Não sei o que veio primeiro, se o
gosto pela escrita ou pela leitura. O que sei é que desde pequena sempre gostei
de ler e de escrever. “Quem lê, escreve bem”, dizia um professor. Sigo a
recomendação dele ao pé da letra, com um acréscimo de conta própria: “Quem lê
mais deve escrever melhor ainda”.
Quando garota, por volta dos 10, 12
anos de idade, além das obras de Monteiro Lobato, do “Pequeno Príncipe” e
companhia, eu lia gibis de aventuras e as revistas de fotonovelas das minhas
tias. Também li, às escondidas, alguns títulos considerados proibidos, como o
famoso “Eu e o governador”, de Adelaide Carraro.
Em especial, o meu interesse era por
resumos biográficos de grandes compositores de música clássica. Estranho, mas
explicável. Tínhamos uma vizinha, professora de alemão, que não tinha filhos e
que gostava de mim. Todo domingo, ela me levava para assistir aos “Concertos
Matinais” no Teatro Municipal de São Paulo. Eu adorava o passeio, a orquestra,
a grandiosidade do teatro, e queria saber mais sobre quem tinha criado aquelas
músicas.
Nunca quis aprender a tocar nenhum
instrumento. Lembrando daquela época, agora sei: minha curiosidade era
puramente “jornalística”.
Despertar para a leitura
Em 18 de abril comemoramos o Dia Nacional do Livro Infantil, em alusão ao
nascimento de Monteiro Lobato - o grande mestre da literatura infantil
brasileira – em 1882. Através de seus personagens no “Sítio do Pica-Pau
Amarelo”, ninguém melhor do que ele demonstrou como a curiosidade ajuda a
aprender e, principalmente, a gostar de aprender.
Os livros infantis de Lobato também
enaltecem a figura do “instrutor”, seja ele um “sabugo de milho”, seja uma
“dona Benta”, ou uma “tia Nastácia”. É a orientação segura que nutre a
curiosidade infantil e ajuda a criança a despertar para a leitura.
O Instituto Pró-Livro (IPL),
associação criada e mantida por entidades do mercado editorial, lançou em 28 de
março passado, em Brasília, a terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura
no Brasil. O estudo foi realizado em 2011 com 5.000 entrevistados de 315 municípios
de todos os estados do país, além do Distrito Federal.
A pesquisa está disponível para
leitura no site do IPL (www.prolivro.org.br) e confirma algumas das minhas
certezas. Professores, mães e pais (nesta ordem) são as pessoas que mais
influenciam uma pessoa a ler. O fato de os pais (mães e pais) terem uma base
escolar também é significativo, porque eles podem ler para os filhos, comentar
as histórias e motivar as crianças para os temas dos livros.
A parte triste da pesquisa, pelo
menos para mim, é a que revela que em média o brasileiro lê quatro livros por
ano. Dos quatro, apenas dois são lidos do começo ao fim, ou seja, de fato, ele
lê apenas dois livros por ano.
Felizmente, a grande maioria dos
participantes desse estudo afirmou que a leitura é muito importante, porque
“ler bastante pode levar uma pessoa a vencer na vida e melhorar a sua condição
socioeconômica”.
Primeiro idioma
No mercado de trabalho, a questão da qualificação é grave. Os jovens à procura
de estágio ou emprego têm uma preocupação válida e necessária pelo aprendizado
de um segundo idioma. Acabam se esquecendo que, antes de tudo, precisam do
primeiro, nossa rica e difícil língua portuguesa.
O Núcleo Brasileiro de Estágios
(Nube) divulgou resultados de pesquisa que realizou com 6.716 estudantes e que
mostram a falta que faz o hábito de leitura, a começar pelo desempenho dos
candidatos em entrevistas.
Segundo a pesquisa do Nube, na área
de Jornalismo, cerca de 50% dos jovens cometem erros acima do limite aceitável
em testes ortográficos. Alunos de Pedagogia chegam a 50% e os de Matemática a
até 67%. Nos segmentos das Artes e Design, o índice alcança 71%. No caminho
contrário, mas bem-sucedido, 75% dos estudantes de Engenharia e 83% dos de
Direito têm êxito.
Ler não ajuda apenas a escrever, mas
a compreender melhor o que se passa ao nosso redor e a expressar o que pensamos
de maneira mais clara, sempre.
Lucila Cano, in: UOL Educação
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