EUSÉBIO (CE). Sair para trabalhar ao lado dos filhos virou motivo de satisfação para a professora Lislene Pires dos Santos, da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Otoni Sá, em Eusébio, região metropolitana de Fortaleza. Lislene atende crianças com necessidades especiais. Ao mesmo tempo, fica de olho nos filhos de 7 e 10 anos, alunos em tempo integral na mesma escola.
Eusébio foi o único município cearense a universalizar o programa do tempo integral nas 35 unidades da rede municipal, desde o ano passado. Até ultrapassou a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) que prevê a implantação desse regime em 50% das escolas públicas de Educação Básica só em 2020. Ao todo, são beneficiados 3.500 alunos do berçário ao 9º ano, num universo de 13.500 matrículas.
A jornada vai das 7h às 17h. Em um turno há disciplinas curriculares. No outro, esporte, informática e oficinas de Português, Inglês, Matemática, artes, crochê, renda e tear. O artesanato é vendido na comunidade e o dinheiro, usado para comprar matéria-prima. Na escola, os alunos fazem o dever de casa, chamado de tarefa orientada.
Em todas as escolas foi instituído o almoço pedagógico. Os "bandejões" e utensílios de plástico foram abolidos. Cada criança, a partir dos 6 anos, serve-se sozinha e come em prato de louça, com copo de vidro e talher inoxidável. O receio de que os objetos virassem armas deu lugar ao orgulho de ver as crianças comendo com Educação.
Garfo e faca não intimidam mais Artur de Oliveira Saraiva, de 6 anos que, diferentemente dos pais, não usa só colher. O almoço pedagógico surgiu quando a secretária municipal de Educação, Marta Cordeiro, viu, num shopping de Fortaleza, um garçom rindo de uma família que pediu colheres para comer.
- Prometi que nunca nossas crianças iriam passar por aquela humilhação.
Comida tem à vontade e ninguém precisa disfarçar o apetite. No começo, os olhos eram maiores que a barriga. Ao todo, fazem três refeições na escola.
- O que eu gosto mais é da comida e de dormir - disse Fransley Rodrigues Silva, de 11 anos, aluno da 4ª série.
A sesta é outra decisão compartilhada pelas escolas. As professoras perceberam que a falta do descanso prejudicava as atividades depois do almoço. Durante uma hora, as salas são transformadas em dormitórios, com os alunos separados por faixa etária e sexo.
Para a secretária de Educação do município, universalizar o tempo integral não é bicho de sete cabeças, e um passo é fundamental: sensibilizar a comunidade escolar e os pais dos alunos.
- Sei que todo sonho de educador vira pesadelo muito cedo. Mas aqui resolvemos sonhar juntos - diz Marta.
A experiência derrubou o mito de que o programa requer investimento alto e grandes obras. As escolas sofreram apenas algumas adaptações. Salas usadas pela administração foram cedidas para outras atividades. Eusébio investe de 28% a 30% do orçamento em Educação, enquanto a lei determina 25%.
Isabela Martin, Jornal O Globo
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