Para o estudo, que tem apoio do Ministério da Educação (MEC), foram entrevistados professores, diretores, funcionários e alunos do 6º ao 9º ano do Fundamental de 44 escolas estaduais e municipais de 11 capitais do País, entre elas São Paulo.
Os depoimentos, colhidos entre 2009 e 2010, falam de Educação sexual, homossexualidade e preconceito. Na maioria das escolas, casos de bullying contra gays são encarados como brincadeiras naturais, o que torna a homofobia um problema invisível. Alguns relatos presentes no relatório expressam, ainda, profundo desconhecimento sobre a sexualidade.
Um educador de São Paulo diz, por exemplo, que sente “pena” dos gays e afirma não saber se a homossexualidade “é uma doença” ou se o jovem “fica assim” por ser criado no meio de mulheres. Outro, também da capital, diz que a homossexualidade pode ser detectada pela anatomia, já que as lésbicas não teriam “cintura afinada.”
Cada cidade recebeu seis pesquisadores, que criaram grupos de discussão e observaram o cotidiano das escolas. Coordenadora do estudo, a ginecologista Magda Chinaglia participou das entrevistas em São Paulo. E diz que uma das principais constatações é a de que a Educação sexual é deixada de lado. “Ela não existe, embora seja uma política bem antiga. Quando existe, está focada no lado biológico. A sexualidade não é discutida e os professores não se sentem preparados.”
Magda conta que casos de homofobia foram presenciados até mesmo pelos pesquisadores. Uma garota da capital contou o que ouviu dos colegas: “Eles vieram pra mim e disseram: ‘Você não é bem-vinda aqui, nós não te aceitamos. Além de ser baiana, você ainda é sapatona?’ Falaram um monte de coisas”. Um outro estudante disse que seu amigo teve de sair da escola por causa do preconceito.
Apesar dos relatos dos jovens, as autoridades escolares afirmaram, quando questionadas, não terem conhecimento dos casos. “Diretores e professores não veem as situações mais graves”, diz Magda. Segundo ela, a homofobia não é enxergada porque está naturalizada e foi incorporada ao cotidiano escolar. No documento, os próprios professores reconhecem que não sabem lidar com o problema e um deles diz que a “escola reza” para que “essas coisas” não aconteçam, “para não ter de resolver”. Outro admite: “Não estamos ainda aptos para falar disso. O que a gente fala é o superficial”. Eles também apontam os pais, que desaprovam aulas de Educação sexual, como empecilho.
“Cada situação dessas mexe comigo. São coisas que vivi na escola, senti na pele. Surpreende a professora falar que, se você é homossexual, é democracia a outra pessoa o xingar”, diz o educador Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Ele se refere ao jovem gaúcho de 15 anos que, no mês passado, foi agredido na saída da aula após assumir ser gay. Ao perguntar para a professora por que não interferia, ouviu que “os outros tinham direito de se expressar daquela forma.”
Reis estudou a homofobia nas escolas em seu doutorado. “Temos várias políticas públicas estabelecidas no âmbito nacional e estadual, mas não estão chegando às escolas”, diz. A conclusão de seu estudo é semelhante àquela indicada pela Reprolatina: até existem professores sensibilizados para o tema, mas falta capacitação para que aprendam a lidar com o problema.
Fonte: Jornal da Tarde (SP)
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