segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Creche só atende 19% das crianças brasileiras


Apenas uma em cada cinco crianças brasileiras de 0 a 3 anos frequentam a creche. Além do baixo acesso, o país apresenta uma divisão social na utilização do serviço: a proporção de crianças assistidas aumenta quanto maior é a renda ou o nível de Escolaridade da família. Nos lares extremamente pobres, uma em cada dez crianças vai à creche (11%).

Entre as famílias de alta renda, a frequência sobe para 38% o dobro da média brasileira, que é de 19%. O dado faz parte do estudo “Primeira Infância em Números”, produzido pela Secretaria de Ações Estratégicas da Presidência da República (SAE) com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Em outro comparativo, 14% das crianças cuidadas por adultos com menos de 4 anos de Escolaridade vão à creche. Entre os adultos de referência (pai, mãe ou responsável) com mais de 11 anos de estudo, a porcentagem de matrículas sobe para 33%. O cálculo leva em conta instituições públicas e particulares.


Estímulo

O resultado nacional é considerado baixo por especialistas em Educação infantil. Os profissionais entendem que a função da creche vai além da guarda da criança durante o período de trabalho dos pais. A presença dos pequenos em um espaço de socialização é fundamental para desenvolver habilidades que, mais tarde, serão fundamentais ao aprendizado.

“Devemos ter em mente que a família já não consegue mais prover suficientemente os primeiros conteúdos”, ressalta a psicopedagoga Evelise Por­tilho, professora da Pon­tifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “A creche não é um espaço para a criança brincar por brincar. As atividades são voltadas ao estímulo cognitivo, como exercícios voltados para a fala e a pré-alfabetização”, cita.

Para a psicóloga e mestre em Educação Mariita Bertassoni da Silva, a quantidade de crianças na creche não é compatível com a maneira como as famílias estão atualmente estruturadas. “Considerando o fato de que, hoje, pai e mãe precisam trabalhar fora para dar um padrão de vida adequado à família, os 19% de frequência são um índice muito baixo. Precisaria ser exponencialmente maior”, avalia.

Ela explica que o ambiente coletivo é propício para o desenvolvimento mútuo das crianças. “Em uma turma com diferentes capacidades de aprendizagem, a tendência é que um puxe o outro para cima. É o que chamamos de zona de desenvolvimento proximal”, cita. “Mas o ideal é que até os três anos fosse possível haver uma alternância de cuidados entre a casa e a Escola”, diz.

Gazeta do Povo (PR)

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