Pela quinta vez em cinco anos, Sandoel Vieira, 16 anos, saiu de Cocal dos Alves (PI) para receber uma medalha nas Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). No Theatro Municipal do Rio, ele recebeu na tarde desta terça-feira sua terceira medalha de ouro – as outras duas foram de bronze – e cumprimentou a presidenta Dilma Rousseff, ao lado de 499 alunos de todo o País.
Sandoel não veio sozinho. Estava no Rio acompanhado de mais três conterrâneos ainda mais jovens, que também obtiveram a premiação máxima da disputa: Clara Mariane Oliveira, 13, Antônio Wesley Vieira, 13 e José Márcio Brito, 15.
O município de 5.600 habitantes – de onde também saiu o vencedor do programa Soletrando – fica a 300 quilômetros da capital Teresina e tem apenas duas escolas públicas – uma municipal e outra estadual. Sozinha, a cidadezinha conseguiu 14 medalhas entre os 3.200 melhores do Brasil. Além das 500 medalhas de ouro, foram distribuídas ainda 900 de prata e 1.800 de bronze pelos resultados, entre 19,5 milhões de competidores, na sexta edição do evento.
A pequena cidade, sozinha, recebeu mais medalhas de ouro que 11 Estados do País. “É a água de lá”, brinca o professor da Universidade Federal do Piauí João Xavier da Cruz Neto. “Como se explica, qual seria a chance de sucesso de uma cidade pequena? Isso se deve à dedicação de dois professores”, afirmou o presidente da Olimpíada e diretor do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), Cesar Camacho.
O provável segredo está na existência de um grupo de estudo de matemática que promove reuniões duas vezes por semana com professores de matemática locais, Antônio Cardoso Amaral e Raimundo Brito, e aulas a cada duas semanas com professores da Universidade Federal do Piauí. “Treinamos problemas sobre assuntos de olimpíada de matemática e nos preparamos”, explica Sandoel. “Eu fico orgulhosa”, diz, quase inaudível, a tímida Clara.
Além de estudar Matemática, Antonio Wesley gosta de jogar videogames e mexer em computadores. “Não posso mexer direito (em computadores), tenho pouco acesso”, conta José Márcio, filho de lavradores, que estuda à noite e não tem computador. Campeão na Matemática, José Marcio pretende trabalhar em um universo mais abstrato que a lavoura de feijão dos pais, que tem pouco estudo. Ele pretende ser pesquisador de Matemática. “Esse prêmio nos dá novas perspectivas e abre possibilidades”, disse Sandoel.
A presidenta Dilma Rousseff acredita que “histórias de superação como as que aqui presenciamos são exemplo para o Brasil”. “Um país não é feito só de realizações concretas, pontes; uma das coisas mais importantes é o conhecimento, a capacidade do ser humano de a cada geração ir além. Aqui estão jovens que podem ir além e serão os instrumentos para que o Brasil vá além. O tamanho de nosso país tem a ver com o tamanho de nossos sonhos”, afirmou.
A presidenta voltou a prometer a criação de um programa que vai distribuir 75.000 bolsas de estudo universitário – da graduação ao pós-doutorado – em universidades de elite do mundo, em países como os Estados Unidos, Alemanha, China e França, por exemplo.
A pentamedalhista de ouro Maria Clara Mendes Silva, mineira de 16 anos que ficou empatada em primeiro lugar neste ano com mais sete alunos, é uma candidata. “Quero estudar no MIT (Massachussetts Institute of Technology) ou em Harvard”, disse ela, que mora em Pirajuba e tem consciência de seu potencial.
Clara faz parte de um grupo de elite da OBMEP, que vem uma vez por mês ao Rio para treinamento em Matemática. Ao lado de André Macieira Costa, 16, e Henrique Fiúza, 15 – ambos de colégios militares – e mais três jovens, ela vai representar o Brasil na Olimpíada Mundial de Matemática, em julho, na Holanda
Fonte: iG Educação
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