Tenho falando do abandono da educação brasileira há anos. Do ano passado para cá, intensifiquei o foco, escrevi vários artigos sobre o tema, porque a situação tem se agravado, não só pelo resultado constatado na aprendizagem dos estudantes, mas pelo estado cada vez mais precário das escolas públicas e do descaso para com os professores. Além disso, nos últimos anos foram feitas modificações no sistema de ensino – alfabetização, ensino da matemática, etc., que ao invés de melhorar a educação, prejudicaram ainda mais os estudantes do ensino fundamental, que estão chegando ao terceiro, quarto ano sem saber ler e escrever. E isso reflete nas etapas seguintes, é claro, no ensino médio e também no superior, pois se a base não é boa, todo o resto estará perdido.
A União e os Estados – o Ministério da Educação e as Secretarias de Educação – não estão dando a devida atenção à educação, não estão investindo na educação. Parecem não se dar conta de que um ensino de qualidade é condição sine qua non para que tenhamos, mais adiante, pessoas educadas e qualificadas para trabalhar e ter uma vida digna, para que tenhamos profissionais qualificados e dirigentes preparados, com um mínimo de cultura para desempenharem um bom governo à frente do país, dos estados,dos municípios, das grandes empresas.
Vendo e sentindo essa situação, evidenciada ainda mais com o resultado do Ideb, a sociedade gaúcha e catarinense está se mobilizando para identificar os problemas e encontrar soluções, chamando os gestores da educação – o MINC e as Secretarias de Estado da Educação – e os detentores do poder dos estados e municípios, para participar da discussão. Trata-se da campanha “A Educação precisa de respostas”, lançada neste final de agosto.
As primeiras perguntas já foram lançadas no primeiro debate realizado em Porto Alegre, quando o ministro Mercadante, da Educação, esteve presente. Ele próprio admitiu que o professor precisa ser melhor qualificado e mais valorizado. Admitiu, ainda, aquilo que temos repetido várias vezes: mais de um terço das crianças do inicio do primeiro grau, com oito anos, não aprenderam a ler e escrever, o que compromete, como já dissemos, toda a vida escolar.
Então ele concorda e sabe que o ensino fundamental e médio estão com a qualidade bem abaixo do necessário. Mas volta a insistir numa modificação no Ensino Médio que, ao invés de melhorar a qualidade, pode comprometer ainda mais. Ele quer que as treze disciplinas do Ensino Médio sejam aglutinadas em apenas quatro áreas, porque a excessiva quantidade delas estaria prejudicando o rendimento dos estudantes. Como já disse, isso é temerário, porque o que parece, na verdade, é que estão querendo diminuir o conteúdo curricular para que os estudantes possam tirar melhores notas no Enem e, por conseguinte, que a educação brasileira melhorou.
A mudança no Ensino Médio não será um tiro pelo culatra, como já foram outras “reformas” feitas no famigerado governo Lula? Essa é uma das muitas perguntas que também terão que ser respondidas.
A verdade é que, com o ensino deficiente, a qualificação para o trabalho e para o ensino superior estará prejudicada, como o próprio ministro conseguiu enxergar. E como isso é uma bola de neve, a formação de professores, como de outros profissionais, também não terá a qualidade desejada, pois o ensino superior é a última etapa da cadeia educacional.
Então o governo, a União, sabe o estado deplorável em que se encontra a educação brasileira. O que precisa fazer é responder todas as perguntas sobre os entraves que jogam a qualidade do nosso ensino cada vez mais para baixo e começar a investir para melhorar a qualificação de nossos professores – e de outros profissionais -, na melhoria das instalações das escolas públicas, assim como equipá-las adequadamente e pagar dignamente os professores.
Sempre defendi que os professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental devem ser os mais bem pagos – por isso devem ser altamente qualificados – pois a base de tudo é o começo, o inicio da jornada para aquisição de conhecimento, de educação e para a formação de caráter. Não que os outros professores não devam ser reconhecidos, mas se começarmos valorizando aqueles lá do inicio da cadeia, todos os outros serão, consequentemente, bem qualificados e bem pagos. Se o ensino tiver qualidade, os educadores formados com ele também terão qualidade.
Luiz Carlos Amorim, escritor, in: A Gazeta (MT)
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