Considerando a calamidade em que vive a Educação brasileira hoje, pela avalanche de reformas que caracterizou a última década do século passado e o início deste século, numa visão ameaçadora para o processo ensino-aprendizagem, cabe refletir sobre as futuras consequências provocadas por práticas didáticas que não conseguiram, até o presente momento, subtrair o analfabetismo no Brasil, mas multiplicar os analfabetos funcionais.
Sabemos que as Escolas brasileiras foram incorporando, com naturalidade, a Pedagogia da Repetência, em especial nos ciclos básicos da Escolaridade. Rotular uma criança por habilidades e competências não satisfatórias ao chegar à Escola levou a Educação fundamental a um estado de falência. Agora o cenário é outro e, para nossa angústia, muito pior. A Pedagogia da Repetência cedeu lugar à Pedagogia da Aprovação. A Escola não sabe efetivamente como agir, gerada por práticas inadequadas de gestão superior que subestima a capacidade do aluno.
Exemplo desta situação foram os malfadados testes de Lourenço Filho, que, depois de muitos estragos emocionais, foram tardiamente banidos da Escola. Aí começava a discriminação às capacidades da criança. A solução é uma só: encarar a alfabetização como um processo a que todas as crianças são capazes de chegar em um ano letivo, ou menos, com larga margem de possibilidades. Basta que o ponto de partida atenda às suas necessidades e expectativas em ações concretas de atividades criativas. A “progressão continuada ao longo dos três anos iniciais” não é novidade, pois sabemos por experiência profissional que o acompanhamento contínuo nas séries iniciais sempre existiu como imperiosa necessidade para o letramento fundamental.
Fazer acontecer um tempo novo na Educação brasileira pressupõe a conjugação de dois fatores: o político e o pedagógico. Um não caminha sem o outro. Recursos materiais em laboratórios e bibliotecas; classes menos numerosas especialmente, no primeiro ano, pois alfabetizar é um processo artesanal pelas exigências de um tratamento individual à criança. Maior permanência na Escola possibilitando atividades lúdicas, criando espaços para produzir socialização e conhecimento.
Capacitar e valorizar o professor, agente direto da aprendizagem são princípios referenciais de soluções responsáveis e consequentes. Falar em reprovação quando se pode ensinar para o sucesso é uma triste condição, tão lamentável quanto enganar uma criança com falsas ilusões. Ela conhece o que sabe e porque precisa recuperar conteúdos. É preciso, sim, não permitir que aconteça a repetência, sentir-se-á insegura sempre, no convívio com os colegas.
Exercitar uma pedagogia crítica tão exemplificada por Piaget é assumir a responsabilidade inerente ao professor. Com Educação não se brinca de “faz de conta” e se a vigência desta ridícula resolução de aprovar alunos em cascatas, estendendo o “benefício” até o ensino médio, como será o ingresso na universidade? Por cotas de aprovação continuada? Pobre profissional do Brasil de amanhã. A vida os reprovará, com certeza.
Nylza Osório Jorgens Bertoldi, educadora e escritora, in: Zero Hora (RS)
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