sábado, 1 de setembro de 2012

Manter os alunos na escola é o maior desafio do Ensino Médio

O ensino médio brasileiro é uma fonte de frustração. Não apenas por seu resultado pífio nas avaliações feitas pelo governo federal – em dez estados houve regressão no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2009 a 2011, entre eles o Paraná –, mas também pela condenação de milhares de jovens a uma perspectiva modesta de vida e por reduzir a capacidade de desenvolvimento do país. É na fase em que passam para a vida adulta, enquanto cursam o ensino médio, que os jovens que vencem as deficiências do ensino básico decidem sair da escola. Dos 90% que chegam ao fim do ciclo, uma parcela pequena tem os conhecimentos básicos exigidos para uma vida profissional promissora.
Segundo estatísticas do movimento Todos pela Edu­cação, menos de 35% dos alunos do último ano do ensino médio atingiram o nível de conhecimento adequado em Português e Matemática para a série. Além disso, as notas do Ideb mostram que a média geral desta etapa é 3,7, enquanto a dos primeiros anos do ensino fundamental é 5. É com esse conhecimento que a maioria dos jovens encara o mercado de trabalho. “A escolaridade básica para o mercado hoje é o ensino médio. Se ele é comprometido, a capacidade de desenvolvimento do país também fica limitada”, diz Nilson Vieira Oliveira, pesquisador de políticas públicas do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.
Para os especialistas, o baixo desempenho pode, em grande parte, ser explicado porque o jovem não vê sentido em cursar o ensino médio e acaba, ao longo do caminho, dando prioridade ao trabalho. Os dados do questionário aplicado na Prova Brasil de 2009, exame que faz parte do cálculo do Ideb, mostraram que 60% dos estudantes da rede pública que iriam ingressar no ensino médio pretendiam trabalhar e estudar.
Durante a dupla jornada, as dificuldades são muitas. “A escola não fornece estrutura para isso. Faltam professores e mais bolsas do governo que ajudem a manter um estudante apenas na escola. Além disso, o currículo não é atrativo para o aluno, pois não ensina, por exemplo, a aplicar os conhecimentos na vida prática, como analisar um contrato de financiamento de um carro ou casa”, diz o consultor educacional Renato Casagrande.
Falta de identidade
Embora a pontuação das particulares no Ideb tenha sido superior à das públicas, o desempenho da rede privada ficou praticamente estagnado nos últimos anos. Os estudantes das classes média e alta, que não teriam necessidade de trabalhar, historicamente encaram o ensino médio apenas como uma porta de entrada para a universidade. Ou seja, o aluno ingressa nessa etapa pensando que precisa memorizar os conteúdos para ser aprovado no vestibular.
Este é o caso da estudante do 1.º ano do Colégio Acesso Joyce Gabriele dos Santos de Souza, 14 anos. Pela primeira vez em escola privada após cursar todo o fundamental na rede pública, ela estuda com o objetivo de ingressar no ensino superior daqui a três anos. Embora suas notas tenham caído em relação às da etapa anterior, ela acredita que o conteúdo que aprende é focado para um bom desempenho no vestibular, que, independentemente do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ainda existe em muitas instituições do país. “Agora é muito mais puxado, requer mais concentração e mais responsabilidade porque meu desempenho agora vai refletir lá na frente, na conquista do curso superior”, avalia.
Modernizar o currículo é uma das saídas
Por causa do baixo desempenho do ensino médio no Ideb 2011, o governo federal retomou a proposta de alterar o currículo dessa etapa e dividir as 13 disciplinas obrigatórias em grandes áreas. O debate, que começou em 2011 pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), sugere a mudança baseada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que está dividido em quatro grupos: Matemática, Linguagens, Ciências Humanas e Ciências da Natureza.
O consultor educacional Renato Casagrande diz que a ideia é uma boa alternativa, desde que venha acompanhada de uma melhor formação dos professores. “Não adianta mudar currículo sem professor que dê conta de ensiná-lo. Pelo menos um curso de capacitação para os docentes precisa ter.”
Escolha
Em países com bons modelos desta etapa do ensino, como nos Estados Unidos, por exemplo, o aluno pode escolher algumas disciplinas que quer cursar e assim focar na área de interesse. Para Casagrande, essa seria uma boa medida para se adotar aqui, como forma de aumentar o interesse pelo conteúdo.
Porém, para a professora do Departamento de Educação da Universidade de Campinas (Unicamp) Márcia Malavasi, de nada adianta uma mudança curricular sem alteração de estrutura, tanto de espaço físico como de corpo docente, e ajuda financeira para que o estudante não precise abandonar a escola para trabalhar. “Mesmo que o interesse aumente, se ele não tiver dinheiro para fazer o percurso entre casa, trabalho e escola, não adianta”.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)

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