Tempos atrás, ter um filho com dificuldades para aprender era algo bastante desconfortante. Pairava no ar a dúvida sobre ele ser ou não inteligente. Havia, como ainda existe hoje, testes de inteligência que mediam o QI (quociente intelectual). De maneira onipotente, diziam e prediziam qual era a capacidade da criança. Pouco ou nada ajudavam, principalmente aquelas que apresentavam um baixo desempenho.
Para as consideradas pouco capazes, o lugar reservado era o do fracasso, com um futuro não muito promissor. Isso ainda deve acontecer. Porém, com os avanços em diferentes áreas como a pedagogia, psicologia, neurologia, sociologia e outras mais, as coisas mudaram.
Sabe-se, por exemplo, que aprender vai além de se ter um bom potencial intelectual. É necessário que haja condições emocionais. Para a aprendizagem escolar, é de suma importância uma pedagogia competente, que realmente promova o aprendizado.
Os avanços ocorreram não só na maneira de se compreender o aprender, mas também na criação de condições favoráveis para que aqueles que não conseguem se desenvolver na escola consigam caminhar. Há vários recursos para dar suporte a essas crianças e adolescentes. Existem as tradicionais aulas particulares (institucionalizadas nos dias de hoje) e os reforços escolares, terapia psicopedagógica ou psicológica, remédios para se prestar mais atenção às aulas e algumas outras coisas.
São tantas as possibilidades oferecidas fora da escola, que ela anda se esquecendo de sua real obrigação – propiciar o aprendizado de seus alunos. A impressão que dá é que ela está terceirizando isso para outros profissionais, como os psicopedagogos e professores particulares – ou até a uma equipe deles. O aluno que não acompanha suas exigências e planejamento é rotulado com problema e dificuldade.
Além disso, observa-se que vários alunos com bom desempenho escolar têm apresentado um rendimento abaixo de seu perfil. Algo cada vez mais comum. A sensação descrita pelos pais e crianças é que a escola parece estar apertando o cerco em suas exigências.
Colocação no Enem
Em algumas delas, esse fenômeno tem ocorrido por causa das notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Principalmente, quando caíram de posição, de um ano para outro, no ranking das escolas. Apavoraram-se e foram cobradas pelos pais dos alunos. Descontaram neles possíveis problemas pedagógicos que qualquer colégio pode ter.
Uma instituição de ensino tem que mirar em seus alunos para que possa ajudá-los na aprendizagem formal e não usá-los simplesmente para conseguirem uma boa colocação numa prova. Isso será resultado de seu trabalho em conjunto com os estudantes. Não basta cobrar deles. Ela tem que se autoanalisar e ver onde está a precariedade de sua proposta e prática pedagógicas.
Infelizmente, ainda vemos muitas escolas se colocarem numa posição em que têm que ser alcançadas pelos alunos. Em verdade, esquecem-se que elas é que precisam alcançá-los. Por isso, tanta necessidade desses especialistas ficarem orbitando em volta delas. Será que há tanta necessidade deles?
Se há, é porque as escolas não estão fazendo aquilo que deveriam – ensinar ou propiciar a aprendizagem de seus alunos. Elas precisam rever para que servem e a que se prestam: ensiná-los ou apenas ter uma classificação no Enem.
Ana Cássia Maturano, psicóloga e psicopedagoga
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