quinta-feira, 14 de julho de 2011

75 mil estudantes de seis anos são reprovados no país

Apesar de recomendações de órgãos federais, 75 mil crianças do primeiro ano do ensino fundamental foram reprovadas ano passado, o que representa 2,6% dos alunos na faixa dos seis anos.
Tanto o Ministério da Educação quanto o Conselho Nacional de Educação defendem que a reprovação ocorra apenas a partir do terceiro ano. O principal temor é que a criança repetente nessa idade tenha dificuldades para o restante da vida escolar.
Formalmente, o conselho aprovou um parecer no fim do ano passado que recomenda a retenção apenas a partir do terceiro ano.
Mas, publicamente, a ideia é defendida desde ao menos o início de 2010, quando a Folha revelou que 79 mil crianças de seis anos haviam sido reprovadas em 2008 (3,5% das matrículas).
Mesmo com a aprovação do parecer -homologado (confirmado) pelo Ministério da Educação-, as redes têm liberdade para não segui-lo.
"Um aluno de seis anos é reprovado por quê? Por que ele não aprendeu? Não tem cabimento isso. No Brasil, a lógica não é verificar por que o aluno não foi ensinado, mas de culpabilizá-lo por não ter aprendido", disse Clarilza Prado de Sousa, professora de psicologia da Educação da PUC-SP.
Secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar concorda que a reprovação nessa idade é danosa, mas afirma que, "considerando-se os índices de reprovação que o país já teve, 2,6% é um índice aceitável; mas claro que queremos um índice zero".
Segundo a secretária, a pasta tem feito "vários trabalhos com as escolas sobre alfabetização e sobre como organizar a escola para receber alunos de seis anos".

EXPLICAÇÕES
A Secretaria de Educação do Ceará disse que a reprovação no primeiro ano foi de 100% em Tamboril porque dois alunos de uma escola indígena não tiveram "resultados satisfatórios". A pasta ressalta que a metodologia dessa unidade é diferente do restante da rede estadual.
A Secretaria de Educação da Paraíba afirmou que houve retenção de 100% em Caturité porque uma escola rural do município, que não faz parte da rede regular, teve problemas estruturais e com professores -por isso, não conseguiu terminar o ano letivo. Os três alunos desta série foram transferidos para a rede regular. 

REPETÊNCIA CAI LENTAMENTE E SEGUE EM PATAMAR ALTO
A repetência vem caindo no país, mas os indicadores do Brasil ainda são piores que os de países africanos. No ensino fundamental, a proporção de alunos retidos caiu de 12,1% em 2007 para 10,3% no ano passado. A taxa é superior à de Quênia (6%), Butão (7%) e Cabo Verde (10%). Na Alemanha e na Finlândia, ela é de 1%.
No ensino médio, a queda é mais lenta: foi de 12,7% para 12,5% no mesmo período. Pesquisas mostram que um estudante repetente tende a ter mais dificuldades em toda a sua vida escolar.
"São índices altíssimos. E é preocupante porque a reprovação é o primeiro passo para o abandono", afirma Mozart Neves, do Conselho Nacional de Educação e da ONG Todos Pela Educação.
Segunda maior taxa de reprovação no ensino médio (21,6%), a Secretaria de Educação do RS considera suas taxas "lamentáveis".
O diretor-geral adjunto da pasta, José Thadeu de Almeida, diz que o resultado não está vinculado às políticas do atual governo e que a pasta fará alterações no ensino médio -como implementação de currículo mais próximo ao mercado de trabalho. Maior taxa do país no médio, o DF disse precisar de mais tempo para analisar os dados para se pronunciar.
Folha de São Paulo (SP)

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