A capital federal tem a maior renda do país e ostenta o menor índice de analfabetismo entre as unidades da Federação. Mas quando o assunto é a oferta de Educação a crianças com até cinco anos, Brasília ocupa uma posição vergonhosa: a cidade tem o menor percentual de meninos e meninas matriculados em creches.
Apenas 16,3% dos brasilienses nessa faixa etária estão inseridos na rede pública de ensino. O percentual é muito inferior ao registrado em estados do Norte e do Nordeste. No Maranhão, Piauí e Ceará, por exemplo, cerca de 35% das crianças estão matriculadas nesses estabelecimentos. A média brasileira é de 29,3%.
O descaso com os brasileiros que têm menos de 5 anos é ainda mais evidente diante dos dados do Censo que mostram um crescimento lento da população nessa faixa etária.
A taxa de fertilidade caiu. Portanto, nascem menos crianças. E essa demanda poderia ser atendida mais facilmente. O ensino infantil, que consiste na primeira etapa da Educação básica, não é obrigatório, mas existe um grande movimento para que esse se torne um dever do Estado.
“Os resultados mostram o tamanho do desafio e a necessidade de um grande empenho por parte das políticas sociais para aumentar a taxa de atendimento das crianças de zero a cinco anos de idade”, diz um trecho do documento de análise dos dados do Censo, assinado pela presidente do IBGE, Wasmália Bivar.
Além de representar uma tranquilidade para os pais, a presença de crianças nas creches é importante para a formação delas. “A escola é uma agência socializadora de desenvolvimento. A literatura mostra que, com a Educação infantil, a criança adquire maior capacidade para solucionar problemas, além de ganhar uma maior competência cognitiva”, explica o professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília Áderson Costa.
A Secretaria de Educação do DF reconhece o grande deficit de vagas em creches. Segundo a diretora de Educação Infantil, Edna Barroso, existem apenas oito mantidas pelo governo, mas a pasta paga matrículas de crianças em 44 instituições particulares.
Ao todo, 6,5 mil crianças estão nas creches do governo. A diretora afirma que os números devem melhorar a longo prazo. “As creches exigem investimento alto porque os prédios têm que ser adaptados e o número de professores e monitores tem que ser muito maior.”
A balconista Ivonete Soares Rodrigues, 27 anos, espera pelos investimentos. Mãe de duas crianças, ela gasta um terço do salário para poder trabalhar. Hugo, de 7 anos, já está na escola. Mas Ivonete não conseguiu creche para o caçula, Heitor, de 3. “Tenho que pagar R$ 190 por mês para a moça que cuida do menino mais novo. Esse dinheiro faz muita falta no fim do mês, mas não tem outro jeito, já que nunca consegui vaga em creche do governo”, lamenta.
Correio Braziliense (DF)
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