Disciplina obrigatória a partir do
6.º ano do ensino fundamental, o “inglês de colégio” – como é pejorativamente
chamado o ensino da língua inglesa nas Escolas regulares – virou sinônimo de
conhecimento superficial e insuficiente para se comunicar. Para especialistas,
o ensino de língua estrangeira ainda é desvalorizado nas discussões sobre
Educação, as condições de trabalho dos profissionais são precárias e os métodos
de ensino são meramente burocráticos.
O problema é mais evidente na rede
pública, mas um grande número de instituições privadas segue os mesmos padrões,
tornando quase obrigatória a matrícula de crianças e adolescentes em cursos de
idiomas no contraturno para que dominem uma segunda língua.
A engenheira ambiental Ana Paula Tebaldi, 28 anos, estudou
em colégio público e sentiu a necessidade de fazer um curso particular de
inglês antes de entrar na faculdade. Ciente da importância do idioma e sem
acreditar que o ensino regular daria conta de fazer com que o filho aprendesse
inglês, ela já matriculou Artur, 6 anos, em uma Escola privada de inglês.
“Quando a instituição trata exclusivamente do ensino de línguas, o aprendizado
é melhor”, considera.
Faculdade de Letras não é suficiente para formar bons
professores
Embora uma boa estrutura e um sistema
de ensino eficaz sejam essenciais para a aprendizagem, a qualidade da aula
depende em grande parte da formação do professor. De acordo com o professor
Luiz Fernando Schibelbain, para ensinar alguém a falar inglês não basta ter
apenas faculdade de Letras. “Quando eu era aluno aprendi teorias sobre a
língua, mas não a dar aula de forma comunicativa”, conta. Para ele, as
universidades deviam se preocupar em capacitar os acadêmicos a ensinar idiomas
de modo menos burocrático.
A fraca capacitação dos professores é
confirmada por Marila Hanech, coordenadora do curso de inglês do Centro
Europeu. Ela relata que recebe frequentemente na instituição professores de
língua estrangeira da rede pública que se matriculam no nível básico, com um
conhecimento do idioma muito abaixo do esperado para um profissional da área.
Comparação com cursos de idiomas realça deficiência
A professora e doutora Clarissa
Jordão, do curso de Letras da UFPR, reconhece os problemas do ensino de inglês
em Escolas regulares, mas ressalva que a situação é semelhante em outras
disciplinas, embora não existam muitas referências de comparação.
“Há vários alunos da rede pública
tendo aulas de método Kumon porque não aprendem bem Matemática, mas não se
crucifica o professor dessa matéria, só o de Inglês”, diz. Para Clarissa, é a
visibilidade dos cursos de idiomas que acaba colocando em evidência a
deficiência do ensino de língua estrangeira nas Escolas.
Segundo a professora, a Escola como
um todo não modernizou seus métodos, o que faz o conteúdo parecer irrelevante
para os alunos. “Hoje, os jovens aprendem muito de inglês nos games e na internet,
por exemplo, e isso não é explorado em sala de aula”, lamenta.
No início do mês, o ministro da
Educação, Aloízio Mercadante, disse que interessados em participar do programa
Ciência Sem-Fronteiras, que concede bolsas de estudo no exterior a estudantes
de nível superior, devem agilizar o aprendizado do inglês para facilitar o
ingresso nas universidades internacionais. A cobrança contrasta com as
condições oferecidas pelo próprio Estado.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
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