domingo, 27 de novembro de 2011

Identificar déficit de atenção é desafio para pais e professores

          As notas começaram a baixar quando o pequeno Lucas estava na terceira série. Cada vez mais, o menino mostrava comportamento agitado durante as aulas e dificuldade de compreender o conteúdo que a professora ensinava. A escola alertou o pai, que procurou tratamento. Depois de alguns testes, o diagnóstico: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

A pedagoga especialista em orientação educacional Maria Cristina Bromberg defende que os professores são as pessoas mais capacitadas para identificar o problema em um estudante. Foi assim com Lucas, hoje com 13 anos.

O pai, Alexandre Farias Torres, conta que o filho começou a tirar notas baixas e a apresentar comportamento agitado. "A professora percebeu que não era uma desatenção comum e me avisou. Levei o Lucas para o psiquiatra e ele foi diagnosticado", conta o morador de São Bernardo do Campo.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 6% das crianças em fase escolar são diagnosticadas com TDAH. Para o psicólogo Fernando Elias José, trata-se de um dos problemas que mais interfere no estudo de crianças e adolescentes atualmente.

A síndrome é caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Entre os principais sintomas percebidos em ambiente escolar estão a falta de atenção, cometer frequentemente erros por descuido, não seguir instruções, dificuldade de organização e perda constante de materiais necessários para as tarefas e atividades diárias. "O paciente que apresenta impulsividade costuma realizar brincadeiras inadequadas que podem atrapalhar a turma inteira", afirma Elias José.

Para a pedagoga Maria Cristina, mestre em distúrbios do desenvolvimento, é papel da escola procurar esclarecer as causas dos problemas.

"A primeira avaliação deve ser feita por um grupo interno; depois, as preocupações são transmitidas aos pais, mostrando-se opções para um diagnóstico correto, que pede a avaliação de profissionais de outras áreas. Uma vez determinado o problema, pais, professores e terapeutas planejam juntos as estratégias e intervenções a serem implementadas", defende a especialista.

Porém, Elias José alerta para o fato de que a maioria dos professores não está preparada para reconhecer a desatenção como um problema. "Todas as crianças são inquietas, mas aquelas com TDAH são extremamente inquietas e desatentas", diz, completando que não é difícil detectar os alunos com déficit de atenção.

"São aqueles que estão sempre com notas baixas, sempre sem material escolar, constantemente atrapalhando a aula por hiperatividade. O problema é que a primeira reação dos educadores é considerar essa criança simplesmente mal educada", diz.

Atualmente, é isso que acontece com Lucas. Depois que foi diagnosticado com a síndrome, o menino de 13 anos mudou de escola e começou um tratamento com medicamento e psicoterapia. "Eu só o troquei de escola porque a de antes era muito puxada, e é muito sofrimento para uma criança com TDAH acompanhar um currículo rígido. Mas, infelizmente, o colégio que ele frequenta agora não o compreende", conta o pai.

Por este motivo, o pai de Lucas decidiu criar o blog Criança Hiperativa, onde escreve sobre o problema e também conta sobre o filho.

"Criei o blog para que os professores do Lucas entendessem o que é uma criança com TDAH, mas infelizmente, muitos não têm interesse em se conscientizar sobre este problema que não afeta apenas a ele, mas milhares de crianças pelo mundo todo", fala, completando que seu objetivo não é impedir que o filho seja reprimido, mas sim que seja orientado de forma eficaz.

O psicólogo Elias José defende o tratamento diferenciado para os estudantes com déficit de atenção. "Se a síndrome foi diagnosticada e comprovada, não vejo motivo para que os professores não ajudem essa criança", defende, afirmando que aulas de reforço extraclasse e mais tempo para a realização de uma prova são algumas das atitudes recomendadas.

Terra

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