terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ensino médio deve ser mais flexível, dizem especialistas

A necessidade de revisão do currículo do ensino médio no país é unanimidade entre educadores e especialistas em Educação. Neste ano, o consenso também chegou ao governo federal, que, em maio, aprovou novas diretrizes curriculares para o grau.
As mudanças propostas, porém, ainda são vistas como insuficientes e não devem mudar o panorama dos principais problemas que atingem esta fase de ensino, – entre eles a evasão escolar e a falta de encaminhamento ao mercado de trabalho.
Para o presidente do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE), Marcos Ma­­ga­lhães, o ponto principal dessa reforma deve ser na função de despertar o interesse do aluno, uma vez que seu perfil mudou e exige atualizações.
“Certamente, o currículo carece de uma revisão pensando em como atender esse jovem que sai do ensino fundamental cheio de demandas e com um acesso a informações muito maior, com o uso constante da internet”, afirma Magalhães.
Ele deixa claro, no entanto, que o alto nível de informação desses jovens não reflete na necessidade de um número exagerado de disciplinas.
Pelo contrário: a “pluralidade obrigatória” de matérias seria o primeiro equívoco do currículo brasileiro de ensino médio. “O jovem acaba aprendendo os conteúdos de forma muito superficial e ainda sendo obrigado a passar por aulas que ele não quer ter”, diz o especialista. 
Seria o caráter “enciclopédico” do currículo, como define a gerente de assuntos estratégicos do Instituto Unibanco, Camila Iwasaki. “Ele ainda traz uma infinidade de conteúdos, que acabam sendo pouco atrativos. E isso faz com que a escola fique menos interessante, não atendendo à demanda do público voltado a ele”, defende Camila. 
Este é o ponto definitivo, de acordo com a professora do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Taís Tavares. Segundo ela, o jovem não encontra na escola um lugar onde “seus questionamentos são respondidos”.
“Com isso, além da falta de identidade com o ensino, o aluno ainda não avança em algumas questões básicas, assim como não tem uma orientação para seguir sua formação”, afirma.
De acordo com ela, esta orientação seria papel do professor – o qual também necessitaria passar por uma atualização, bem como a infraestrutura das escolas. Com isso, e avançando no combate à evasão, seria possível dar um encaminhamento melhor desses jovens não apenas à graduação, mas à formação pessoal, abrindo possibilidades de carreiras e demais escolhas.
No entanto, não existiria um modelo ideal para isso, movendo todo o modelo para o ensino técnico ou para o profissionalizante, por exemplo. Pelo contrário: a aposta, mais uma vez, deve ser na flexibilidade e nas opções de cada aluno. “Hoje, está mais do que na hora de olhar a demanda de cada jovem e, na medida do possível, buscar contemplá-la”, afirma Camila, do Instituto Unibanco.

Entrevista - Marcos Magalhães, presidente do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE)
A evasão escolar no período do ensino médio anda é alta, chegando a até 40% dos alunos – na diferença entre os jovens que se graduam neste nível e os que concluíram o ensino fundamental. Marcos Magalhães, presidente do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE), comenta algumas possibilidade para alterar este quadro. Confira alguns trechos da entrevista concedida para a Gazeta do Povo:

A situação de evasão do ensino médio é preocupante. Quais as principais causas disso?
Pesquisas recentes mostram que a escola é chata, não agrega nada e está desvinculada da realidade. É basicamente um problema qualitativo. E isso faz com que ela fique desinteressante tanto no dia a dia das aulas, quanto no exercício do jovem pensar em seu futuro.

E quais mudanças no currículo do ensino médio poderiam vir para evitar este quadro?
Os estudos mostram que o maior fator de saída dos jovens do ensino médio é a falta de interesse. O maior equivoco brasileiro é ter um modelo só para todos os alunos, o que não existe em lugar nenhum no mundo. Por isso, o currículo precisa ir além, precisa especificar mais as disciplinas e encontrar o equilíbrio entre quais conteúdos e matérias o jovem deve dominar e o que mais pode ser interessante para sua dedicação.

E a questão sempre lembrada dos jovens que abandonam a escola devido ao trabalho? Ela tem influência ainda hoje?
Este acaba sendo um falso dilema. A pressão da família para que o jovem abandone a escola em razão do trabalho acontece, geralmente, quando o aluno repete o ano uma ou até seguidas vezes. Já quando ele vai bem, avança nas séries de acordo com a sua idade, sendo aprovado e aprendendo, a estória é outra. A família começa a ver com outras perspectivas, como uma oportunidade de futuro.

Proposições
Veja os principais pontos propostos pelas diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE) e, em contraposição, o que os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo indicam como ideais.
CNE
• Flexibilização do currículo;
• Possibilidade de aumento na carga horária do ensino médio, o que ficará a cargo das escolas;
• Definição de quatro eixos básicos para o ensino neste nível: trabalho, ciência, tecnologia e cultura;
• Possibilidade de alongar a duração da fase, que poderia passar dos atuais três para quatro anos.

Especialistas:
• Aulas em tempo integral para todo o ensino médio – jornadas de sete ou oito horas.
• Definição de disciplinas eletivas que já direcionariam os alunos às áreas de interesse na carreira.
• Acompanhamento de tutores, voltados ao auxílio e ajuda dos alunos no cotidiano escolar e na tomada de decisões ligadas à carreira.
• Capacitação dos professores e adequação da infraestrutura das escolas.
Gazeta do Povo (PR)

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