quarta-feira, 11 de abril de 2012

O deserto das letras

O brasileiro lê em média quatro livros por ano, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada na semana passada pelo Instituto do Livro. As razões para esse quadro desolador são fartamente conhecidas — baixa qualidade da Educação, tradição oral na cultura brasileira, preços proibitivos dos livros, apelo da tecnologia, etc. — e permanecem intocadas por gerações.
A pesquisa sobre nossos parcos hábitos de leitura se associa a outro dado relevante, mais antigo, para diagnosticar a delicada situação nacional. Segundo informações publicadas em 2010, o país ocupa a 88ª posição no Índice de Desenvolvimento de Educação para Todos, ranking elaborado pela Unesco a fim de medir a capacidade e o compromisso das nações com o trabalho desenvolvido nas escolas. A sexta economia mundial está em posição inferior ao Equador, à Bolívia e ao Paraguai; e muito longe de Argentina, Uruguai e Chile, para ficar apenas na América do Sul.
Mais grave do que analisar os antecedentes históricos e fazer estudos comparativos, porém, é verificar a perspectiva do problema. A pouca intimidade do brasileiro com o conhecimento guardado nos livros projeta situações preocupantes. O grave deficit educacional acarreta dificuldades nas escolas, no mercado de trabalho, na economia internacional, nas políticas públicas, no exercício da cidadania. Enquanto o país mantiver indicadores tão precários na formação intelectual dos brasileiros, encontraremos sérios limites para qualificar nossa pauta de exportação, aprofundar o estudo científico, encontrar soluções inovadoras, acelerar o ritmo de crescimento, ser uma sociedade mais justa.
Estatísticas econômicas indicam que o brasileiro demonstra grande interesse em comprar carro, televisão, geladeira, celular. Não se observa, porém, a mesma voracidade no consumo de livros, instrumentos poderosos para alcançarmos um grau de desenvolvimento mais avançado. No mundo pós-industrial, apenas a valorização da leitura permitirá atravessar o deserto das letras.
Fonte: Correio Braziliense (DF)

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