Para especialista em avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais José Francisco Soares, bons resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) dão a falsa impressão de que os alunos brasileiros estão bem capacitados.
Segundo o professor, em prova do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa – sigla em inglês), que mede o conhecimento necessário para que o jovem resolva problemas cotidianos, apenas 4% dos brasileiros tiveram notas altas.
Durante audiência pública da comissão especial que analisa o projeto de Plano Nacional de Educação (PNE – PL 8035/10), José Francisco defendeu parâmetros mais exigentes para a educação brasileira.
"As avaliações nacionais estão calibradas hoje para baixo. Para usar uma metáfora do futebol, nós estamos calibrados para a terceira divisão. Então, o aluno que se sai bem no Enem não vai se sair bem no Pisa. E é ruim, porque hoje o mundo ficou pequeno".
O Pisa é desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O programa faz a avaliação de estudantes de 15 anos, fase em que, na maioria dos países, os jovens terminaram ou estão terminando a escolaridade mínima obrigatória. As avaliações envolvem capacidade de leitura e conhecimentos de matemática e ciências.
Iniciado em 2000, o objetivo do programa é produzir indicadores de desempenho estudantil destinados a embasar a definição de políticas educacionais.
José Francisco Soares criticou também as regras de aplicação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Para ele, o Ideb trouxe avanços para a educação brasileira, mas precisa ser aperfeiçoado.
"Ele (o Ideb) não pode considerar 50% dos alunos apenas, como neste ano vai ser considerado. Isso é muito pouco, porque permite seleção de alunos.” Segundo o especialista, o índice deve ter equilíbrio entre as disciplinas. “Atualmente, o Ideb favorece muito mais a matemática. E, finalmente, ele é muito sensível à concentração de esforços em alguns poucos alunos, que é a história da média."
Para a socióloga e professora da Unicamp Maria Helena de Castro, o mais importante é aprender a usar os resultados das avaliações. Ao analisar os erros dos alunos nas provas, por exemplo, é possível aperfeiçoar os métodos de ensino.
"Está faltando uma intervenção que use todos os dados dos diagnósticos de uma forma mais inteligente, com análises que façam sentido para o professor. Não adianta mostrar uma estatística para o professor, que precisa de mais apoio, de material de análise e de capacitação. Está faltando uma capacitação para o professor saber usar o resultado".
A construção de um currículo nacional básico, com o que deve ser ensinado em cada série do ensino básico, foi apontada como o principal desafio para o Brasil pela diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz. Ela também acrescentou como desafio a valorização e da formação inicial de professores.
O relatório do novo Plano Nacional de Educação deve ser apresentado no próximo dia 22. Segundo o presidente da comissão, deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), as sugestões apresentadas na audiência pública poderão servir de base para emendas ao projeto.
Íntegra da proposta:
Agência Câmara
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