No último dia 6, este espaço publicou um artigo de Jorge Barcellos, estudante da UFRGS, acerca da minha pessoa e de ideias por mim defendidas ("A letra escarlate das escolas", publicado neste blog em 6/7). Foi um texto inculto, empolado, mentiroso e mal-intencionado, mas aproveito sua deixa para aclarar alguns aspectos de medida sugerida por mim: a afixação de placa com o Ideb de cada escola em sua porta de entrada.
O autor começa seu texto dizendo que a proposta seria uma “Letra Escarlate das Escolas”. A referida história – que não é um filme com Demi Moore, mas um dos grandes clássicos da literatura americana, escrito por Nathaniel Hawthorne em 1850 – fala sobre as humilhações impostas a uma adúltera.
Ao declarar que a minha ideia é de causar vergonha às escolas, o autor presume que as escolas cometem pecados e que todas as escolas se envergonhariam de ter sua nota divulgada. É absurdo. Os problemas das nossas escolas não são razão para vergonha: são problemas de má competência profissional, sem nenhuma conotação moral, que podem e devem ser resolvidos com mais e melhor preparo e trabalho.
Ademais, temos muitas escolas excelentes, que precisam ser divulgadas, cujos profissionais precisam ser reconhecidos, e espero que a divulgação pública de seus feitos também faça com que as escolas com dificuldades saibam onde podem procurar ajuda e orientação.
Prossegue o articulista, com seu vocabulário empolado e cheio de erros (“subjaz a [sic] discussão a definição da lógica de mercado como portador [sic] da racionalidade sociopolítica...”), querendo dizer que eu defendo o encolhimento do espaço público em Educação e a ampliação do espaço privado.
No triste pensar desse senhor, um economista tem de ser privatizador. Que fique claro: não sou favorável à privatização da Educação. Deveria ficar óbvio que, ao defender a exibição pública de um dado relevante sobre uma instituição pública, o objetivo da proposta é de justamente fomentar o debate público e trazer a ele mais gente, a sociedade como um todo.
Termina o articulista dizendo que discuto os critérios da qualidade escolar “como se fossem os mesmos da produtividade capitalista – quantidade, tempo e custo”. É uma mentira grosseira. Jamais disse ou escrevi isso. Minha ideia é justamente de enfatizar a qualidade das escolas, pois é isso que o Ideb mede, sendo composto de um índice que congrega o aprendizado do aluno e sua aprovação ao fim do ano.
O autor pensa demais no bem-estar dos professores e insuficientemente naquilo que importa, que é o aprendizado dos alunos. Preocupa-se em como continuar escondendo da sociedade que muitas escolas estão fracassando, e não com o que importa, que é mudar a qualidade dessa escola.
Investe na opacidade, para fazer-nos crer que todas as escolas são iguais e seus problemas são sistêmicos, quando é demonstrável, pelo Ideb, que a iniciativa e competência de alguns profissionais podem trazer grandes resultados para seus alunos, mesmo em comunidades carentes. Imagina que a consciência das dificuldades fará com que professores e alunos envergonhem-se e desistam, como se fossem frouxos.
Não creio. O Ideb se renova a cada dois anos, e há muito que professores, pais e alunos podem fazer para melhorar sua Educação nesse prazo. Para que o problema seja resolvido, porém, é preciso que ele seja conhecido. Hoje, a maioria da comunidade escolar desconhece a qualidade de sua escola. Ela tem o direito de saber. Enquanto empurrarmos o problema para debaixo do tapete, ele só aumentará.
Gustavo Ioschpe, in: Zero Hora (RS)
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