A má formação dos estudantes do ensino básico (fundamental e médio), que o Ideb só veio confirmar, tem repercussões extremamente negativas no ensino superior. O Brasil tem demonstrado péssimo desempenho em todos os testes internacionais e se situa próximo à 50.ª posição nos exames do Pisa (organizado pela OCDE, Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que são aplicados a estudantes do ensino básico em aproximadamente 60 países.
As políticas de expansão das vagas no ensino universitário esbarram na falta de preparação de uma parcela grande dos egressos do ensino médio.
Com a exceção de algumas instituições de nível elevado, inclusive internacionalmente falando, e altamente seletivas, a maioria das instituições de ensino superior recebe estudantes mal preparados e, como diz o professor Vincent Tinto, da Universidade de Syracuse nos EUA e especialista nos estudos de evasão: “O grande problema dos estudantes que ingressam nas universidades americanas não é a falta de domínio dos conteúdos, mas a dificuldade de pensar por si mesmos.”
Por causa dessa má formação dos egressos do nosso ensino médio, a grande maioria das instituições de ensino superior cada vez mais se defronta com duas alternativas: ou recusam estudantes sem formação e ficam com muitas vagas ociosas e, se forem privadas, com dificuldades para se viabilizar financeiramente; ou são forçadas a baixar o nível de dificuldade de seus cursos e/ou a criar programas de nivelamento (que se tornam indispensáveis em razão do nível do ingressante). Tais programas, dependendo de sua intensidade e duração, podem atrasar o desenvolvimento curricular dos cursos e onerar a instituição, mas ao menos fazem com que as disciplinas dos primeiros anos possam ser minimamente acompanhadas por esses alunos.
O Brasil tem proposto vários projetos para ampliar o número de estudantes no ensino superior, com a abertura de vagas públicas e programas específicos de financiamento e de inclusão. No entanto, a quantidade de estudantes que se forma no ensino médio é a mesma dos ingressantes no ensino superior, o que demonstra que os grandes gargalos para a ampliação do ensino superior, como já se sabe há muito tempo, são: a formação precária dos estudantes do ensino médio, a grande evasão nesse nível de ensino e a limitação dos programas de financiamento e de bolsas aos estudantes (que tem impacto maior no setor privado, mas também afeta o setor público).
Pensar que é possível ter um ensino superior de Primeiro Mundo com um ensino básico de Terceiro é a mesma coisa do que começar treinar pessoas somente a partir dos 20 anos para que elas se tornem atletas olímpicos de sucesso. Sem uma formação ampla e de base nenhum país terá sucesso nas Olimpíadas. O mesmo se dá com a educação.
Roberto Lobo, in: Estadão.edu
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