Desde a Revolução de 1930, o Brasil trocou de ministro da Educação em média em intervalos inferiores a dois anos. Foram quase 50 ministros, sem contar os interinos. Houve, no entanto, duas notáveis exceções: Gustavo Capanema, de 1934 a 1945, e 60 anos depois, Paulo Renato Souza, ministro de Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 a 2002.
Paulo Renato morreu no último sábado, no interior de São Paulo, depois de sofrer um infarto fulminante, aos 65 anos. Uma morte precoce de alguém que foi um ministro vitorioso de uma área em que o país vem pecando ano após ano e, com certeza, vai fazer muita falta ao Brasil
Cercado de técnicos de alto nível, como ele próprio, Paulo Renato mexeu nas estruturas da Educação brasileira ao criar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, o Fundef (hoje Fundeb), o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, e de tirar da gaveta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, além de ter conseguido universalizar o ensino fundamental.
Falta-nos o ministro que realmente suceda a Capanema e a Paulo Renato, que assuma o resgate da grande dívida que o país tem com os brasileiros. Dívida que é o maior empecilho ao nosso desenvolvimento.
Sem prioridade à Educação básica de qualidade, não haverá mão-de-obra qualificada e nem técnicos de nível superior capazes de gerir um país como o nosso.
É preciso enfrentar o forte corporativismo das universidades públicas (que, aliás, ficam com a maior parte dos recursos enquanto o ensino básico vive na penúria). Elas, hoje, são exclusividade da classe média, que tem acesso ao ensino médio privado e de uma meia dúzia de afrodescendentes que beneficiados pelo sistema de cotas.
Os pobres vão para as faculdades privadas não para as de qualidade, que são melhores que as públicas e caras, mas para aquelas sem compromissos com a qualidade do ensino, verdadeiras fábricas de diploma que só nisso parecem chinesas, produzindo canudos- quinquilharias.
Qualquer comparação internacional é constrangedora. De acordo com a pesquisa mais rigorosa a respeito, a edição de 2009 do Program for International Student Assessment (Pisa), o Brasil está pior não apenas que qualquer país desenvolvido no domínio de leitura, matemática e ciências.
É superado por países como Turquia, Uruguai, México e Colômbia. Além de formarmos menos profissionais da área técnica que o necessário, nossos formados não têm os conhecimentos específicos suficientes, em parte porque chegam às faculdades sem saber o que deveriam ter aprendido no ensino médio, como ocorre com os coreanos, para citar apenas um exemplo. É o suficiente para erguer uma barreira intransponível para o futuro.
Nossas universidades públicas devem priorizar os cursos de ciências exatas como matemática, física, química, medicina, engenharia, além de cursos em áreas tecnológicas em que avançamos muito, em particular a partir da gestão de Paulo Renato no MEC, mas em quantidade insuficiente.
Do contrário, logo estaremos importando produtos chineses que não serão vendidos por camelôs, mas por engenheiros e não será para construir um futuro para os brasileiros.
Fonte: Brasil Econômico (SP)
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