Ao longo dos anos, o Enem foi ganhando diferentes funções- assumidas, como selecionar alunos para universidades, e não assumidas, como ser critério de escolha de escolas de qualidade para as famílias.
Esse é um lado bem perverso do exame, porque existe a pretensão de analisar todo o trabalho de um colégio com uma prova apenas, que obviamente não capta diversos aspectos da complexidade da formação dos jovens.
Esse contexto caracteriza uma verdadeira guerra, porque as escolas inverteram o processo: em vez de pensarem na formação dos alunos e o Enem retratar isso como consequência, elas trabalham com foco no exame com a intenção de usar isso como propaganda para captar mais alunos.
É uma inversão de valores,em que os interesses particulares das instituições que aparecem com o ranking do Enem acabam se sobressaindo em relação aos assuntos pedagógicos.
Não tenho dúvidas de que entramos numa fase de vale-tudo, em que a prova virou um instrumento de marketing. Lamento que a educação esteja nesse jogo de interesses, que traz, a reboque, estratégias impensáveis para que a escola se dê bem no rankings, como estimular a participação de uns e não de outros, separar estudantes em salas de acordo com seu desempenho e dar treinamento específico para a prova, entre outros. As escolas acabam funcionando em função do Enem, quando deveriam funcionar em função do aluno.
Essas escolas passam para seus estudantes a mensagem de que o que vale é o produto final, como se os fins justificassem os meios e de que, o que vale, acima de tudo, é o resultado. Mas o que deveríamos estar ensinando para os nossos alunos é que o caminho leva à vitória e o processo leva ao produto.Mas quando temos uma disputa desenfreada como essa, parece que o caminho pouco importa.
Silvia Colello, in: O Estado de São Paulo (SP)
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