Hoje comemoramos a data de nascimento de um dos maiores poetas da literatura mundial, Fernando António Nogueira Pessoa, que nasceu em Lisboa, em 13 de junho 1888. Aos cinco anos foi para a África do Sul, onde cursou o primário e o secundário. Em 1905 regressa a Portugal e ingressa na Faculdade de Letras de Lisboa. Não chega a concluir o curso e começa a trabalhar como correspondente comercial em línguas estrangeiras. Em 1912, colabora na revista A Águia e em 1915 torna-se um dos líderes de Orpheu. Mais tarde, escreve para outras revistas que também ajudavam a difundir as correntes de vanguarda, como a Athena e a Presença. Corroído por uma cirrose hepática, morre a 30 de novembro de 1935.
Fernando Pessoa assinou sua obra com vários nomes. Não se trata porém de simples uso de pseudônimo, processo antigo usado para cobrir ou não o anonimato. Os nomes ou máscaras ou heterônimos com que Fernando Pessoa assina sua obra constitui em, cada um deles, uma atitude-experiência assumida pelo próprio Pessoa, como se fossem diversos poetas, todos eles com seu estilo próprio, com sua visão de mundo particular. Assim, nesse desdobramento de si mesmo, Pessoa cria heterônimos:
Alberto Caeiro, o camponês sábio;
Ricardo Reis, o neoclássico, racionalista e semipagão;
Álvaro de Campos, o futurista, neurótico e angustiado;
e muitos outros, como Bernardo Soares, Alexandre Search, Antônio Mora, G. Pacheco, Vicente Guedes, e até o Chevalier de Pas, de quem o menino Fernando Pessoa recebia cartas, que ele mesmo escrevia, aos seis anos de idade.
Além de todos esses heterônimos, Pessoa também assinava alguns textos com seu próprio nome, ortônimo, que passaremos as chamar de Fernando Pessoa ele mesmo. Abaixo dois de seus poemas: Não Sei Quantas Almas Tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as dores que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as dores que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
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