quinta-feira, 26 de abril de 2012

Só dois em cada 10 “pretos” no 5º ano de públicas sabem o esperado para a série em que estão

Enquanto quase quatro em cada dez estudantes do 5º ano do ensino fundamental brancos de escolas públicas tiveram desempenho na Prova Brasil 2009 em matemática compatível com a série em que estão, apenas dois em dez dos pretos tiveram o mesmo resultado. Essa é uma das conclusões de um estudo da Fundação Lemann, obtido pelo UOL Educação.
"Pretos" é o termo utilizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para se referir a negros. Os outros termos utilizados são "brancos", "pardos", "amarelos" e "indígenas". A pesquisa do instituto tem base autodeclaratória.
Por mais que os resultados dos autodeclarados brancos sejam melhores em todas as séries na qual a prova foi aplicada (5º e 9º anos) e em todas as disciplinas (português e matemática), mais de 60% de todos os alunos, em todas as categorias, não haviam atingido em 2009 o conhecimento adequado para o nível que frequentam.
De acordo com Francisco Soares, especialista em avaliações em educação e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), apesar de os números serem ruins, há motivos para comemorar.
“No meio de tudo isso, há noticias boas. As diferenças entre pardos e brancos tem diminuído. Não sei se porque mais alunos se declaram pardos. Mas com isso, agregar para políticas públicas os pretos aos pardos é perverso. Favorece os que menos precisam”, diz.
A Prova Brasil é aplicada para alunos do 5º e 9º anos do fundamental de escolas públicas municipais, estaduais e federais, de áreas rural e urbana, que tenham, no mínimo, 20 matrículas na série avaliada. O exame acontece a cada dois anos e os dados mais recentes disponíveis são os da prova de 2009.

Pretos têm os piores índices
O cruzamento, feito pelo economista Ernesto Faria, mostra que, independentemente da série ou da disciplina da prova, os estudantes que se declararam pretos têm os piores índices: no 5º ano, 78,8% deles tiraram nota “abaixo do básico” ou “básico” em português e 80,49%, em matemática; no 9º ano, 83,68% e 93,21%, respectivamente.
No 5º ano, em matemática, esses estudantes não conseguem ler informações e números apresentados em tabelas ou identificar que uma operação de divisão resolve um dado problema. Em português, eles não sabem “inferir o sentido de uma expressão metafórica e o efeito de sentido de uma onomatopeia” ou mesmo localizar a informação principal de um texto.
No 9º ano, tirar uma nota menor que o índice “adequado” em matemática significa que o aluno não consegue fazer operações de adição, subtração, divisão ou multiplicação que envolvam centavos em unidades monetárias e/ou resolver problemas com porcentagens. Em português, eles não podem “identificar o conflito gerador do enredo” ou “reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação”.
Soares alerta, no entanto, que a proficiência reflete todos os fatores combinados. “A diferença por raça esconde um fato importante: que os alunos que se autodeclaram pretos são mais pobres. Por isso, buscamos, com ajuda de métodos de análise adequados, obter o efeito puro do sexo, raça, nível socioeconômico, atraso escolar.” 

Classificações
As classificações são usadas pelo movimento Todos pela Educação e por alguns Estados para “categorizar” o conhecimento estudantil e têm quatro níveis: “abaixo do básico”, “básico”, “adequado” e “avançado”. Um estudante no nível “básico”, por exemplo, tem domínio mínimo do conteúdo que deveria saber; um do “adequado”, por sua vez, tem domínio pleno. Existem notas mínimas para cada uma dessas classificações.
Fonte: UOL Educação

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