Com a conquista do crescimento sustentável se tornando uma realidade, desafios concretos se apresentam ao Brasil e requerem escolhas difíceis e politicamente desafiadoras, mas que, certamente, determinarão onde o país estará absoluta e relativamente nas próximas décadas.
A estabilidade macroeconômica e o crescimento tendem a trazer para o primeiro plano e tornar cada vez mais visíveis os entraves ao crescimento continuado. Exemplos não faltam. Infraestrutura, logística e mão de obra qualificada são alguns deles.
Com o desemprego batendo mínimas históricas e salários em alta, não são raras as queixas quanto à dificuldade de se encontrar mão de obra qualificada para preencher a demanda cada vez maior por este tipo de trabalho, fruto desse novo estágio de crescimento.
Não só pela falta de qualificação ter se tornado um problema visível, mas também pelo fato da qualidade da mesma ser capaz de explicar a diferença de crescimento entre os países, controlando-se por outros fatores, a Educação, que sempre ficou confinada à retórica dos anos eleitorais, torna-se uma questão chave para o que o Brasil pretende ser nas próximas décadas.
A inépcia com a qual a questão é tratada fica clara quando comparamos as ações com a realidade. Distribuem-se livros oficiais com erros crassos de matemática, mapas com rios no lugar errado e incentiva-se o ensino do português alternativo nas Escolas.
Além disso, tramitam no Congresso mais de 200 projetos para a criação de novas disciplinas ou alteração do currículo Escolar, com preocupações como a inclusão do esperanto e iniciação ao turismo.
Para um país que figura entre os últimos colocados nos testes internacionais e onde mais de 65% dos alunos que participaram destes testes podem ser considerados analfabetos funcionais, as atenções parecem realmente estar fora de foco.
De maneira objetiva, a escassez de mão de obra qualificada tende a se tornar um problema cada vez maior e sua solução requer, primeiramente, o reconhecimento da importância da Educação de qualidade para o crescimento de longo prazo.
O investimento em Educação básica e na qualificação dos professores é essencial para o processo de transformação do quadro educacional brasileiro.
Estudos indicam que o baixo nível de habilidades cognitivas dos países latino- americanos são capazes de explicar não só o baixo desempenho relativo deste grupo de países em termos de crescimento econômico nas últimas décadas, mas também de explicar as diferenças de crescimento entre os países que compõem este grupo.
Um estudo aplicado ao Peru, país que nos faz companhia na rabeira dos rankings internacionais e um dos poucos que superamos nos mesmos, mostra que existe uma relação estreita entre o conhecimento que os professores (medido através de testes) têm das matérias por eles ensinadas e o desempenho dos alunos, o que tem muito a sugerir ao Brasil em termos de política pública.
Estes dois pontos são fundamentais para que o país consiga fazer com que os ganhos educacionais sejam medidos em termos de qualidade, que é o que, no final das contas, contribui para o crescimento econômico com mão de obra qualificada e para uma sociedade mais democrática.
Fonte: Brasil Econômico (SP)
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