sábado, 27 de agosto de 2011

Parada Poética - 03

O grande poeta argentino, Jorge Luis Borges, completaria esta semana 112 anos. Minha ex-aluna Luiza lembrou-me do poema Instantes, que muitos dizem de autoria de Borges, quando o utilizamos numa avaliação de Literatura Portuguesa, solicitando aos alunos que destacassem a presença de características do período árcade, principalmente as máximas latinas: carpe diem (aproveitar o dia), fugere urbem (fugir da cidade), inutilia trucant (cortar as inutilidades), locus amoenus (local ameno, tranquilo), aurea mediocritas (valorizar as coisas cotidianas). Bons tempos!!!
A nossa grande amiga e poetisa, Heloisa Crespo, também presta uma homenagem ao grande poeta.

INSTANTES

Se eu pudesse novamente viver a minha vida, 
na próxima trataria de cometer mais erros. 
Não tentaria ser tão perfeito, 
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. 
Seria menos higiênico. Correria mais riscos, 
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, 
subiria mais montanhas, nadaria mais rios. 
Iria a mais lugares onde nunca fui, 
tomaria mais sorvetes e menos lentilha, 
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata 
e profundamente cada minuto de sua vida; 
claro que tive momentos de alegria. 
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente 
de ter bons momentos.
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; 
não percam o agora. 
Eu era um daqueles que nunca ia 
a parte alguma sem um termômetro, 
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e, 
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, 
começaria a andar descalço no começo da primavera 
e continuaria assim até o fim do outono. 
Daria mais voltas na minha rua, 
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, 
se tivesse outra vez uma vida pela frente. 
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo.


UM MOMENTO COM BORGES
                                 A Luiza Miranda, Erivelton Ragel e Jorge Luis Borges

Revi o poema "Instantes".
Concordo quando ele diz
que se outra vida tivesse,
cometeria mais erros...

Não faria tanto esforço
pra fazer as coisas certas.
Não levaria a vida
com tanta seriedade.
Seria menos responsável,
mas não, irresponsável.
Menos ponderada, sim.
Sem dúvida, viajaria muito mais,
dançaria bem mais,
seria mais intolerante.

Correria riscos novamente.
E, mais uma vez, faria tudo
que eu fiz na minha infância:
nadaria no meu rio preferido,
andaria de cavalo de pau
e cavalo de verdade.
Tomaria banho na cachoeira.
Andaria descalça na grama,
molhada pela chuva.
Teria aquelas conversas
intermináveis com a minha avó.
Iria ao hipódromo aos domingos.
Ah, isso eu não mais faria.
As pistas não existem mais...
                                 Heloisa Crespo

Nenhum comentário:

Postar um comentário