Mais de um milhão de jovens estão
“presos” no Ensino Fundamental, mostra o Censo Escolar 2011. Esses alunos têm
mais de 14 anos e, por conta de reprovações ou outros fatores, não conseguem
passar de ano e, consequentemente, ir para o Ensino Médio.
“No Brasil, você tem uma forte
defasagem idade-série. Boa parte não conclui o ensino fundamental na idade
correta. Uma das causas disso é a forte reprovação", diz Tufi Machado
Soares, professor da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e especialista
em fluxo escolar. "Evidente que o sistema é falho. Se um aluno é
reprovado, isso ocorre, pelo menos, porque ele não aprendeu o que deveria.”
Esse contingente - os mais de um
milhão de estudantes empacados no Fundamental - é a diferença entre a população
com mais de 14 anos e o número de matriculados no Ensino Fundamental, que
atende justamente o público entre 6 e 14. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), há 29.204.148 pessoas nesta faixa etária e
30.358.640 estudantes registrados entre o 1º e o 9º ano das escolas
brasileiras.
O fato de o estudante não conseguir
ser aprovado gera a chamada “distorção idade-série”. No 8º ano, por exemplo, a
idade média dos estudantes já supera os 14 anos, ficando em 14,3. No 9º ano,
última série do Fundamental, a idade média é de 15,2.
Esse “movimento” entre um nível e outro é chamado de fluxo
escolar. O cálculo do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) leva
em conta, entre outros fatores, o fluxo.
Histórico do fluxo
Porém, a situação já foi pior.
"Estamos melhorando, mas está muito devagar. As políticas que foram
planejadas foram se esgotando. Uma das causas para não se ter um bom fluxo é a
reprovação e o abandono. É preciso combater isso melhorando a qualidade",
disse Soares.
Segundo o Inep (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais), no início dos anos 2000, a diferença entre
matriculados e população chegava a 20% contra os atuais 3,9%. Os números de
2011 mostram também que hoje, afirma o governo, existe uma tendência a que os
alunos consigam passar dos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano).
A correção de fluxo, diz o
especialista, é um processo que vem desde a década de 80 no Brasil. "Num
determinado momento da nossa história, lá na década de 80, pensava-se que
garantir a matrícula era o suficiente ara melhorar os níveis. Com o tempo,
percebeu que isso não era suficiente. Construir escola não bastava",
afirma. Na década de 90, ele diz, houve um aumento na política de correção de
fluxo, que, no entanto, tem dado resultados menos efetivos atualmente.
Soares aponta a progressão continuada nos primeiros anos
do fundamental como umas maneiras para reduzir a distorção: “A reprovação deve
ser uma opção extrema a ser adotada pela escola. Sou contra a reprovação nos
primeiros anos escolares, não vejo motivo para reprovar um aluno.”
Matrículas
Pelo quarto ano seguido, o Brasil
teve uma redução no número de matrículas no ensino básico, com uma queda de
1,1% em relação a 2010. O censo identificou 194.932 escolas no país em 2011,
com 50.972.619 alunos - 84,5% deles em escolas públicas. No ano passado, havia
51.549.889 estudantes.
A queda no número de matrículas foi
puxada pela redução na rede pública fundamental (-2,1% em relação ao ano
anterior) e na educação de jovens e adultos (-6,6% no nível fundamental e -4,4%
no nível médio). Houve crescimento em praticamente todos os outros níveis.
O Inep atribui a redução à
"acomodação do sistema educacional" e no "aperfeiçoamento"
do método de coleta dos dados. Neste ano, para evitar duplicidades, o governo
exigiu a comprovação documental de matrícula e de frequência para os estudantes
com mais de um vínculo escolar (matrículas em mais de uma unidade). A
distribuição de recursos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica) leva em conta o número de alunos dos municípios e Estados.
O Censo Escolar da Educação Básica é
realizado anualmente pelo Inep. Estabelecimentos públicos e privados de
educação básica são obrigados por lei a oferecer as informações.
Afinal, qual é a prioridade do brasil?
Não há dúvidas de que o Brasil tem um
dos maiores mercados potenciais para empresas de Educação. Só em investimento
público são mais de R$ 100 bilhões anuais recursos que, todos estão de acordo,
não dão conta da demanda nacional. Para que o país seja o líder que almeja ser,
os governos vêm investindo em programa de distribuição de livros didáticos,
bolsas de estudos, novos equipamentos eletrônicos (os alunos brasileiros
deverão ter até tablets num futuro próximo). Falta ainda dar conta da lei que
obriga o pagamento do piso salarial para o professor. Mas nada que não possa
ser resolvido quando o legislativo aprovar o novo Plano Nacional de Educação
(PNE), com promessa de aumentar de cerca de 5% do Produto Interno Bruto para
7%, 7,5% ou mesmo 10% pedidos pela sociedade.
Afinal, Educação é prioridade, certo?
Errado. E prova disso, é o descaso com que o alto escalão do governo federal
trata o tema investimento. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, teve um encontro a portas fechadas com parlamentares da Comissão
Especial responsável pela análise da proposta do novo PNE. A área econômica
apoiou a intenção do relator Angelo Vanhoni (PT-PR) de determinar que o país
alcance, em dez anos, um volume de investimento público direto em Educação de
7,5% do PIB.
Em nota pública sobre o encontro, a
Campanha Nacional pelo Direito à Educação lembrou que no dia 15 de outubro de
2010, a então candidata à presidência Dilma Rousseff se comprometeu em uma
Carta-compromisso pela Garantia do Direito à Educação de Qualidade, a alcançar
um patamar de investimento público em Educação pública na ordem de 7% do PIB
até o fim de seu mandato, ou seja, 2014. Agora, o governo diz que vai tentar
cumprir esta meta em uma década. O que mudou neste dois anos, faltou dinheiro?
Não segundo análise do Ipea. Falta é prioridade. E talvez fosse de bom tom o
ministro explica o que é mais prioritário do que a Educação do país. Jogar
bola?
Regiane de Oliveira, in: Brasil Econômico (SP)
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