segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Gerações sem ler e escrever

Na casa de Antônio Mariano da Silva Filho, de 96 anos, e de Minervina Eva de Sousa, 76, em São Luis do Piauí (a 252 km de Teresina), moram cinco pessoas, todas analfabetas.
A cidade é uma das 32 com mais de 25% de jovens e adultos analfabetos - e que, ao mesmo tempo, não têm Educação de Jovens e Adultos. É a primeira vez em que o IBGE fez esse cruzamento no Censo. 
O casal, as filhas Josefa, 36 anos, e Rosa, 34, e o neto Josimar perpetuam uma história de obstáculos à alfabetização que atravessa séculos e gerações. 
Antônio conta que não estudou por ter sido criado pelo avô, já que nasceu 15 dias depois da morte de seu pai, assassinado a tiros no interior do Piauí por disputa por carnaubais: 
- Meu avô não colocou nem eu nem os meus 19 irmãos na escola. Comecei a trabalhar na roça com 10 anos, e naquela época só tinha escola nas cidades. Tenho essa angústia por não saber ler e escrever. Se soubesse, tinha ficado com um emprego e estava muito bem. 
- Quem é que não fica com vergonha de não saber ler e escrever? - pergunta Minervina, lembrando que chorou por não assinar o nome quando foi a São Paulo para retirar a pensão de um filho que trabalhava na Volkswagen e tinha morrido. 
Ela conta que o pai não deixou que as quatro filhas estudassem para que não fossem contra o casamento e escrevessem para os rapazes: 
- Meu pai dizia que não ia botar a gente para bestar. "Vou botar vocês na enxada para trabalhar", falava meu pai. Eu comecei a trabalhar na roça com 10 anos. 
As filhas do casal seguiram o mesmo destino e continuam sem instrução formal. 
- Ficamos muito tempo no interior e, quando chegamos a ficar dois anos na escola, não aprendíamos nada. Passei pelo Mobral, pelo Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos, mas nunca deu certo aprender a ler e escrever. Hoje vou resolver uma coisa no banco e fico com vergonha porque a pessoa que não sabe ler é cego - diz Rosa. 
Filho de Josefa, Josimar Luis dos Santos diz que chegou a estudar até o 2º ano do fundamental e não aprendeu nada. 
- Não quero tirar fotografia por ser analfabeto - disse.
O Globo (RJ)

Nenhum comentário:

Postar um comentário