Assunto principal da capa, o início da série de reportagens De Volta à Escola, neste domingo, tem múltiplos significados, mas o primordial deles precisa ficar escancarado desde já para o leitor: o aluno. Sim, simples assim, como a junção do artigo “o” ao substantivo “aluno”.
Não tenho receio de admitir que nós, repórteres e editores, temos o vezo de esquecer dos estudantes quando transformamos o tema Educação em pauta jornalística. Desvirtuada pelo hábito, pela pujança das corporações sindicais e pelo desprezo dos governos, a imprensa cumpre um desserviço ao desviar o foco da perspectiva da razão de ser do ensino.
Preparem-se. De Volta à Escola tocará o coração e a memória dos leitores. Mas só cumprirá de todo seu papel se estiver alinhada às diretrizes editoriais do Grupo RBS, do qual faz parte ZH:
“O aluno e seu aprendizado são o eixo central das discussões sobre Educação: é para o estudante que a atuação de governos, sociedade, comunidades e professores deve ser orientada”.
Inspirada numa série semelhante produzida na Polônia e trazida na bagagem da editora especial Deca Soares no início do ano, De Volta à Escola mandou sete grifes de ZH para a sala de aula, onde deram seus primeiros passos na vida. O resultado é impactante, como pode ser avaliado já na edição de hoje com o relato da colunista Fernanda Zaffari:
“O mais interessante da profissão de jornalista é poder acompanhar outras realidades. E eu vivi uma bem diferente, quase 30 anos depois, assistindo a duas tardes de aula, vivendo a rotina da gurizada de sete anos”.
Colocada por coincidência pela direção do Colégio Rosário, de Porto Alegre, numa sala de aula que foi a dela durante a pré-escola, Fernanda sentiu-se ainda mais à vontade para fazer todos os exercícios da turma, lanchar com a garotada, curtir o recreio e, acreditem, fazer o tema de casa.
– Foi gostoso ver as mudanças que ocorreram no colégio e, desta vez, poder tomar um cafezinho na ilustre Sala dos professores – conta.
O cartunista Iotti, tema da reportagem de terça-feira, não visitou a Sala dos professores do Cristóvão de Mendoza, de Caxias do Sul, mas se sentiu em um túnel do tempo ao retornar aos lugares onde estudou, fez “muita bagunça” e submeteu seus primeiros desenhos aos olhares de colegas, professores e... disciplinadores, quando desenhava na classe ou nas paredes. Mas o que mais o impactou foi quando entrou de novo na “mágica biblioteca, o coração da Escola”.
Ao longo dos próximos sete dias, culminando com o Dia do professor, no próximo sábado, o leitor poderá acompanhar a sensação também de Ricardo “Kadão” Chaves, Carol Bensimon, Roger Lerina, do professor e colunista Luís Augusto Fischer e do editor Nilson Souza, muito feliz ao resumir seu retorno à Dr. Ferreira de Abreu: “Voltei ao tempo em que a gente aprende a construir amizades”.
Espero que a série de sete dias tenha esse dom, no leitor, como teve para mim. A cada relato que lia, eu me transportava a Erechim e pinçava lembranças da Escola Normal José Bonifácio – para nós, era o JB –, como das professoras de português Wanda e Valmir, culpadas pelo meu modo de escrever, ou da professora Alaydes, uma das responsáveis por seu pupilo ter virado jornalista.
Sempre com um jornal em cima de sua mesa, Alaydes me estimulava a estudar muito em casa para, na aula, terminar antes de meus colegas minhas lições de História. “Sem ter o que fazer”, pedia licença a ela para “espiar o jornal”, o que ela só concedia depois de se certificar, com ar solene:
– Já fez tudo?
– Sim, professora?
– Não tens mais nada a aprender, então?
– Tenho, mas posso dar uma olhadinha no seu jornal?
– Mas o senhor (era assim que ela a nós se dirigia) já sabe inclusive escrever Washington Luís?
– Com W, sh e g antes do t, professora.
– E o Luís?
– Com s e acento no í.
– Tá bom. Pega.
Nosso período de aluno define o que seremos na vida. Em todos os sentidos.
Zero Hora (RS)
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