Atrair talentos para a carreira de professor não é uma preocupação exclusiva do Brasil. O Chile, tido como referência em educação na América Latina – o país obtém os melhores resultados em avaliações internacionais, como o Pisa – também tem dificuldade em atrair para a profissão os melhores alunos do ensino médio e, uma vez que eles já estão estudando, oferecer uma boa formação aos futuros professores.
Com o intuito de modificar essa realidade, uma ação público-privada que envolve campanhas publicitárias, palestras, visitas a escolas, pesquisas e políticas públicas chamada Elige Educar está sendo realizada desde 2009.
À frente do trabalho que tem metas ambiciosas está o engenheiro civil e graduado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Chile Herman Hocchscild, que participa nesta segunda-feira do seminário em São Paulo.
Segundo o também professor e especialista em educação, em um ano a iniciativa conseguiu elevar de 30% para 40% o percentual de estudantes que obteve as melhores notas na avaliação realizada ao final do colégio (o Enem chileno) e escolheu a carreira de professor.
Mas o objetivo é bem maior: em cinco anos, Hocchscild quer que a carreira atinja o mesmo nível de medicina e engenharia na valorização social e que todos os futuros professores venham do grupo de alunos com desempenho mais alto.
No mesmo momento em que estudantes secundaristas e universitários chilenos se mobilizam em série de manifestações para reivindicar ensino público e gratuito, a campanha ganha grande repercussão. Embora Hocchscild não concorde com o foco dos protestos, ele entende que conseguiram fazer com que a educação tenha sido promovida à principal pauta do país.
“O problema do movimento estudantil é o foco na universidade. Nosso desafio é influenciar os professores. A formação do professor para o ensino básico é o que fará a principal mudança no ensino”, defende antes de reconhecer que a agenda dos estudantes promoveu uma maior atenção e um debate mais qualificado aos problemas do ensino. “Hoje, no Chile nada é mais importante do que a educação”, conta.
Foco nos professores
Em entrevista por telefone ao iG, Hocchscild explicou que os países que têm uma boa educação valorizam os professores, atraem talentos para a docência, dão boa formação e condições para se desenvolverem como profissionais pensantes. “No Chile, as pessoas menosprezam o trabalho de professor, pensam que é fácil e não requer grandes conhecimentos. Mas não é assim”, diz o presidente do Elige Educar.
Na avaliação do especialista, eles têm pouco tempo para preparar as classes, qualificar o trabalho e pouca liberdade de aprendizagem. “Falta de efetividade aos professores e parece que no Brasil acontece o mesmo”, palpita.
Mas diferente do que ocorre no Brasil, onde umdeficit de professores se aproxima, no país vizinho esse não é um problema. Apesar de entre as classes sociais mais altas a carreira ser pouco valorizada, entre as mais baixas muitos optam pela docência. As faculdades oferecem cursos com baixo custo e muitas pessoas sem vocação acabam estudando para dar aulas porque não vêem outra oportunidade na vida, segundo ele.
Nos últimos anos, as matrículas para carreiras de educação cresceram – existem 190 mil professores formados e outros 110 mil estudando para a carreira. Com o Elige Educar, o número de interessados só tende a aumentar porque uma campanha publicitária apresenta depoimentos de professores bem sucedidos em horário nobre na TV. Hocchscild diz que a quantidade não é vista como um problema, mas é preciso selecionar os melhores estudantes.
Debate em São Paulo
Nesta segunda e terça-feira, questões relacionadas a qualidade da formação do professor e a atratividade da carreira serão debatidas no seminário Inovação e Qualidade na Formação Inicial de Professores, promovido pelo Instituto Singularidades, no auditório do Clube A Hebraica, em São Paulo. Herman Hocchscild e outros especialistas brasileiros e estrangeiros estarão presentes. Confira a programação aqui.
iG
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