O país considerado a sexta economia do mundo ainda carrega o número de cerca de 15 milhões de analfabetos adultos. E apresenta sérias dificuldades para ensinar 100% de suas crianças a ler e escrever na idade certa: o Censo 2010 do IBGE mostra que 15% das crianças com 8 anos ainda são analfabetas; entre as mais pobres, o percentual vai a 29%, enquanto, entre as mais ricas, cai para apenas 1%.
Uma das falhas mais apontadas por educadores é que as escolas costumam colocar nas séries iniciais, onde ocorre a alfabetização, justamente professores iniciantes e menos preparados. Não é este o caso de um seleto grupo de professores da rede municipal do Rio, que mostram que é possível ter bons resultados mesmo trabalhando com alunos de áreas pobres.
Vânia Lima, Paloma Waite, Elaine Souza e Simone Alcântara são as primeiras colocadas num ranking dos professores de turmas de alfabetização com melhor desempenho. O ranking, no qual entraram 741 escolas municipais, é resultado de uma avaliação dessas turmas da rede em 2011 - e dá exemplos do que significa ensinar uma criança a ler, escrever e também entender.
A nota desejável na avaliação, com critérios da Provinha Brasil, do Inep, era 150. Todas as turmas nas dez primeiras posições tiraram mais de 220, e a maioria fica em áreas com baixos indicadores sociais: são da Zona Norte e Oeste sete das oito escolas da lista com as dez professoras mais bem colocadas (há duas escolas com duas turmas na lista).
Para ajudar a entender o que há em comum entre as professoras campeãs de alfabetização, O GLOBO filmou as aulas dessas profissionais e pediu à educadora Andrea Ramal, doutora em Educação pela PUC-Rio e autora de "Depende de você - Como fazer de seu filho uma história de sucesso", para identificar boas práticas (os vídeos podem ser vistos no site do GLOBO).
- Você precisa ter uma metodologia de trabalho. Mas, além desse planejamento sistemático, ser um bom alfabetizador significa você dar atenção personalizada a seus alunos. Tem que ficar atento aos ritmos de cada um. E ter orgulho de ensinar.
Nas três escolas visitadas pelo GLOBO, duas convivem com a violência ao redor. Uma estratégia comum às professoras é acalmar os alunos, seja colocando um CD para relaxarem, seja permitindo que falem um pouco dos problemas que os aborrecem antes de começar a lição.
As professoras incentivam a leitura desde cedo, mas também dão margem para que as crianças tenham papel mais ativo, construindo suas próprias histórias, em vez de apenas lerem textos decorados. E têm a preocupação de fazer com que todos os alunos aprendam, não apenas os melhores.
A secretária municipal de Educação do Rio, Claudia Costin, diz que um dos principais problemas diagnosticados ao assumir o cargo era o alto percentual de analfabetos funcionais na rede.
- Em 2009, aplicamos uma prova nas escolas municipais e constatamos que tínhamos 28 mil estudantes analfabetos funcionais. No 4, 5 e 6 anos, 14% dos alunos liam sem entender ou desenhavam a letra sem saber o que era - conta a secretária.
- Realfabetizamos esses alunos, tirando-os das suas turmas para fazer grupos de reforço de um ano. Mas também precisávamos melhorar a alfabetização, senão continuaríamos a produzir analfabetos funcionais.
Uma das ações para combater o problema foi justamente a criação de avaliações das turmas de alfabetização: uma quando o aluno entra no 1 ano (antiga classe de alfabetização); uma segunda no meio do ano; e uma terceira, que ganhou o nome de AlfabetizaRio e é aplicada ao final do ano letivo, por uma instituição externa (em 2011, a segunda edição da avaliação, foi a Consulplan).
Base das avaliações do AlfabetizaRio, a Provinha Brasil será reformulada pelo MEC. Hoje, o resultado das provas aplicadas nas escolas não vai para o ministério, ficando para exame dos próprios professores. A ideia é fazer com esse resultado também seja enviado à pasta.
Fonte: O Globo (RJ)
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