segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Abismo separa escolas públicas das particulares

A qualidade do Ensino Médio na rede pública ainda está anos-luz atrás da rede privada na corrida pelo acesso à universidade, numa distância que impõe um verdadeiro abismo para o estudante de baixa renda conseguir realizar o sonho de cursar o ensino superior.
Os contrastes se revelam mais evidentes na preparação para o vestibular, quando as diferenças chegam a intimidar os alunos de escola pública até a fazer a inscrição.
Nessa reta final de preparação, a reportagem do Diário de Natal visitou uma escola pública e outra privada e constatou as disparidades: enquanto o aluno da escola privada investe uma média de R$ 800 por mês em preparação, o da escola pública tem, no máximo, o necessário para o seu deslocamento até a escola e convive com problemas sérios que comprometem o aprendizado e põem em risco a conclusão do ensino médio, podendo até impedir a matrícula na universidade.
A falta de perspectiva do estudante da rede pública, com relação ao ensino superior, pode ser constatada nos próprios números expostos pela Secretaria Estadual de Educação (SEEC). É grande a distância entre o número de estudantes que ingressam no ensino médio e os que o concluem no tempo previsto.Eles se perdem entre reprovação e abandono escolar devido à necessidade de trabalho e as próprias deficiências da escola pública. 
Segundo os números fornecidos pelo setor de estatísticas da SEEC, de 61.353 alunos que ingressaram no 1º ano do ensino médio em 2010, apenas 39.458 conseguiram chegar ao 2º ano em 2011, o que corresponde a 64% do total, ou seja uma redução de cerca de 36%.
Os mesmos dados mostram que de 46.585 estudantes que se matricularam no 2º ano em 2010, um total de 33.450 chegaram ao 3º ano, representando cerca de 71%, ou uma queda de 29%.
Somando as reduções nas matrículas, do 2º ao 3º ano, que chegam a assombrosos 27.903 alunos a menos, o percentual de 45,48% pode ser entendido como abandono ou reprovação. Ou seja, apenas 54,52% dos alunos do ensino médio das escolas estaduais conseguem chegar ao último ano do ensino médio.
Resta saber quantos desses alunos chegaram a concluir o ensino médio e, consequentemente, efetivaram inscrição no vestibular da UFRN.
Essa é uma estatística difícil de saber, pois nos relatórios da Comperve consta apenas o número de alunos oriundos de escolas públicas, incluindo numa só estatística as unidades de ensino estaduais e também os Institutos Federais de Educação Tecnológica (IFRN), além da Escola Agrícola de Jundiaí (da própria UFRN), que são referência em aprovação no vestibular, o que termina por mascarar a realidade.

Greves atrapalham
Não bastasse a baixa qualidade da aprendizagem desde o ensino fundamental já confirmada pelos sistemas de avaliação brasileiros, a greve de 90 dias dos professores da rede estadual foi o que mais contribuiu para selar o desânimo nos concluintes da rede pública.
Sem aulas durante um longo período e sem ter acesso a nenhum cursinho da cidade, o estudante segue tomando como norte a própria sorte e sentindo-se despreparado para concorrer com quem tem uma grande bagagem de conteúdo, cujas escolas oferecem toda estrutura pedagógica com uma rotina ininterrupta de aulas e com o foco direcionado para a aprovação nos exames.
Wagner e Mariana, privilégio de estudarem em escola privada Mas independente da paralisação dos professores, o ano letivo para muitos concluintes do ensino médio já estava também prejudicado em função do déficit de professores em várias disciplinas.
Nem mesmo a contratação de professores temporários e estagiários sanou o problema na rede estadual, principalmente em matérias de cálculo.
Um déficit que ultrapassa a casa dos quatro mil profissionais, enquanto a escola particular possui um quadro formado de professores e com todo conforto e estrutura física necessárias, contando com os mais diversos recursos audiovisuais e laboratórios que ajudam o aluno a vivenciar as disciplinas e aperfeiçoar o raciocínio lógico. 
Para amenizar a situação de deficiência de conteúdo dos concluintes devido à greve dos professores, o governo do estado fez parceria com universidades, que abriram vagas em aulões para 460 alunos concluintes.
Diário de Natal (RN)

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