quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ensino privado quer intervir no público


O ensino oferecido nas escolas particulares de Teresina vem ganhando lugar de destaque no país e isso é confirmado através das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Porém, o mesmo instrumento de avaliação revela que ainda há uma distância muito grande entre o ensino da rede privada e o ensino da rede pública.

Para tentar reduzir esse abismo, as escolas particulares querem intervir na Educação pública, através de parcerias firmadas com Governo e Prefeituras. A questão foi debatida na manhã de ontem, durante um Fórum realizado pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Piauí - Sinepe, com o intuito de discutir os novos rumos da Educação.

"Enquanto as escolas particulares são apontadas como as melhores, as escolas públicas ainda estão entre as piores. Essa situação nos incomoda e queremos discutir de que forma o segmento privado pode contribuir para mudar essa realidade", afirmou o presidente do Sinepe, Dalton Leal.

Durante o evento de ontem, realizado no auditório da faculdade Novafapi, Dalton falou um pouco das ações previstas para o próximo ano, a exemplo da inauguração da Fundação Odilon Nunes que, segundo ele, vai oferecer cursos de capacitação gratuitos aos professores da rede pública e privada.

"Vamos promover ainda um Fórum Social, previsto para março, onde a Educação será discutida com a participação de toda a sociedade", diz. Ontem, o evento contou com duas palestras. A primeira foi comandada pela professora Iveline de Melo Prado, que destacou a importância dos pais - e da sociedade - no processo educacional.

"Temos que trabalhar com uma gestão participativa. O currículo escolar deve levar em consideração o que acontece lá fora. Só assim o aluno vai poder aplicar na prática o que ele aprendeu na sala de aula".

Para os educadores, Iveline chamou a atenção para a necessidade diária de se buscar a melhoria profissional. "É preciso conhecer o projeto pedagógico da instituição.

Além disso, o trabalho deve ser avaliado junto com toda a equipe que está inserida nesse contexto", completa. A segunda palestra "Gestão e qualidade de Ensino" foi comandada pelo presidente do Instituto de Qualidade do Ensino - IQE, Horácio Almendra.

Diário do Povo (PI)

Especialista considera que ENEM faz avaliação por baixo


Para especialista em avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais José Francisco Soares, bons resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) dão a falsa impressão de que os alunos brasileiros estão bem capacitados.

Segundo o professor, em prova do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa – sigla em inglês), que mede o conhecimento necessário para que o jovem resolva problemas cotidianos, apenas 4% dos brasileiros tiveram notas altas.

Durante audiência pública da comissão especial que analisa o projeto de Plano Nacional de Educação (PNE – PL 8035/10), José Francisco defendeu parâmetros mais exigentes para a educação brasileira.

"As avaliações nacionais estão calibradas hoje para baixo. Para usar uma metáfora do futebol, nós estamos calibrados para a terceira divisão. Então, o aluno que se sai bem no Enem não vai se sair bem no Pisa. E é ruim, porque hoje o mundo ficou pequeno".

O Pisa é desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O programa faz a avaliação de estudantes de 15 anos, fase em que, na maioria dos países, os jovens terminaram ou estão terminando a escolaridade mínima obrigatória. As avaliações envolvem capacidade de leitura e conhecimentos de matemática e ciências.

Iniciado em 2000, o objetivo do programa é produzir indicadores de desempenho estudantil destinados a embasar a definição de políticas educacionais.


Aplicação do Ideb

José Francisco Soares criticou também as regras de aplicação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Para ele, o Ideb trouxe avanços para a educação brasileira, mas precisa ser aperfeiçoado.

"Ele (o Ideb) não pode considerar 50% dos alunos apenas, como neste ano vai ser considerado. Isso é muito pouco, porque permite seleção de alunos.” Segundo o especialista, o índice deve ter equilíbrio entre as disciplinas. “Atualmente, o Ideb favorece muito mais a matemática. E, finalmente, ele é muito sensível à concentração de esforços em alguns poucos alunos, que é a história da média."


Aperfeiçoar métodos de ensino 

Para a socióloga e professora da Unicamp Maria Helena de Castro, o mais importante é aprender a usar os resultados das avaliações. Ao analisar os erros dos alunos nas provas, por exemplo, é possível aperfeiçoar os métodos de ensino.

"Está faltando uma intervenção que use todos os dados dos diagnósticos de uma forma mais inteligente, com análises que façam sentido para o professor. Não adianta mostrar uma estatística para o professor, que precisa de mais apoio, de material de análise e de capacitação. Está faltando uma capacitação para o professor saber usar o resultado".


Currículo nacional básico 

A construção de um currículo nacional básico, com o que deve ser ensinado em cada série do ensino básico, foi apontada como o principal desafio para o Brasil pela diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz. Ela também acrescentou como desafio a valorização e da formação inicial de professores.

O relatório do novo Plano Nacional de Educação deve ser apresentado no próximo dia 22. Segundo o presidente da comissão, deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), as sugestões apresentadas na audiência pública poderão servir de base para emendas ao projeto.

Íntegra da proposta:


Agência Câmara

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ciranda de Natal

A Ciranda de Natal já começou. Muitos trabalhos chegaram em versos ou em prosa. Ainda há tempo para o seu ser encaminhado. Estamos aguardando. É muito importante a sua participação!
Para participar basta enviar um texto em prosa ou em versos, até às 11h59 do dia 30/11/2011, para:
Heloisa Crespo <heloisacrespo@gmail.com>
Tema: NATAL (a palavra-tema deverá constar do trabalho literário).
Trabalho literário: Fonte Arial – Tamanho da fonte: 12

A educação no admirável mundo digital

Afinal, a visão educativa dos novos tempos altamente inovadora e complexa possibilita a reflexão e a compreensão da realidade que o mundo virtual oferece?

Na era da informação, dos apelos visuais, das relações virtuais, a inclusão digital na Educação ainda é um fato polêmico e um pouco distante daquilo que se concebe como insofismável paradigma a serviço dos fins pedagógicos. Tudo leva a crer que não será em curto prazo um recurso para reverter o analfabetismo e a qualidade do ensino em nosso país.

O mundo planetário que escancarou suas portas às redes sociais produzindo cultura e informação num alcance geográfico sem dimensões ainda encontra entraves em países com altíssima difusão das tecnologias digitais, como por exemplo, nos Estados Unidos onde não há um consenso para o uso em fins pedagógicos por conta da regulamentação específica a programas educativos.

A idolatria à internet, em efervescência no universo Escolar, não possui uma legislação própria para o uso consciente da rede. E isso se deve ao excessivo e diversificado acesso disponível para fins não didáticos.

Virando a página do fantástico mundo novo, a Educação pede passagem. Repensar, pois, a Escola, para lidar com as novas ferramentas digitais e o perfil do aluno que recebe é imposição imediata.

Leve-se em consideração que a criança desde muito cedo explora o computador, o mais novo brinquedo da infância precocemente induzida a esta convivência perversa pelos efeitos que produz: individualismo, sedentarismo, déficit de atenção.

São os “nativos digitais” com domínio absoluto das novas linguagens e das informações obtidas pela internet sem o adequado controle que agregue conhecimentos positivos.

A capacitação dos docentes para competir com “esses gênios digitais” é árdua tarefa para a universidade. Além de laboratórios de informática, a Escola necessita disponibilizar mais tempo para o preparo de aulas e, aos professores, um contínuo apoio pedagógico.

Educar não é um ato efêmero e como tal pressupõe competências: conhecimento, informação e inclusão digital, ética, habilidades, compreensão, limites e afetos.

Na verdade, a Educação foi atingida em suas competências pelo poder das redes sociais que agregam conhecimento e informação, mas o valor educacional não é consensual admitindo-se que pode causar danos éticos contrastando com a finalidade humana da Educação.

Para tanto não se pode menosprezar o jeito tradicional de ensinar nem o jeito moderno de aprender. Nenhum computador na sala de aula substitui a presença insubstituível do professor.

O Brasil, que é pródigo em importar modelos educacionais de outros países, poderia espelhar-se na China, que valoriza e remunera os docentes da Educação básica acima dos docentes universitários, porque, se a base for sólida, a qualificação dos níveis superiores será diferenciada.

É fácil contemplar o admirável mundo novo com o olhar de quem vê a luz no fim do túnel; difícil é direcionar este olhar para aqueles que cavam o túnel à luz de velas.
Zero Hora (RS)


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Creche só atende 19% das crianças brasileiras


Apenas uma em cada cinco crianças brasileiras de 0 a 3 anos frequentam a creche. Além do baixo acesso, o país apresenta uma divisão social na utilização do serviço: a proporção de crianças assistidas aumenta quanto maior é a renda ou o nível de Escolaridade da família. Nos lares extremamente pobres, uma em cada dez crianças vai à creche (11%).

Entre as famílias de alta renda, a frequência sobe para 38% o dobro da média brasileira, que é de 19%. O dado faz parte do estudo “Primeira Infância em Números”, produzido pela Secretaria de Ações Estratégicas da Presidência da República (SAE) com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Em outro comparativo, 14% das crianças cuidadas por adultos com menos de 4 anos de Escolaridade vão à creche. Entre os adultos de referência (pai, mãe ou responsável) com mais de 11 anos de estudo, a porcentagem de matrículas sobe para 33%. O cálculo leva em conta instituições públicas e particulares.


Estímulo

O resultado nacional é considerado baixo por especialistas em Educação infantil. Os profissionais entendem que a função da creche vai além da guarda da criança durante o período de trabalho dos pais. A presença dos pequenos em um espaço de socialização é fundamental para desenvolver habilidades que, mais tarde, serão fundamentais ao aprendizado.

“Devemos ter em mente que a família já não consegue mais prover suficientemente os primeiros conteúdos”, ressalta a psicopedagoga Evelise Por­tilho, professora da Pon­tifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “A creche não é um espaço para a criança brincar por brincar. As atividades são voltadas ao estímulo cognitivo, como exercícios voltados para a fala e a pré-alfabetização”, cita.

Para a psicóloga e mestre em Educação Mariita Bertassoni da Silva, a quantidade de crianças na creche não é compatível com a maneira como as famílias estão atualmente estruturadas. “Considerando o fato de que, hoje, pai e mãe precisam trabalhar fora para dar um padrão de vida adequado à família, os 19% de frequência são um índice muito baixo. Precisaria ser exponencialmente maior”, avalia.

Ela explica que o ambiente coletivo é propício para o desenvolvimento mútuo das crianças. “Em uma turma com diferentes capacidades de aprendizagem, a tendência é que um puxe o outro para cima. É o que chamamos de zona de desenvolvimento proximal”, cita. “Mas o ideal é que até os três anos fosse possível haver uma alternância de cuidados entre a casa e a Escola”, diz.

Gazeta do Povo (PR)

domingo, 27 de novembro de 2011

Identificar déficit de atenção é desafio para pais e professores

          As notas começaram a baixar quando o pequeno Lucas estava na terceira série. Cada vez mais, o menino mostrava comportamento agitado durante as aulas e dificuldade de compreender o conteúdo que a professora ensinava. A escola alertou o pai, que procurou tratamento. Depois de alguns testes, o diagnóstico: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

A pedagoga especialista em orientação educacional Maria Cristina Bromberg defende que os professores são as pessoas mais capacitadas para identificar o problema em um estudante. Foi assim com Lucas, hoje com 13 anos.

O pai, Alexandre Farias Torres, conta que o filho começou a tirar notas baixas e a apresentar comportamento agitado. "A professora percebeu que não era uma desatenção comum e me avisou. Levei o Lucas para o psiquiatra e ele foi diagnosticado", conta o morador de São Bernardo do Campo.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 6% das crianças em fase escolar são diagnosticadas com TDAH. Para o psicólogo Fernando Elias José, trata-se de um dos problemas que mais interfere no estudo de crianças e adolescentes atualmente.

A síndrome é caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Entre os principais sintomas percebidos em ambiente escolar estão a falta de atenção, cometer frequentemente erros por descuido, não seguir instruções, dificuldade de organização e perda constante de materiais necessários para as tarefas e atividades diárias. "O paciente que apresenta impulsividade costuma realizar brincadeiras inadequadas que podem atrapalhar a turma inteira", afirma Elias José.

Para a pedagoga Maria Cristina, mestre em distúrbios do desenvolvimento, é papel da escola procurar esclarecer as causas dos problemas.

"A primeira avaliação deve ser feita por um grupo interno; depois, as preocupações são transmitidas aos pais, mostrando-se opções para um diagnóstico correto, que pede a avaliação de profissionais de outras áreas. Uma vez determinado o problema, pais, professores e terapeutas planejam juntos as estratégias e intervenções a serem implementadas", defende a especialista.

Porém, Elias José alerta para o fato de que a maioria dos professores não está preparada para reconhecer a desatenção como um problema. "Todas as crianças são inquietas, mas aquelas com TDAH são extremamente inquietas e desatentas", diz, completando que não é difícil detectar os alunos com déficit de atenção.

"São aqueles que estão sempre com notas baixas, sempre sem material escolar, constantemente atrapalhando a aula por hiperatividade. O problema é que a primeira reação dos educadores é considerar essa criança simplesmente mal educada", diz.

Atualmente, é isso que acontece com Lucas. Depois que foi diagnosticado com a síndrome, o menino de 13 anos mudou de escola e começou um tratamento com medicamento e psicoterapia. "Eu só o troquei de escola porque a de antes era muito puxada, e é muito sofrimento para uma criança com TDAH acompanhar um currículo rígido. Mas, infelizmente, o colégio que ele frequenta agora não o compreende", conta o pai.

Por este motivo, o pai de Lucas decidiu criar o blog Criança Hiperativa, onde escreve sobre o problema e também conta sobre o filho.

"Criei o blog para que os professores do Lucas entendessem o que é uma criança com TDAH, mas infelizmente, muitos não têm interesse em se conscientizar sobre este problema que não afeta apenas a ele, mas milhares de crianças pelo mundo todo", fala, completando que seu objetivo não é impedir que o filho seja reprimido, mas sim que seja orientado de forma eficaz.

O psicólogo Elias José defende o tratamento diferenciado para os estudantes com déficit de atenção. "Se a síndrome foi diagnosticada e comprovada, não vejo motivo para que os professores não ajudem essa criança", defende, afirmando que aulas de reforço extraclasse e mais tempo para a realização de uma prova são algumas das atitudes recomendadas.

Terra

Eles estão na escola, mas não sabem ler

         Você aprendeu a ler na Escola? Muitas crianças da sua idade, que estão em sala de aula há anos, não aprenderam até hoje.

Uma prova chamada ABC, aplicada para alunos de todas as capitais do Brasil que já terminaram o 3º ano do ensino fundamental, mostrou que 43,9% deles (quase a metade) não sabem ler tão bem quanto um estudante desta série deveria. Além disso, 46,6% não aprenderam a escrever como o esperado. 

Essa prova foi organizada pelo movimento Todos Pela Educação em parceria com o governo federal. O resultado mostra que muitas Escolas não ensinam a alguns alunos o básico: ler e escrever.

João Batista de Oliveira é presidente do Instituto Alfa e Beto, que cria projetos para promover a alfabetização no país. Ele explica por que uma criança que não lê direito fica prejudicada: 

- Muitas crianças aprendem por teimosia, porque ficam na Escola, e não porque aprenderam na época correta. Quem não é alfabetizado aos 6 anos fica com dificuldade para aprender outras disciplinas. No segundo ano, o professor não é preparado para ensinar o que o aluno não aprendeu, e os livros exigem que ele saiba ler - esclarece João. 

Marcus Ricardo, de 9 anos, já está no 4º ano do ensino fundamental de uma Escola pública de São Paulo, mas não se sente seguro na hora de pegar os livros. Foi durante uma ida ao mercado que sua mãe, Vanessa Alves da Silva, percebeu que o menino não sabia ler. 

- Ele não conseguiu ver os preços nem ler as embalagens. Eu tento incentivar, dou recortes de jornal, mas ele gagueja e não consegue ler. Na aula, é só cópia o tempo todo. O meu mais velho, de 10 anos, também têm problemas - conta Vanessa. 

Aos 11 anos e cursando o 6º ano do ensino fundamental, a neta do vigilante Hamilton de Souza também tem dificuldade para ler e escrever. 

- Como ela vai arrumar emprego? Como vai preencher uma ficha de contratação - preocupa-se o avô. 

Então, se você tem problemas para ler, avise a seus pais e professores. Eles podem ajudar. Mas, se leu esta reportagem até o final, ótimo!

O Globo (RJ)

sábado, 26 de novembro de 2011

Um avanço, vários problemas


Santa Cecília do Pavão - Os quase mil estudantes do município de Santa Cecília do Pavão, na Região Norte do Paraná, começaram o ano de 2010 com uma novidade alvissareira. Cada um deles, juntamente com os professores, recebeu um laptop para auxiliar nas atividades dentro e fora da sala de aula.

Passados nove meses, a empolgação dos alunos permanece, mas atenuada pelos primeiros problemas que o programa Um Computador por Aluno (UCA) apresenta. Dificuldades na assistência técnica e falta de controle sobre o conteúdo utilizado pelos estudantes são alguns dos entraves enfrentados pelas escolas selecionadas pelo governo federal para integrar o projeto.

A história do UCA começou em 2007, quando cinco escolas em diferentes estados receberam o projeto em caráter experimental. Com o objetivo de aprimorar o aprendizado e incentivar a inclusão digital, todos os alunos e professores das escolas receberam um computador portátil com acesso à internet.


Falta projeto pedagógico, diz especialista

O projeto Um Computador por Aluno (UCA) representa não apenas um avanço na área de Educação, mas uma mudança social. Para que isso se concretize, contudo, é necessário aprimorar a estrutura das escolas e a formação dos professores.

A avaliação é do pesquisador Antônio Carlos Conceição Marques, mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), que estudou as primeiras experiências do UCA no Brasil.

Para Marques, o maior problema está na falta de um projeto pedagógico voltado para o uso do computador em sala de aula. “Os cursos de formação dos professores se baseiam no mero usar o laptop. É preciso uma mudança de paradigma, pensar a distribuição do tempo e o currículo das escolas a partir do uso da tecnologia”, avalia.

No atual cenário, onde o principal aparato de ensino ainda são o quadro negro e os cadernos, o pesquisador acredita que o computador acaba sendo apenas uma ferramenta a mais.

Na opinião de Marques, o UCA pode ter um alcance bem maior do que apenas servir como aparato educacional. “Se bem conduzido, esse projeto pode representar uma revolução social. A partir do momento que o estudante ganha um computador e pode levá-lo para casa, possibilita que sua família também seja incluída digitalmente”.

Para os professores, a experiência de utilizar o computador na sala de aula é uma novidade com a qual ainda estão se adaptando. “No começo tive bastante dificuldade, já que eu não tinha muito conhecimento de informática. Mas com a ajuda de outros professores e dos próprios alunos fomos nos adaptando”, diz a professora Sirlene de Farias, que tem 14 anos de magistério e há quatro atua na Escola Cícero Bittencourt Rodrigues, em Santa Cecília do Pavão.

Já os estudantes aprovaram a entrada da tecnologia, ainda que ela não sirva apenas para o aprendizado. “O computador ajuda nos trabalhos, mas, quando posso, aproveito para jogar um pouco também”, admite Cleverson de Oliveira, aluno da 7ª série do Colégio Jerônimo Martins.

Gazeta do Povo (PR)


Divididos entre o ensino público e o particular


O professor de História Alcides Martinelli, 49 anos, 25 desses de magistério, trabalha em duas Escolas de Curitiba e ele próprio é um dos pouquíssimos elementos em comum entre elas.

Todos os dias, Martinelli divide sua rotina entre as turmas do 6.º ao 9.º ano do Colégio Expoente, nos bairros Água Verde e Boa Vista, e os alunos do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) Maria Deon de Lira, no Boqueirão.

Ele se esforça para ensinar o mesmo conteúdo a todos, mas as diferenças nas condições de trabalho são incontáveis. Adaptar-se para conviver entre dois mundos tão distintos – das redes privada e pública de ensino – exige habilidade e motivação.

Na instituição particular, que atende famílias de classe média/alta, Martinelli acompanha o mesmo grupo de alunos há quatro anos. Ele conta com satisfação a experiência de ser o principal responsável por tudo o que os jovens sabem sobre História, desde a metade do ensino fundamental até a entrada no ensino médio. “Dá para fazer um trabalho excelente. A qualquer momento, eu posso retomar o que ensinei há uns dois anos e fazer a ligação com um tema atual”, diz.


Em média, salário na rede pública é maior

Por contar com Escolas de perfis bastante distintos, a variação nos salários pagos pela iniciativa privada é grande, mas a média fica abaixo do que é oferecido aos profissionais da rede pública.

Uma pesquisa do Sindicato dos professores no Estado do Paraná (Sinpropar), realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeco­nômicos (Dieese), mostra que havia 6.381 professores de Educação básica lecionando em Escolas particulares no Paraná em 2010.

Na Educação infantil e no ensino fundamental, o salário médio na época da pesquisa era de R$ 939,20. No ensino médio, o valor subia para R$ 1.245,45. Para comparar, em Curitiba, a média salarial dos professores de ensino fundamental da rede municipal estava em R$ 1.538,65 em 2010. Já os profissionais da rede estadual que atuam no ensino médio ganhavam em torno de R$ 2.017,92.


Vantagens

Segundo a coordenadora dos cursos de pós-graduação em Educação da FAE Centro Universitário, professora Cléa Mara Reis Félix, há vantagens e problemas diferentes nas duas redes e eles podem variar dependendo do município. “Na prefeitura de Curitiba, uma professora não vê vantagem em migrar para a rede privada já que a remuneração é maior e a estrutura e capacitação oferecidas também são boas”, diz.

A professora Juciane Gonçalves, que atua nas duas redes, destaca os aumentos salariais por titulação como outro aspecto positivo do setor público que faz falta na Escola particular. “Posso receber aumento de salário quando concluo uma especialização ou um mestrado”, conta.

Se, com exceção das Escolas de ponta, as instituições particulares não são tão atrativas a profissionais que buscam altos salários, os benefícios são citados como chamativos para quem opta por manter-se nos dois setores. É o que destaca o professor Alcides Martinelli. “Contar com um bom plano de saúde e fundo de garantia fazem diferença”, diz. (JDL)

A participação dos alunos é intensa. Como a Escola é o centro das atenções na vida dos 115 estudantes que têm aulas com o professor, a preocupação maior é aprender, tirar boas notas e sonhar com uma vaga na universidade.

Complicadores

Reproduzir o bom rendimento dessas aulas nas noites em que está no CEEBJA é um desafio diário cheio de complicadores. Em turmas cuja variação de idade vai dos 18 aos 50 anos, é uma raridade encontrar alguém que compareça às aulas movido pela vontade de aprender.

Nem mesmo a necessidade de obter um certificado de conclusão – a principal justificativa de matrículas no sistema – evita um grande número de faltas capaz de prejudicar qualquer plano de aulas. As desistências, também comuns, são um motivo a mais para desanimar.


Envolvimento dos alunos é determinante

Situação semelhante à de Alcides Martinelli é enfrentada pelo professor de Matemática Sergio Luiz Alves da Silva, de 58 anos. Docente aposentado pela rede privada de ensino, ele prestou concurso público em 2007 e desde então dá aulas no Colégio Estadual Getúlio Vargas, no bairro Cachoeira, em Curitiba.

Segundo Silva, ao contrário do que o senso comum pode supor, não é a diferença de estrutura que mais dificulta o trabalho. “Materialmente, eles [estudantes] têm tudo o que é necessário, como computadores e uma tevê em cada sala. O difícil é motivar os alunos”, diz.

Para o professor, problemas familiares e a criminalidade local deixam os estudantes sem perspectiva. “Não há participação dos pais em nada. Tenho alunos que vão para a Escola apenas para se alimentar”, conta.


Comparação

Para a comparação, Silva usa como referência seus outros ambientes de trabalho. Duas faculdades particulares, além de aulas extras no Colégio Estadual do Paraná (CEP). Nas turmas de ensino superior, ele lida com homens e mulheres interessados principalmente em progredir na carreira profissional.

Mas é a experiência no CEP que lhe mostrou ser possível obter na rede pública um desempenho em sala de aula equivalente ao que se tem em Escolas particulares. O fato de o colégio fazer uma triagem para aceitar matrículas, por meio da análise do currículo, é, segundo o professor, o principal motivo para a formação de turmas dedicadas.

“Eles [alunos] te dão uma atenção impressionante. Dá pra ver a vontade de aprender e a gente sente o nosso trabalho ser reconhecido”, afirma. Mesmo ganhando menos como professor de Educação básica do que como docente na faculdade, essa satisfação é citada como a razão mais forte para Silva manter sua rotina. “Não se ganha muito dinheiro no Estado. É a consciência de que o nosso trabalho é relevante que estimula a gente a continuar ensinando”, conclui.

Gazeta do Povo (PR)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ensino médio pode mudar

Os estudantes que ingressarem no primeiro ano do Ensino Médio em 2012 no Estado poderão encontrar um novo modelo pedagógico. A proposta apresentada pela Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul (SEC) está em discussão nas esferas escolares e municipais.
Até o final do mês, o debate passará para o âmbito regional e, em dezembro, será o centro das discussões na Conferência Estadual da Educação, quando a proposta final poderá ser aprovada.
Apesar da segurança do governo em garantir a sua aplicação no ano que vem, a classe sindical promete fazer pressão para evitar que o mesmo seja implementado.
Pelo projeto, o programa do Ensino Médio passaria a ser composto por disciplinas da área de conhecimento, como Matemática e Português, e da área diversificada, que corresponde a conhecimentos diversos e profissionalizantes. O Ensino Médio seria dividido em duas categorias: Politécnico (conhecimentos padrão e profissionais, como pesquisa) e Ensino Médio Profissional (formação tecnológica e suporte educacional).
A expectativa da SEC é implementar o novo modelo para os alunos que ingressarem no Ensino Médio em 2012. Já em 2013, a medida atingiria o segundo ano e, em 2014, seria implementado no terceiro ano, completando o ciclo.
O secretário estadual de Educação, José Clóvis de Azevedo, disse que a mudança é fundamental diante da precariedade do Ensino Médio. "Do jeito que está não pode ficar. O Ensino Médio hoje não prepara para uma formação geral e nem para o mercado de trabalho", explicou.
Ele destacou que, por envolver o ensino, o assunto é polêmico. "Mesmo assim, o debate deve ser feito de maneira consciente", frisou. De acordo com Azevedo, pelas reuniões realizadas, as escolas e os educadores se dizem receosos quanto a dois pontos: se haverá estrutura para garantir sua aplicação e como se dará o apoio do governo.  
"Os debates não serão encerrados e o diálogo é a única maneira de garantir a aplicação desse novo formato de ensino", ressaltou. A presidente do Cpers/Sindicato, Rejane de Oliveira, disse que o debate é mais amplo e perigoso. Ela acredita que o Ensino Médio poderá ser descaracterizado. "Os estudantes terão dificuldades para ingressar na universidade. Ficarão à mercê de cargos de baixa qualificação", projetou.
Correio do Povo (RS)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Mostrando a Língua - 36

Salve, gente!
Hoje é QUARTA NOBRE! Puxem os tapetes,liguem o som bem alto, 'abram a roda', como diz nossa  diqueira Aline Póvoa Siqueira,  para receber mais dois amigos dela ( suponho que advogados)- ANA LUZIA e RENATO que ocuparão as cadeiras 121 e 122, respectivamente.
Também é dia de incluir minha amiga e estilista de mão cheia, colega da UCAM, professora MARIA LUIZA CASTELO BRANCO- cadeira 123.
Nossa! Como estamos aumentando o grupo! Vcs não imaginam minha alegria em saber que tantas pessoas se interessam pela Língua Portuguesa e, mais que isso, poderão fazer bom uso de nossas dicas na fala de cada dia.
Fiz tanta folia que quase me esqueço da dica!
A de hoje é básica, mas necessária. Neste fim de semana, li e ouvi duas vezes o emprego da palavra VULTUOSA, no lugar de VULTOSA!
E há diferença? Claro que sim! E grande, embora as palavras sejam tão semelhantes. Vamos lá!
VULTOSO - vem de vulto, volumoso,considerável.
Ex.: Serão destinados recursos VULTOSOS à Educação.
Gastou VULTOSAS quantias em seu tratamento.
VULTUOSO - inchado e vermelho, em relação a rosto e lábios.
Ex.:Depois da cirurgia, o rosto dela estava VULTUOSO.
Por que seus lábios estão assim VULTUOSOS?

Então: usar uma pela outra significa alterar todo o sentido do texto. Afirmar que o governo gasta quantias vultuosas em viagens é, portanto, erro semântico sério, como afirmar que a pele de alguém está vultosa.

É bom que vcs saibam que o dicionário Houaiss aponta as duas como sinônimas, no que é contestado, veementemente, pelo Aurélio e pelo dicionário Barsa. E, se analisarmos as origens, perceberemos que os dois últimos dicionários estão corretos, não é?
Como já estamos sabidinhos, não erraremos mais no uso destas palavras, com certeza.
Grande e fraterno abraço da
Edinalda

Alunos analfabetos

No primeiro semestre, aplicou-se a Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) em turmas de alunos que concluíram o 3º ano do ensino fundamental, em todas as capitais do país. Uma iniciativa do movimento Todos pela Educação, com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O resultado é alarmante. Constatou-se que 43,9% dos alunos são deficientes em leitura e 46,6% em escrita. Ou seja, são semialfabetizados. Não captam o significado do que leem e redigem uma simples carta com graves erros gramaticais.
Quanto à leitura, quase metade (48,6%) dos alunos da rede pública correspondeu ao resultado esperado. Na rede de escolas particulares, o desempenho foi bem melhor: 79%. No item escrita tiveram bom resultado apenas 43,9% dos alunos da rede pública. Na rede particular, 86,2% dos alunos se saíram bem em redação.
Os índices demonstram que, no Brasil, a desigualdade social se alia à desigualdade educacional. Alunos da rede pública, oriundos, na maioria, de famílias de baixa renda, não trazem de berço o hábito de leitura. Seus pais possuem baixa escolaridade e o livro não é considerado um bem essencial a ser adquirido, como ocorre em famílias de renda mais elevada.
De qualquer modo, é preocupante o fato de alunos, tanto da rede pública quanto da particular, não atingirem 100% de alfabetização ao concluir o 3º ano do ensino fundamental. O que demonstra falta de método de alfabetização, embora esta seja a nação que gerou Paulo Freire.
Uma criança que, aos 8 anos, tem dificuldade de leitura e escrita sente-se incapaz de lidar com os textos de outras disciplinas escolares, o que prejudicará seu aprendizado. Uma alfabetização incompleta constitui um incentivo ao abandono da escola ou a uma escolaridade medíocre.
É hora de se perguntar se a progressão automática, isto é, fazer o aluno passar de ano sem provar estar em condições, é uma pedagogia recomendável. Com certeza, no futuro, o adulto com insuficiente escolaridade não merecerá aprovação automática em empregos que exigem concurso e qualificação.
Priscila Cruz, do Todos pela Educação, frisa a importância da Educação infantil (creches, jardim da infância etc.) para dar à criança uma boa alfabetização. Para que se desperte na criança a facilidade de síntese cognitiva é importante que ela comece a ouvir histórias ainda no ventre materno.
O Brasil é um país às avessas. A Constituição de 1988 cometeu o erro de incumbir a União do ensino superior, o estado do ensino médio, e o município do ensino fundamental. Ora, uma nação se faz com Educação. E a base reside no ensino fundamental. Dele devia cuidar o MEC.
Nenhum governo implementou, ainda, a revolução educacional sonhada por Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, Paulo Freire e tantos outros educadores.
Como acreditar que apenas 4 horas de permanência na escola são suficientes para uma boa Educação? Por que os alunos não permanecem de 6 a 8 horas por dia na escola, como ocorre em tantos países? No Brasil, 10% da população adulta é considerada analfabeta. No Chile, 3,4%. Na Argentina, 2,8%. No Uruguai, 2%. Em Cuba e na Bolívia, 0%.
Outros fatores que contribuem para a semialfabetização são o desinteresse dos pais pelo desempenho escolar do filho e o longo tempo que este dedica à TV e a navegar aleatoriamente na internet.
Nesta era imagética, há o sério risco de se multiplicar o número de analfabetos funcionais ou de alfabetizados iletrados, aqueles que sabem ler, mas não interpretar o texto, e muito menos evitar erros primários na escrita.
O governo deve à nação uma eficiente campanha nacional de alfabetização, inclusive entre alunos dos 3º e 4º anos. Para isso, há que ter método. Há vários. Quem se interessar por um realmente eficiente, basta indagar do deputado Tiririca como ele se alfabetizou em dois meses, a tempo de obter seu diploma na Justiça Eleitoral.
Frei Beto, in: Gazeta - PR

Diez por ciento del pibe

O poeta argentino Rubén Derlis é autor de belo poema em que retrata a dor da injustiça social vivida por um garoto que trabalha como flanelinha nos semáforos. O pobre menino está na rua, limpando vidros de automóveis, justo nos momentos em que deveria estar em sala de aula.
O título do poema é “Gorrión de semáforo”. Eis uma das estrofes: “A este pibe sin lápiz, / ausente en los recreos, / le condenaron todos los posibles, / menos el de su nada”. Os leitores deste meu texto, mesmo não sendo doutos na língua espanhola, sabem o que quer dizer lápiz e recreos. Mas muitos certamente não sabem o que quer dizer pibe. Essa palavrinha simpática é sinônima de niño, muchacho.
Quando as autodenominadas esquerdas autênticas defendem “dez por cento do PIB” para a Educação, penso imediatamente no pibe abandonado. Lembro-me das centenas de milhares de pibes, espalhados pelo Brasil, que, ao invés de estarem nas escolas, estão nas ruas, nos semáforos, dormindo nas calçadas da noite perigosa.
Mas não são apenas desses meninos e meninas que me lembro. Penso também nos pibes que, mesmo frequentando as salas de aula, às vezes alimentados por merendas de baixo teor nutritivo, irão sair das escolas como analfabetos funcionais.
Por que reivindicar 10% do PIB? Por que não 9%? Por que não 12%? Com a aplicação da décima parte do Produto Interno Bruto na Educação, estaremos resolvendo definitivamente o dramático problema brasileiro de formação das novas gerações?
Todos acham que Educação é item primordial e que o Brasil do futuro só será poderoso se todos tiverem, hoje, acesso à Educação de qualidade. Então, por coerência, o poder público deveria investir incondicionalmente em Educação.
Só um tratamento de choque, radical, por meio de uma revolução pacífica dentro da legalidade, dará lugar à solução de todos os problemas brasileiros. O acesso universal à Educação de qualidade determinaria automaticamente soluções para a violência, para a segurança e para a saúde.
Em 2010, menos de 3% do Orçamento Geral da União foram destinados à Educação. A luta por 10% do PIB para a Educação pública, então, enche os olhos daqueles que têm esperanças nos lutadores sociais. Mas atentemos para o fato de que não são apenas as esquerdas da oposição que abraçam a campanha. Governistas também estão engajados na campanha reformista.
Eu disse reformista. Isso mesmo. É reformista, não revolucionária, essa luta que vai culminar com um plebiscito informal e extraoficial que em breve será organizado. Aliás, parece que não haverá apenas um plebiscito.
As autodenominadas e pretensas esquerdas se dividem: anunciam a promoção de dois plebiscitos, com votações concorrentes entre si. Aguardemos para ver qual plebiscito terá mais sucesso.
Atualmente, o Brasil destina cerca de 5% do PIB para a Educação: 1,2% da União, 2,4% dos estados e 2,2% dos municípios. Portanto, aqueles que reivindicam 10%, parecem acreditar que tudo se resolverá se duplicarmos a verba. Ledo engano! A miséria educacional, escancarada há séculos em nosso país, é gritante.
Ela permite que qualquer leigo em história e estatística possa deduzir, após um simples olhar observador para a realidade, que precisamos decuplicar o investimento em Educação. Em outras palavras, precisaríamos que, durante uma década, pelo menos, 50% do PIB fosse aplicado na Educação.
Em 2010, a União destinou 1,96% do Orçamento federal para a Defesa; 0,13% para Relações Exteriores; 0,13% para urbanismo; 0,10% para a indústria; 2,74% para assistência social; 2,89% para a Educação e 45% para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública. Ou seja, o bolo foi dividido com prioridades, pesos e critérios cheios de nebulosidades.
Ação revolucionária para resolver de uma vez por todas o problema educacional seria aquela que tratasse de lhe destinar, na integralidade, os recursos necessários. Dever-se-ia, inicialmente, dar resposta à seguinte pergunta: quanto é necessário ser reservado, do Orçamento Geral da União, para que o problema da Educação no Brasil possa ser definitivamente resolvido?
Respondida essa pergunta, destinar-se-iam os recursos integrais e necessários ao item Educação, deixando para ser dividido, aí sim, entre os outros itens, o que sobrasse.
As crianças brasileiras — as estatísticas têm mostrado — não têm acesso à Educação de qualidade e gratuita, de modo a garantir sua formação em 100% de suas necessidades.
O pibe, infelizmente, vem sendo atendido apenas em 10% de sua formação: apenas diez por ciento del pibe são atendidos, ficando 90% de seu intelecto habitados pela ignorância, a desinformação, o ponto de interrogação e o vazio desafiador da incerteza de vida digna.Esse vazio, muitas vezes, acaba sendo preenchido pelo mal, pela violência, pelo desamor próprio, pela luta fratricida pela sobrevivência.
Correio Braziliense (DF)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Descaso com a infância

A capital federal tem a maior renda do país e ostenta o menor índice de analfabetismo entre as unidades da Federação. Mas quando o assunto é a oferta de Educação a crianças com até cinco anos, Brasília ocupa uma posição vergonhosa: a cidade tem o menor percentual de meninos e meninas matriculados em creches.
Apenas 16,3% dos brasilienses nessa faixa etária estão inseridos na rede pública de ensino. O percentual é muito inferior ao registrado em estados do Norte e do Nordeste. No Maranhão, Piauí e Ceará, por exemplo, cerca de 35% das crianças estão matriculadas nesses estabelecimentos. A média brasileira é de 29,3%.
O descaso com os brasileiros que têm menos de 5 anos é ainda mais evidente diante dos dados do Censo que mostram um crescimento lento da população nessa faixa etária.
A taxa de fertilidade caiu. Portanto, nascem menos crianças. E essa demanda poderia ser atendida mais facilmente. O ensino infantil, que consiste na primeira etapa da Educação básica, não é obrigatório, mas existe um grande movimento para que esse se torne um dever do Estado.
“Os resultados mostram o tamanho do desafio e a necessidade de um grande empenho por parte das políticas sociais para aumentar a taxa de atendimento das crianças de zero a cinco anos de idade”, diz um trecho do documento de análise dos dados do Censo, assinado pela presidente do IBGE, Wasmália Bivar.
Além de representar uma tranquilidade para os pais, a presença de crianças nas creches é importante para a formação delas. “A escola é uma agência socializadora de desenvolvimento. A literatura mostra que, com a Educação infantil, a criança adquire maior capacidade para solucionar problemas, além de ganhar uma maior competência cognitiva”, explica o professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília Áderson Costa.
A Secretaria de Educação do DF reconhece o grande deficit de vagas em creches. Segundo a diretora de Educação Infantil, Edna Barroso, existem apenas oito mantidas pelo governo, mas a pasta paga matrículas de crianças em 44 instituições particulares.
Ao todo, 6,5 mil crianças estão nas creches do governo. A diretora afirma que os números devem melhorar a longo prazo. “As creches exigem investimento alto porque os prédios têm que ser adaptados e o número de professores e monitores tem que ser muito maior.”
A balconista Ivonete Soares Rodrigues, 27 anos, espera pelos investimentos. Mãe de duas crianças, ela gasta um terço do salário para poder trabalhar. Hugo, de 7 anos, já está na escola. Mas Ivonete não conseguiu creche para o caçula, Heitor, de 3. “Tenho que pagar R$ 190 por mês para a moça que cuida do menino mais novo. Esse dinheiro faz muita falta no fim do mês, mas não tem outro jeito, já que nunca consegui vaga em creche do governo”, lamenta.
Correio Braziliense (DF)

Pensando no futuro, pais investem na educação bilíngue dos filhos

Mãe brasileira, pai norueguês e professores ingleses. Foi em meio a essa realidade que Cláudia Storvik criou a filha, hoje com 13 anos. "Sempre soube que ela iria crescer escutando três línguas diferentes: português, norueguês e inglês", conta a advogada moradora de Londres, na Inglaterra.
Cláudia sempre lidou de forma natural com situação peculiar da família, mas comenta que muitos pais que vivem em condições semelhantes não encaram de forma tranquila. "Eles têm medo que a criança não fale, que comece a falar muito tarde ou que fique confusa com mais de uma língua", diz.
Porém, o que é motivo de receio para muitos pais no exterior têm se tornado uma opção atrativa para aqueles que permanecem no Brasil. O ensino bilíngue ou multilíngue - que é caracterizado quando uma criança é alfabetizada em duas ou mais línguas, respectivamente - não é mais realidade somente para crianças que vivem em outro país.
"Com a globalização, a internet e o crescimento da necessidade do uso do inglês no trabalho e na comunicação, os responsáveis têm demandado melhores resultados linguísticos de seus filhos", afirma Vanessa Tenório, sócia do Systemic Bilingual de Ensino, empresa especializada em implementar educação bilíngue em escolas.
Vanessa enxergou o potencial do ensino bilíngue no país em 1998, quando fundou a empresa com a irmã Fátima. Utilizando um método que aplica o inglês de cinco a dez horas semanais para trabalhar matérias escolares como matemática, ciências, história, geografia, artes e outras, a mestre em Educação começou a implementar o modelo em escolas particulares de São Paulo.
Em 2010, o programa foi inserido em quatro escolas privadas, duas em São Paulo, uma no Rio Grande do Norte e a última em Minas Gerais. Neste ano, o número aumentou para 40 colégios privados em 12 Estados no Brasil.
Por não possuir legislação específica e nem dados oficiais, o número de escolas bilíngues no Brasil ainda é incerto. Contudo, Lyle Gordon French, ex-diretor pedagógico da Escola Cidade Jardim/PlayPen (SP) fez um mapeamento dessas instituições de ensino durante os anos de 2007 e 2009, e concluiu que o número de escolas bilíngues cresceu 24% em apenas dois anos. De acordo com a apuração, eram 149 colégios no ano de 2007 e 180 em 2009.
"A questão é que a velha fórmula do inglês oferecido no colégio, que é somente o estudo da estrutura da língua, nunca levou a resultados palpáveis em termos do uso efetivo da língua para a comunicação fluente", explica Vanessa. Para ela, o que os pais buscam é uma fluência dos pequenos, principalmente na língua inglesa.
"O ensino bilíngue consegue isso, uma vez que trata a língua estrangeira como um meio de comunicação efetiva dentro de um contexto, seja em uma aula de culinária, matemática ou história".
A paulista Lilian da Silva Santos colocou a filha Marina em uma escola bilíngue já no primeiro ano de idade. Hoje, com 7 anos, a menina já consegue se comunicar de forma fluente em inglês e em português. "Eu e meu marido sofremos para aprender um pouco de inglês nos velhos cursinhos de idiomas. Gostaríamos que nossa filha aprendesse de maneira mais tranquila a língua, pois o inglês é essencial na vida acadêmica e profissional", conta a terapeuta ocupacional.

Aprender outro idioma antes dos 6 anos facilita fluência
No pátio do Colégio Friburgo, em São Paulo, uma turma da segunda série é separada em grupos de quatro. Em seguida, a professora entrega uma cartolina para cada grupo com caixas de tinta e canetinhas coloridas. Os alunos são instruídos a pintar os círculos desenhados conforme a cor descrita. A atividade seria algo ordinário não fosse o idioma falado fluentemente pela professora e os pequenos alunos: o inglês.
O exemplo da aula bilíngue da escola Friburgo comprova um fato explicado por Ricardo Schütz, pesquisador do ensino de inglês e criador do site English Made in Brazil: as crianças se adaptam ao idioma para conseguir se comunicar. Criando a filha em Londres e falando com ela em português em casa, Cláudia Storvik confirma a tese.
"Desde o nascimento de nossa filha, eu falava português com ela, e meu marido, que é norueguês, falava a sua língua materna. Usávamos o famoso sistema 'one parent, one language' (um pai, uma língua)", conta explicando que somente tomavam o cuidado de sempre falar com a filha no mesmo idioma: a mãe em português e o pai em norueguês. "Assim ela sabia que, para se comunicar comigo, precisava falar em português, com o pai, em norueguês, e na escola, em inglês", conta.
Cláudia afirma que a filha começou a falar com 10 meses de vida. "No começo, ela misturava as palavras, mas isso é normal e não é sinal de confusão. No início, a criança pode usar palavras das várias línguas indiscriminadamente, como minha filha fazia, porque seu principal objetivo é se comunicar. Mas uma vez que seu vocabulário cresce, o uso de cada língua passa a ser sistemático", explica.
No site English Made in Brazil, que publica artigos e estudos científicos sobre o aprendizado de idiomas, Schütz descreve que o estudo antes dos 6 anos de idade é o que torna a criança fluente em um idioma.
Ele afirma que os dois hemisférios cerebrais desempenham diferentes funções - o lado esquerdo é lógico e analítico, enquanto o direito é criativo e especializado em percepção e construção de conhecimento. O hemisfério direito seria, por assim dizer, a porta de entrada das experiências e a área de processamento para transformá-las em conhecimento.
O pesquisador explica que, no cérebro de uma criança, os dois hemisférios estão mais interligados do que no cérebro de um adulto, o que significa que este é o melhor período da vida para se aprender qualquer coisa, incluindo idiomas. Com isso, a assimilação da língua ocorreria via hemisfério direito para ser sedimentada no hemisfério esquerdo como habilidade permanente, a tão desejada fluência.
Ainda de acordo com ele, a maior separação dos dois hemisférios ocorre a partir da puberdade, por volta dos 12 anos de idade, ou seja, depois disso, se torna cada vez mais difícil tornar-se fluente em outras línguas. O auge da comunicação entre as duas partes do cérebro ocorre do primeiro ao sexto ano de vida, daí a facilidade das crianças em aprender novos idiomas.

Escolas bilíngues são mais caras
Porém, os pais que querem propiciar uma alfabetização para os filhos em dois idiomas precisam se preparar para os custos elevados. Segundo Vanessa Tenório, esses colégios geralmente são mais caros porque a carga horária é superior e porque demandam a contratação de profissionais mais especializados.
Segundo a especialista, essas escolas costumam ter mais horas de aula por dia, mas na educação infantil é comum lecionar uma aula do currículo padrão no segundo idioma, sem acrescentar mais tempo no colégio.
"O conceito é usar a língua como meio de comunicação, e não como fim", diz ela, explicando que o ensino bilíngue não compreende aulas sobre o idioma estrangeiro, mas assuntos diversos lecionados em um outro idioma além do português. "Só assim em nível subconsciente que o aluno vai poder se tornar fluente um dia", finaliza.
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