sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Reprovações em alta no ensino médio

A agonia de perder um ano de escola e ter de rever todas as matérias se tornou rotina na vida de boa parte dos estudantes do ensino médio do Distrito Federal.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no censo escolar do Ministério da Educação de 2010, mostram que o DF está entre as três unidades da Federação com maior número de repetentes do país.
Entre os matriculados no ensino médio das escolas públicas e privadas, 18,6% não atingem médias para concluir a série. Número inferior foi constatado somente nos estados do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro (veja quadro). O índice brasileiro é de 12,5%.
No ensino fundamental, esses índices caem consideravelmente. Ao contrário dos vestibulandos, somente 10,1% dos estudantes do 1º ao 9º não conseguem passar de uma série para outra. A média nacional é de 10,3%, o que deixa o DF em 16º lugar no ranking nacional.
O desempenho das crianças e dos adolescentes matriculados nas escolas públicas contribui para o aumento da média da capital. No ensino médio, são 13,7% de reprovados, e, no fundamental, 12,4%. Nas unidades particulares, esses índices são reduzidos a 4,3% e 3%, respectivamente, índices encontrados em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a França e a Inglaterra.
Embora em muitos casos os pais associem a repetência à falta de esforço dos filhos, especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que o problema pode ter outras explicações. A metodologia de ensino, a qualidade das instituições e a formação dos professores são algumas das hipóteses apontadas.
De acordo com o consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) Célio da Cunha, a discrepância entre os primeiros anos de estudo e os da conclusão da Educação básica deve-se aos diferentes graus de investimento e aos métodos de ensino utilizados nos dois níveis.
“Dos anos 1990 até os dias de hoje, o Brasil iniciou uma política de melhoria do ensino fundamental com maior assistência pedagógica aos estudantes e verbas, como as oriundas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Enquanto isso, o ensino médio deixou de evoluir”, lamenta.
Para Cunha, o currículo não atende as necessidades dos jovens que vivem cercados pelas ferramentas virtuais e recebem, em tempo real, informações sobre os mais variados temas. “As aulas não têm sido atraentes para os alunos. É um método arcaico. Estamos lidando com novas mentes, sem alterar as formas de ensinar”, complementou.
Para que o número de repetências caia, o especialista sugere a criação de um método de ensino específico para a juventude, com disciplinas interligadas e capazes de dar ao estudante uma ideia do todo, e não somente da fragmentação explicada por cada professor.

Continuidade
O programa dos últimos anos de estudo deveria dar continuidade ao volume de conteúdo exigido no ensino fundamental. Os dados do IBGE mostram que 25,5% das reprovações acontecem justamente na fase de transição, ou seja, no 1º ano do ensino médio.
“Já existe a pressão do vestibular, além das mudanças de fase de vida. E, logo nesse início, o volume de matérias é muito extenso. Isso deveria mudar”, acredita o professor da Faculdade deEducação da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Augusto de Medeiros.
A estudante Magali Cristina Sousa, 17 anos, sentiu o aumento de exigência de um período para o outro. Matriculada no Centro Educacional Setor Leste, na 611 Sul, ela cursa, pela segunda vez, o 1º ano do ensino médio e ainda não sabe se será aprovada. A jovem tem dificuldades, principalmente, em matemática e história.
“Quando passamos do ensino fundamental para o médio, tudo muda muito, e de uma vez: a quantidade de matérias, o ritmo dos professores e as responsabilidades dos alunos. Fica difícil acompanhar e entender os assuntos. Eu me esforço”, diz.
Ela admite trabalhar os pontos fracos, mas acredita que a situação seria diferente se o currículo escolar fosse readaptado. “O ensino poderia ser melhor se tivéssemos mais tempo para nos adaptar às mudanças que ocorrem”, avalia.
Colegas de sala de Magali, Bruna Carolina Ribeiro e Ludmylla Florencio de Santana, ambas com 16 anos, também enfrentam dificuldades às vésperas do término do ano letivo. Bruna diz que ainda se sente um pouco perdida.
A justificativa é a mesma da amiga. “Não estava acostumada com o ritmo e a quantidade de matérias. É muito puxado. Devia ser mais devagar. Tenho medo de não conseguir”, desabafa.
Já Ludmylla tem mais facilidade, mas, mesmo assim, se queixa do “tranco” que sentiu ao entrar no 1º ano. “Na oitava série, eles chegam a falar sobre os assuntos que veremos. Mas é muito pouco. Não chegamos preparados. Acho que um período de adaptação seria muito importante”, reflete.

Correio Braziliense (DF)

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