Professor da Faculdade de Educação da USP, Vitor Henrique Paro diz que "na nossa cultura, por desconhecimento, por ignorância, a reprovação se tornou parte da Educação":
- O senso comum acredita que, se não tiver reprovação, o aluno não estuda. Parte do pressuposto que fazer estudar é reprovar. Então, a criança não vai à escola para aprender, mas para passar de ano. Para mim, reprovar no ensino fundamental não tem o menor sentido.
Não é no que acreditam Isabel Rodrigues Monteiro, coordenadora de segmento do 6º ao 9ª ano, e Denize Peterson, orientadora educacional, do Cruzeiro.
- Acompanhamos aluno por aluno. Conversamos com os que têm dificuldade, sabemos se passam por um momento difícil, chamamos a família, orientamos, oferecemos aulas extras. Mas nem sempre é possível resgatar o aluno e evitar a reprovação.
Então, quando acontece, tomamos cuidado para que ele não se sinta menosprezado, buscamos mostrar no que ele se destacou e o acolhemos na volta às aulas. Por conta disso, a gente diz que, para ser positiva ou negativa, a reprovação depende de como é tratada pela escola - diz Isabel, lembrando que os alunos do Cruzeiro são jubilados se repetirem duas vezes a mesma série.
Uma das dez primeiras escolas no ranking nacional do Enem, o Vértice só permite que o aluno seja reprovado uma vez. Quem repete duas vezes não pode renovar a matrícula.
- Ninguém fica feliz quando é reprovado. Mas aí uma tia chama para contar que repetiu, mais gente da família vem conversar. Aí, a gente vê que repetir não é o fim do mundo, e consegue se recuperar - diz Bruna Akinaga Moreira, de 16 anos, aluna do Vértice, reprovada no ano passado, no 1º ano do ensino médio.
- Se a retenção puder ser evitada, é melhor. Mas às vezes é inevitável. Quando percebemos o rendimento baixo, conversamos com a família. Se ela acha que a reprovação vai diminuir a estima do aluno, a gente sugere que ele seja transferido para outra instituição. Outras vezes, sugerimos a mudança porque o aluno não tem perfil para continuar na escola - diz Adilson Garcia, um dos diretores.
No Colégio Santo Inácio, do Rio, basta repetir uma vez para não ter a vaga garantida no ano seguinte. Por meio da assessoria de imprensa, a escola explica que o conselho de professores decide quem permanecerá. São analisados, além das notas, se o aluno passou por algum problema e se está integrado ao perfil da escola.
No Santo Agostinho, também do Rio, e 3º lugar no ranking estadual do Enem, quem repete também não tem a vaga garantida. Mas, neste caso, só fica na escola se todos os reprovados daquela série tiverem vaga no próximo ano. A reportagem procurou o São Bento, 1º lugar no ranking nacional do Enem, mas a coordenadora estava viajando.
Também no Rio, o Colégio Zaccaria não reprova, a partir do 6º do ensino fundamental, se o aluno só não tiver conseguido média em uma disciplina. A dependência permite que ele avance e curse, ao mesmo tempo, a matéria do ano anterior.
- A gente luta para não reprovar, conversa com as famílias, oferece aula extra. Mas, muitas vezes, os adolescentes não estudam porque não querem, e nesse caso a reprovação é válida - diz Angela Maria dos Santos, da coordenação geral do Zaccaria.
Para Helena Sandes, coordenadora do Mopi Tijuca, o fundamental é que as escolas analisem caso a caso, com atenção: - A reprovação não se dá no último bimestre, e é necessário que a escola trabalhe a relação de causa e efeito. Então, quando o aluno se mostra desinteressado, não estuda e conta com a sorte, a reprovação é necessária.
Por outro lado, se o estudante está com algum problema de saúde, se houve uma morte na família e o rendimento cai, a reprovação não é indicada. É preciso ter critério.
O Globo (RJ)
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