domingo, 9 de outubro de 2011

Violência, não

O avanço da violência nas escolas públicas e particulares de Minas registrado pelas estatísticas e sentido na carne por professores e alunos mobiliza Ministério Público, Judiciário, Legislativo, sindicatos e educadores em busca de soluções para a paz.
O número de ocorrências cresceu 140% (82 para 190) nas escolas no primeiro semestre deste ano comparado a igual período de 2010, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social.
Em pouco mais de um mês, um menino de 11 anos foi flagrado com revólver na instituição onde estuda e um adolescente tentou matar a tiros um auxiliar de serviços em BH. E outro estudante agrediu uma diretora em Contagem. Há menos de um ano, um professor foi assassinado por um estudante na capital.
Enquanto o Ministério Público discute com prefeituras das cidades polo de Minas a assinatura de termos de ajustamento de conduta (TAC) para combater o bullying, outro grave problema nas escolas, o Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar de Minas Gerais (Saae-MG) e o Sindicato dos Professores do Estado de Minas (Sinpro) se juntam ao Ministério Público e à Justiça para mapear a violência nos colégios dessas cidades polo.
“Nós e o Sinpro procuramos o Ministério Público e o juiz Antônio Gomes de Vasconcelos depois da morte do professor de Educação física. O próximo passo agora será a abertura de audiências públicas nessas cidades para discutir soluções e medidas para inibir a violência nas escolas, seja contra alunos, professores e funcionários”, informa o presidente do Saae, Carlúcio Borges Araújo.
Ele considera que a violência se manifesta de formas diferentes nas escolas. “Na pública, a violência física é mais presente. Na particular há violência psicológica aplicada pelo alto poder aquisitivo e as ameaças à carreira dos funcionários. Isso os (trabalhadores da Educação) deixa tensos, mas, como não há registro do desgaste, temem até o afastamento pelo INSS”, diz.
Já o Sinpro lançará campanha na segunda-feira mostrando situações vivenciadas pelos docentes. Para tentar solucionar essa difícil equação de combate à violência, a Assembleia Legislativa sediará o Fórum Técnico de Segurança nas Escolas, que, depois de enumerar propostas no interior, vem discutir a questão na capital.
Para o professor da Faculdade de Educação da UFMG Walter Marques, a violência na escola é reflexo da própria sociedade. Ele afirma que o modelo “salvacionista” da Educação está falido e que a escola sozinha não conseguirá resolver estes problemas.
“Os conflitos sociais vão eclodir na escola, que há muito tempo está isolada da sociedade e da família. O professor hoje é pai, psicólogo, assistente social, enfermeiro. A escola assumiu uma função que não é dela e precisa voltar a compartilhar as responsabilidades”, afirma o professor.
“A pesquisadora da violência Helena Abramo, diz que a violência ocorre quando não se consegue conversar. O que falta na escola é diálogo. Quanto mais as escolas subirem seus muros, quanto mais as famílias se isolarem em condomínios, cercas elétricas e carros blindados, mais violência vai existir. É um trabalho de comprometimento e integração”, completa.
Professora da PUC Minas, Sandra Tosta ressalta outros aspectos para um índice de violência que chega a 26%, de acordo com pesquisa que ela mesma desenvolveu em escolas particulares entre 2009 e 2010: o perfil dos alunos e a falta de valorização dos professores.
Segundo ela, a Educação precisa de políticas públicas sérias. “Não podemos pensar que o problema é só da escola. Os profissionais são profundamente desvalorizados e desqualificados e, com isso, perdem toda a sua eficácia como educador. Outra questão é o perfil do aluno que chega às escolas sem limites, com postura da própria família. A Educação começa em casa, mas as famílias entregaram esse dever à escola. Assim, o professor vive situação de fragilidade e as causas de seu adoecimento são violência, estresse e relações tensas com a gestão escolar por causa das ameaças de desemprego”.
O Sinpro também ouviu 2.500 educadores em todo o estado em 2009 para avaliar o problema. O estudo indica que 41% dos entrevistados já sofreram agressão. A maior parte (27%) foi vítima de ameaças, assédio moral ou violência psicológica e cerca de 5%dos professores denunciaram ter sofrido violência física. Mas o professor não é o único alvo. 
Entre os estudantes, o bullying é o que mais preocupa. De acordo com dados do IBGE, três em cada 10 estudantes brasileiros, matriculados no último ano do ensino fundamental, relatam ter sido vítimas dessa humilhação. E Minas Gerais foi reprovado, pois BH é a segunda capital com o maior índice (35,3%) desses atos de violência, atrás apenas de Brasília, com 35,6%.
Estado de Minas (MG)

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