Para mudar a condição das coisas é preciso uma dose de coragem e outra de humildade. Na questão da Educação no Brasil, ter coragem de encarar a má qualidade da formação inicial de nossos professores e valorizar a carreira docente são passos fundamentais para realizar a mudança estrutural de que o País precisa.
A sofrível qualidade da nossa Educação é um fato indiscutível. Inúmeros estudos e pesquisas identificam as causas da baixa qualidade de nossas escolas e indicam o que pode ser feito para que no futuro possamos figurar entre os 20 melhores países em Educação no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).
Não existe receita única, mas os melhores sistemas de Educação do mundo, como o da Finlândia e o da Coreia do Sul, apontam caminhos. Um deles merece destaque: professores bem preparados, com foco no aprendizado dos alunos e com carreira atraente, à altura de sua importante missão.
O Brasil ainda enfrenta um problema específico que demanda soluções urgentes: a falta de professores. Se não abrirmos os olhos, não teremos professores suficientes para suportar a quantidade de alunos que entram nas escolas a cada ano. Esse déficit de professores já é uma realidade, pois faltam educadores generalistas na pré-escola e no ensino fundamental I.
O déficit de especialistas do segundo ciclo do ensino fundamental em diante é ainda maior. O censo escolar de 2009 mostra que somente 23% dos professores que dão aula de Física são formados em Física. A situação não é diferente em Química, Matemática e Biologia.
Para completar esse quadro, a qualidade de ensino das faculdades de Pedagogia, em geral, deixa a desejar. Temos dois fatores que contribuem para essa situação:a formação inicial dos professores está impregnada de um conteúdo acadêmico mais preocupado com a filosofia e a história da Educação e com as diferenças teóricas entre as metodologias pedagógicas do que com as práticas em sala de aula.
Um professor sai da faculdade sem a menor ideia de como lidar com os alunos numa situação real de classe. Tampouco entende como sua disciplina dialoga com o contexto das outras matérias. Infelizmente, as universidades estão mais preocupadas com produção de trabalhos acadêmicos e com disputas de poder interno do que com uma formação que ajude os alunos na sala de aula, onde a Educação de fato se dá.
Outro fator preocupante é a baixa atratividade da carreira. Apenas 2% dos vestibulandos aspiram a uma vaga nas faculdades de Pedagogia.
Precisamos transformar esse círculo vicioso em virtuoso: formar professores focados e comprometidos; criar padrões de formação, exigir das faculdades que coloquem o aprendizado e a sala de aula no centro do debate, incluindo no currículo questões como gestão de sala de aula, diversidade, uso de resultados de avaliações para melhorar o aprendizado, estratégia de sucesso escolar, entre outros.
É preciso criar espaço para que os estudantes de Pedagogia e licenciatura possam interagir com alunos de forma monitorada para que o futuro professor possa progredir e se profissionalizar. Esses mesmos padrões devem servir também para avaliar o progresso na carreira docente, e o bom professor deve receber incentivos, de acordo com os padrões determinados e com o desempenho dos seus alunos.
Para que essas mudanças ocorram, é preciso vontade política e apoio da sociedade. É impossível mudar a qualidade da Educação de um país sem mexer radicalmente na qualidade da carreira de professores, tornando-a mais valorizada e atrativa.
Devemos ter como uma das grandes metas do País fazer da profissão de professor uma das cinco mais admiradas pela sociedade civil nos próximos cinco anos. Isso, sim, pode provocar a mudança necessária para alcançarmos a Educação que desejamos para o Brasil.
O Estado de São Paulo (SP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário