda em escolas privadas, não vale desistir.
“Você está na escola pública, mas pode usar sua capacidade para passar”, resume. Para ele, em colégios da rede pública o aluno não é muito cobrado e o ritmo com que o conteúdo é ministrado é lento. “Na escola particular, o professor é pressionado para ter resultados.
Então, ele trabalha com foco no vestibular. Na escola pública, é um tiro no escuro”, lamenta. Além de enfrentarem problemas recorrentes na rede pública de ensino, como falta de professores e infraestrutura ruim, os alunos esbarram na falta de informação e acabam perdendo oportunidades importantes quando terminam o ciclo básico da Educação.
Renato de Souza, 19 anos, conhece bem as limitações do colégio e as dificuldades que os alunos enfrentam quando saem de lá. “Depois do ensino médio, você tem que se virar. Não há incentivos nem políticas públicas que garantam a passagem do ensino médio direto para o ensino superior, como existe no exterior”, aponta. Ele liderou a palestra e contou com o apoio de outros quatro ex-alunos do colégio matriculados em cursos superiores.
Cerca de 40 estudantes do 3º ano do ensino médio puderam conhecer um pouco mais sobre programas como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Universidade Para Todos (Prouni) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que favorecem a entrada de alunos da rede pública de Educação básica no ensino superior. No Enem de 2009, 65 alunos do CED 03 de Planaltina obtiveram uma média de 531,81 pontos. A média nacional é de 500 pontos.
Incentivo
Renato ingressou este ano no Instituto Científico de Ensino Superior e Pesquisa (Icesp), como bolsista do Prouni, para cursar jornalismo. Voltar ao colégio é um incentivo importante. “É como se fosse uma semente que eu plantasse”, diz.
Como dica para quem pretende ter desempenho melhor no exame e em outros vestibulares, Renato ressaltou a importância de manter-se informado sobre os critérios de seleção dos programas federais.
Sugeriu também que os estudantes acompanhem o noticiário diária, pois temas da atualidade, como o terremoto no Japão e a crise econômica nos Estados Unidos, podem cair nas provas.
Maysa Gonzaga Ferreira, 17 anos, assistiu à palestra e está mais animada com a possibilidade de cursar ciências sociais na UnB. “É motivador, para nós, do 3º ano, principalmente”, aponta. A jovem pretende lecionar ou fazer pesquisas para Organizações não Governamentais (ONGs). “Tenho aquele velho ideal do jovem de querer mudar o mundo.”
O ex-aluno Douglas Costa, 17 anos, cursa ciências naturais no câmpus da UnB em Planaltina e reforça: “A escola tem muito potencial, mas não são mostradas aos alunos formas de entrar em faculdades públicas”. Ele explica que muitos alunos desconhecem detalhes técnicos das seleções e, por isso, perdem oportunidades, como a isenção de taxa para candidatos de baixa renda no vestibular.
Um dos objetivos de Douglas é mostrar a esses jovens que entrar para uma universidade pública ou até conseguir bolsas de estudo em instituições privadas não é um bicho de sete cabeças. “Basta eles acreditarem na própria capacidade”, resume.
Os alunos do CED 03 de Planaltina enfrentam outros problemas. O colégio foi inaugurado há 20 anos em uma construção provisória. No ano passado, alguns estudantes montaram uma força-tarefa para tentar resolver os problemas de estrutura do colégio.
O ex-aluno Lucas Coelho, 18 anos, conta que a pintura só foi renovada porque um antigo diretor conseguiu doações. A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) informou que a reconstrução da escola está prevista para o próximo ano. É preciso aguardar a aprovação do orçamento enviado para a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para definir prazos.
A diretora do colégio, Queti Diettrich, aponta problemas além da infraestrutura ruim, como a falta de professores. A escola está sem professor de artes para lecionar no período vespertino. Ela ressalta que a iniciativa de conversar com estudantes do ensino médio partiu dos próprios ex-alunos e incentiva a ajuda dos que “acreditaram no sonho e estão batalhando na universidade”.
Correio Braziliense (DF)
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