segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Educação não comove ninguém

Os problemas na área da segurança provocam reações fortes e rápidas de quem é alvo da situação de desacerto em gestões de diferentes governos. O assalto à porta de casa, o arrastão nos condomínios e restaurantes, o sequestro ou a bala perdida, tudo isso desperta a indignação sem demora. 
O mesmo tipo de revolta diante do fracasso do poder público não se verifica, porém, com a Educação. A bandidagem causa barulho e deixa rastros muitas vezes de dor – e essas coisas não passam batido.
Ao contrário, o descalabro com o ensino para crianças e jovens – um crime de proporções hediondas –, parece não comover ninguém. É uma tragédia silenciosa cujas dimensões demoram até para chegar ao conhecimento da maioria.
Os casos de sucateamento de Escolas representam aquilo que é mais evidente. Mas não só. Há carências de toda ordem, que vão do nível dos professores aos equívocos de metodologias que já envelheceram faz tempo.
Lamenta-se, no entanto, que, mesmo diante de imagens que mostram claramente essa Educação sucateada, a apatia não muda.
Quantas vezes, apenas nos últimos anos (ou nos últimos meses), não se noticiou a situação de alguma Escola a ser fechada, por falta de condições estruturais para funcionar? É de perder a conta, sem dúvida. É a rotina, em Alagoas e no resto do Brasil, com as exceções naturais – que em nada amenizam o quadro geral.
Alunos dividem a mesma carteira. Professores acumulam funções paralelas com as tarefas de sala de aula. Espaços inteiros interditados por risco de desabamento. Estudantes sentam no chão porque nem carteira para dividir com o colega existe. A lista de insultos à sociedade seria interminável. 
Sem falar na roubalheira pura e simples que prefeituras e governos, vez por outra, patrocinam contra a Educação. Já virou folclore o desvio de verbas que deveriam comprar a merenda. 

POTÊNCIA ATRASADA 
O começo do século 21 põe o Brasil como um dos emergentes com maiores condições de se transformar numa nova potência no mundo globalizado. 
Não se trata mais de delírio ou ufanismo. O tal de “Brasil Grande” deixou de ser uma fantasia autoritária; agora é uma realidade reconhecida pelos maiores especialistas e chefes de Estado.
Os sinais mais reveladores dessa transformação estão em todos os lugares, segmentos e camadas sociais. Há mais emprego e mais condições para o consumo. O carro, a casa, o computador, o lazer – todas essas coisas estão mais acessíveis.
Se a medida for o volume de reservas em dólar, o Brasil humilha até os Estados Unidos e outros gigantes. Como disse Lula, todo orgulhoso (com razão), hoje somos credores do FMI.
Parece que é só uma questão de tempo para que estejamos definitivamente no clube dos muito ricos. O capital internacional foge da crise em outros continentes e escolhe o paraíso tropical para se valorizar e gerar ainda mais riqueza.
O grande salto, contudo, ainda é um desafio descomunal. E isso ocorre justamente porque, entre outras coisas, continuamos a desprezar a Educação. Claro, no discurso todo burocrata, aqui e alhures, está pronto para uma “verdadeira revolução”.
Mas basta um índice para desmoralizar a retórica governista. Evasão e baixo desempenho do alunado são as marcas na rede pública. E não se deve esquecer do escândalo que é o tamanho do analfabetismo.
Diante de um problema tão grande, as respostas oficiais não passam de brincadeira. No País em que Escolas desabam e autoridades não conseguem garantir sequer a carteira e a merenda, o futuro continua incerto. Seremos a potência que sofre para somar dois mais dois.
Gazeta de Alagoas (AL)

Nenhum comentário:

Postar um comentário