quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Três ideias para virar o jogo no Ensino Médio

Etapa da educação básica com o pior desempenho em todo o país, o ensino médio precisa ser reformulado. O próprio governo federal reconheceu essa necessidade depois da divulgação dos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), no último dia 7. Em uma escala de 0 a 10, o Brasil conseguiu alcançar apenas a tímida meta traçada para 2011, de 3,7.
Em 11 Estados, a meta nem mesmo foi alcançada. É o caso do Espírito Santo, que registrou um Ideb de 3,6, quando o desempenho esperado era de 4,1. A situação é crítica tanto na rede pública quanto na particular. Mas o que precisa ser feito para mudar essa realidade? A GAZETA ouviu três especialistas em educação e ensino médio, além de alunos da rede pública estadual para saber o que eles têm a propor.
A maioria deles defende uma tese central: o ensino médio precisa se readequar para atender às expectativas dos jovens. “Temos uma escola do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI”, resume Mozart Neves Ramos, membro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Falta “base”
A mudança, porém, deve começar no ensino fundamental, já que as notas dos alunos começam a cair nessa etapa. É o que também defendem os alunos. No Colégio Estadual, em Vitória, Thayna Quirino, 17, aponta: “A gente não tem base para ter um ensino médio ‘puxado’ com o pouco que aprende lá atrás”, alega.
Diante das notas do Ideb, o governo chegou a anunciar, na última semana, que vai discutir um novo projeto para valorizar o ensino médio. A proposta quer fazer funcionar a ideia de trabalhar as tradicionais disciplinas em quatro áreas de conhecimento (ciências humanas, da natureza, linguagens e matemática).
O coordenador geral da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, Daniel Cara, porém, critica a medida e lembra que já existe uma proposta de mudança de currículo elaborada, à espera de ser efetivamente implementada: o Ensino Médio Inovador.

Programa
“As escolas onde funcionam os projetos pilotos do programa (criado em 2009) ainda nem foram avaliadas e o novo ministro já fala em elaborar uma nova proposta. É preciso acabar com a lógica de descontinuidade das políticas públicas e colocar em prática aquilo que já foi aprovado”, defende.
Melhoria do ensino fundamental, reestruturação da identidade do ensino médio e investimento na gestão escolar são as principais soluções apontadas por eles. Confira as opiniões.
As ideias dos especialistas
1 - Melhorar o ensino fundamental - Mozart Neves Ramos, Membro da Câmara de Educação Básica do CNE
O problema: O baixo desempenho educacional brasileiro não começa no ensino médio. Ele tem início a partir do momento em que o aluno entra nas séries finais do ensino fundamental (5ª a 8ª série), quando o número de disciplinas e de professores aumenta nas salas de aula. O currículo se torna multidisciplinar e multifacetado, mas o Brasil não tem tecnologia para ensinar nesse modelo. O ensino médio é apenas a “ponta do iceberg”, onde o problema mais aparece, mas não onde começa. Seja na escola pública ou na particular, ele recebe alunos egressos do ensino fundamental já com baixo nível de aprendizado. A situação precisa ser revertida antes.
A solução: Para mudar a realidade é preciso organizar as disciplinas nas séries finais do ensino fundamental para que elas se tornem compreensivas aos alunos e investir nos professores. Dar tempo para que eles planejem aulas interdisciplinares e oferecer salários que permitam à escola ter um corpo docente próprio, dedicado integralmente a ela. Nos Estados onde há escolas de ensino fundamental atendidas também pela rede estadual é preciso unificar os currículos, evitando que distorções ocorram no futuro, quando o aluno vai para o ensino médio.
2 - Reconstruir o ensino médio - Daniel Cara, Coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
O problema: A forma como o ensino médio está colocado hoje é pouco atrativa para o jovem. É preciso reconstruir a sua identidade e reformular o currículo. A estrutura física e pedagógica das escolas de hoje não atendem aos anseios dos alunos. O número excessivo de disciplinas e de conteúdos que, muitas vezes, não encontram relação com o mundo tornam o aprendizado desinteressante. Para garantir a permanência na escola, os conteúdos e a forma de ensinar devem estar de acordo com o que os alunos querem: seja a preparação para o mercado de trabalho, para a universidade ou simplesmente para aprofundamento dos conhecimentos.
A solução: O governo federal já elaborou, com a participação da sociedade, uma proposta de reformulação do ensino médio, em 2009. É o programa Ensino Médio Inovador, que prioriza a integração de disciplinas em áreas de conhecimento e prevê a possibilidade de que as escolas trabalhem com apenas um eixo central de conteúdos. Agora, é preciso que união, Estados e municípios deem continuidade a essa política pública e que o governo federal ofereça assessoria técnica às redes de ensino para que o programa seja implantado efetivamente. Ele é extremamente possível e viável. Basta fazer.
3 - Implementar gestão de qualidade nas escolas - Ricardo Henriques, Superintendente executivo do Instituto Unibanco
O problema: O Brasil tem pouca cultura de gestão escolar. Ela é vista, normalmente, como secundária pelos gestores que, muitas vezes, não têm qualquer experiência e informação sobre o assunto. A gestão afeta direta e indiretamente o desempenho dos alunos, principalmente no ensino médio. Uma boa gestão é capaz, por exemplo, de fornecer aos professores o tempo necessário para planejamento das aulas, identificar as necessidades de cada um para desenvolver os conteúdos das disciplinas e até mesmo para criar um clima escolar melhor. Os gestores devem saber planejar financeira e pedagogicamente uma instituição de ensino.
A solução: A longo prazo, os currículos dos cursos de licenciatura de universidades e faculdades precisam passar por uma mudança estrutural, para que a gestão escolar seja efetivamente um componente curricular a ser ensinado. A curto prazo, as redes de ensino devem oferecer cursos de formação de gestores para o seu quadro de funcionários e fornecer materiais com metodologias auxiliares de implantação da gestão. Também é preciso melhorar o processo de seleção de diretores, reduzir as indicações aos cargos de direção e oferecer formação inicial para quem é aprovado nos concursos. 
Gazeta On Line

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